“É muito difícil ter impacto verdadeiro na educação sem uma visão a longo prazo”, diz especialista

18 setembro 2016 às 14h41

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Professor e economista português, Pedro Carneiro, defendeu a consistência de políticas públicas quando existe planejamento para além dos ciclos eleitorais

Larissa Quixabeira
De São Paulo
No campo da Educação, novas políticas públicas devem ser pensadas a longo prazo, visto que até mesmo os primeiros resultados de mudanças implantadas podem demorar anos para serem observados. É o que defende o economista português, professor da University College London e pesquisador no Centro de Métodos e Práticas de Microdados, Pedro Carneiro.
O especialista, um dos palestrantes do Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação pública: Impactos e Evidências, concedeu entrevista ao Jornal Opção, na qual destacou que um dos impasses mais difíceis de serem resolvidos quando o assunto é a implementação de mudanças na Educação, é a troca de governo e, com ela, a possível mudança abrupta no planejamento estratégico.
“Não me entenda mal, mas pode-se dizer que isso é um problema da democracia. Muita coisa é levada pelo ciclo político e este é um problema difícil de resolver. Como ter uma programação de políticas públicas a longo prazo? Em Cingapura, por exemplo, existe um planejamento para a área da educação para os próximos 20 anos, o que é exemplar. Sem uma visão desse tipo, é muito difícil ter um impacto verdadeiro na educação. É uma atividade de longo prazo e que gera resultados a longo prazo.”
Além disso, ele ressalta que as ações de hoje não apenas influenciarão no futuro como também sofrem influência do passado. “Se vamos implantar um programa novo, não podemos pegar um adolescente que não teve uma educação boa até agora é esperar que tudo melhore como mágica. Tudo é um processo. Não existe solução imediata.”
Para aumentar a possibilidade de acerto e promover a implementação de políticas públicas com maior margem para acertos, não existem outras alternativas a não ser a realização de escolhas bem informadas, diz Carneiro.
“É importante ter a informação para a tomada de decisão. As vezes tenho uma ideia de um programa que pode funcionar ou não. O que estamos discutindo aqui são formas rigorosas de colhimento de dados sobre o impacto do programa, para tomar decisões da melhor maneira possível. Para não gastar o recurso, que é escasso, em um programa que seja inútil.”
Para tanto, Pedro Carneiro considera fundamental uma convergência entre academia e gestão pública. “Todo mundo tem que trabalhar em conjunto. O que o pesquisador pode fazer é tentar entender as nuances de determinado contexto, fazer estudos aprofundados sobre os impactos de determinada política. É muito útil buscar novas ideias e aprender com as experiências de outros lugares, desde que se tenha lucidez no sentido de perceber as nuances que afetam o resultado final”, arrematou.
O Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação pública: Impactos e Evidências reuniu em São Paulo educadores, gestores e pesquisadores durante dois dias de debates e reflexões a respeito da gestão em Educação. O Jornal Opção acompanhou o evento, de iniciativa do Instituto Unibanco, em parceria com o Insper e o jornal Folha de S. Paulo,