De Goiás para o mundo: brasileiro bate recorde mundial e atravessa as Américas de bicicleta

08 setembro 2023 às 13h55

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Morador de Caldas Novas, em Goiás, Leandro Carlos da Silva percorreu 22.434,79 km de bicicleta e bateu um record mundial. Conhecido nas redes sociais como “Léo Pedalando pelo Mundo”, ele saiu pedalando de Prudhoe Bay, no Alasca, até Ushuaia, na Argentina, estabelecendo um novo Recorde Panamericano. Ele chegou ao Brasil na quinta-feira, 7″. Durante 95 dias eu consegui atravessar a metade do mundo. É importante dizer que a gente consegue sim realizar coisas grandiosas”, disse o recordista.
Leandro cruzou 15 países, diversos fusos horários e todas as zonas climáticas do planeta. O objetivo dele era chegar a Bahia Lapataia no Ushuaia, no extremo da América do Sul, em menos de 97 dias. O ciclista percorreu os extremos norte-sul e chegou ao seu destino após 95 dias, 16 horas e 57 minutos. Sozinho, enfrentou situações climáticas difíceis como o frio extremo no Alasca, incêndios no Canadá, ondas extremas de calor e chuvas de granizo nos Estados Unidos e México, além de problemas sociais nos países menos desenvolvidos.
Desde 2018, ele tem como rotina e estilo de vida sair pedalando pelo mundo. No dia 29 de agosto, decidiu largar tudo e sair de bike percorrendo as 27 capitais do Brasil, onde ganhou uma premiação pelo record conquistado. Em 2021, bateu um novo recorde após atravessar, em 49 dias, um percurso da América do Norte (Proudhoe Bay) à América Central (Cidade do Panamá).
Ele conta que a decisão pelo estilo de vida se deu por causa do cansaço e estresse que a rotina do dia a dia lhe trazia. “Eu fazia várias coisas ao mesmo tempo. Então, eu tava ficando louco. Trabalhava com transporte de encomendas urgentes, com transporte de pessoas também, trabalhava como Uber, e ainda trabalhava no restaurante que era da minha mãe”, contou como era a vida antes.
Leandro, de 32 anos, nasceu no Maranhão, mas mora há mais de 16 anos em Caldas Novas, no sul de Goiás. No município, que é um dos pontos turísticos mais famosos do Estado, ele trabalhava em três empregos. “Eu queria mais fugir daquela rotina maluca, daquele estresse. Fui tentar ter um dia para fugir, mas eu não imaginei que iria se tornar o meu estilo de vida, né?”, disse Leandro.
Atualmente, acumula mais de 136 mil seguidores que acompanham seu trabalho e se inspiram no seu estilo de vida. Em sua última experiência, inciada no dia 30 de maio de 2023, Léo recebeu uma surpresa diferente ao chegar no fim do destino, em Ushuaia. Quando chegou na placa que marca o fim da Rota-3, sua mãe estava esperando para recebê-lo com um abraço.

“Por volta das nove da noite cheguei no portal da cidade e fui recebido por um grupo de ciclistas brasileiros chilenos e colombianos. Foi um momento de muita alegria, dei uma olhada no gps e vi que ainda faltava uns 30km até o fim da Rota-3, respirei fundo, segurei a emoção e meti marcha. Atravessei toda a cidade, entrei numa estrada de terra, lama e gelo e foi ali que minha amada mãe estava me esperando para me fazer uma surpresa. Ela correu e me deu aquele abraço que eu tanto esperava”, disse Leandro emocionado.
Dificuldades
Ao contrário de outros recordistas, Leandro não tem um veículo que o acompanha nas viagens. É ele quem tem que levar os equipamentos, carregar os eletrônicos, lavar sua roupa e comprar sua comida. Quando não encontrava hotel nas cidades em que passava a noite, ele ficava em sua barraca de camping ou dormia ao relento nos acostamentos das rodovias do trajeto.
Enfrentou as mais diversas Intempéries e condicões extremas: frio extremo no Alasca, incêndios no Canadá, ondas extremas de calor e chuvas de granizo nos Estados Unidos e México, dificuldades nas passagens de fronteiras na América Central, falta de internet e energia elétrica na Venezuela, estradas precárias (sem asfalto) no Brasil e na Bolívia, frio e ventos contrários na Patagônia Argentina.

Léo pedalou todos os 95 dias sem pausar, fazendo em média 236,15 km por dia. No ano de 2022, tentou quebrar o record, mas acabou tendo que adiar o sonho por problemas de saúde. Nesse ano, ele foi munido de barraca de camping, e com a ajuda de especialistas, estabeleceu a rota que ia seguir antes mesmo de sair do Brasil.
Hoje ele está acostumado com as dificuldades impostas pelas aventuras, mas conta que no começo não foi fácil. “Em 2018 comecei a entrar nisso como meu trabalho, fazendo tudo com amor, dedicação, e as recompensas começaram a vir. Depois de um tempo, até que demorou, né? Foi depois de dois anos que eu comecei a ter reconhecimento. Nesses dois primeiros anos aí foram bem difíceis, porque eu vendia o almoço pra comprar a janta”, explicou o goiano de coração.
Apoio
“E aí hoje o meu trabalho é andar todo mundo que me escuta”. O ciclista conta que não conseguiria fazer nada disso sozinho. Apesar da caminhada ser solitária, sua rede de apoio é ampla e, segundo ele, não conseguiria se não fosse o apoio da família, dos amigos e dos seguidores. Por ser um homem de fé, conta que a ajuda espiritual também foi fundamental para que ele conseguisse concluir o percurso.
“Não é só mais um recorde. Eu vou tive contato com lugares diferentes, etnismos diferentes, culturas diferentes, animais diferentes, pessoas diferentes. Então a minha percepção de vida muda com toda certeza. A gente vive em um país que tem culturas diferentes dos Estados Unidos, da América Central, da Venezuela. Então, essa viagem foi uma faculdade que você vive na prática. É a melhor escola”, explicou.
Há cinco anos, o morador de Caldas Novas havia pedido dinheiro emprestado para comprar sua primeira bike. Atualmente, o ciclista conta com o apoio de sete empresas parceiras: a Blue Cycle, Ictus Bike, GRBTEC apps e sistemas, LM mining Company, Sense Bike, Swift Bicycles e Shimano Brasil.