Wilson Pollara volta a ser alvo de operação que investiga desvio de R$ 10 milhões na saúde de Goiânia
17 dezembro 2024 às 07h14
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O ex-secretário de saúde de Goiânia, Wilson Pollara, voltou a ser alvo da Polícia Civil (PC) na manhã desta terça-feira, 17, suspeito de desviar R$ 10 milhões da Saúde municipal. A corporação busca prender novamente o médico, assim como o ex-secretário municipal executivo de saúde, Quesede Ayres Henrique. Os dois foram soltos no último dia 7 depois de ficarem mais de 10 dias presos na Casa do Albergado, em Goiânia.
Até o início da manhã de hoje, três pessoas já haviam sido presas na “Operação Speedy Cash”: Marcus Vinícius Brasil Lourenço, presidente da Associação Privada Sem Fins Lucrativos (União Mais Saúde); Wander de Almeida Lourenço Filho, procurador da União Mais Saúde; e Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa de fornecimento de materiais hospitalares Mult Hosp Soluções Hospitalares LTDA.
Ao todo, a PC cumpre cinco mandados de prisão e 17 de busca e apreensão nas sedes da associação, da empresa e na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em Goiânia e Anápolis. Os alvos das ordens judiciais de busca são:
- Erika Cristina Vieira Oliveira Ximenes, Superintendente de Regulação, Avaliação e Controle da Secretaria Municipal de Saúde;
- Letícia Maria Isaac Carneiro, Diretora de Políticas Públicas Municipais de Saúde;
- Diogo Archanjo Fleury de Souza, Chefe da Advocacia Setorial da Secretaria Municipal de Saúde;
- Caroline de Castro Daud, Vice-Presidente da União Mais Saúde;
- Fabrício Brasil Lourenço, Conselheiro Administrativo da União Mais Saúde;
- Lucas Luiz de Lima Silva, Conselheiro Científico da União Mais Saúde;
- Eden Gomes Rodrigues, Conselheiro Científico da União Mais Saúde;
- Juliana Menara de Souza Marques, Conselheira Científica da União Mais Saúde.
Fraude em convênio
O crime, segundo a PC, foi praticado em 19 de junho deste ano, quando Quesede, que exercia o cargo de secretário municipal de saúde interino, recebeu uma solicitação de Marcus Vinícius, presidente da associação União Mais Saúde, para firmar um convênio voltado à aquisição de equipamentos para a prestação de serviços de saúde móvel, palestras e inserção no âmbito da saúde da acessibilidade.
O contrato também visava uma pesquisa com avaliação do microbioma intestinal em pacientes submetidos ao Transplante não mieloablativo de células-tronco Hematopoiéticas com Doença de Crohn grave e refratário aos tratamentos convencionais. De forma irregular, Quesede não só firmou o contrato, como ordenou uma nota de empenho de R$ 10 milhões à associação seis dias depois, em 25 de julho.
No dia 16 do mês seguinte, Wilson Modesto Pollara, então secretário municipal de saúde, após reassumir o referido cargo em razão da revogação de uma medida cautelar que o havia afastado, assinou o termo de convênio, também à revelia das recomendações expedidas pela Procuradoria do Município quanto a regularização do contrato.
A PC apurou que na sequência, no dia 19 de agosto, Pollara ordenou o pagamento antecipado do valor de R$ 5 milhões à associação privada, mesmo com o convênio fixado em uma prazo de vigência de 12 meses. O montante foi repassado à conta da associação privada no mesmo dia.
Em seguida, Pollara também ordenou o passasse de R$ 3,2 milhões no dia 20/08/2024, e mais R$ 1,7 milhão no dia 22/08/2024, totalizando R$ 10 milhões. O valor foi paga sem a contraprestação de qualquer serviço pela associação privada conveniada, de acordo com a investigação.
A apuração revelou ainda indícios de que o presidente da União Mais Saúde, após receber o montante milionário, teria desviado R$ 6,47 milhões para a conta da empresa Mult Hosp Soluções Hospitalares LTDA, registrada em nome de Veriddany Abrantes de Pina. Ele teria se apropriado ainda de R$ 2,65 milhões, por meio de transferências para uma conta bancária de mesma titularidade da associação.
A PC apurou ainda que Marcus Vinícius desviou R$ 875 mil em proveito do próprio irmão, Wander de Almeida Lourenço Filho, que figura como procurador da União Mais Saúde. Veriddany, por outro lado, teria transferido parte do valor recebido para a conta pessoal e, então, iniciado uma sequência de transferência de saques de valores em espécie que ultrapassaram R$ 1 milhão.
A PC acredita que o dinheiro pode ter retornado aos investigados. O grupo levou 17 dias para “pulverizar” os R$ 10 milhões, desde o inicio do pagamento até a total distribuição do dinheiro.
Operação MP
Wilson Pollara e Quesede Ayres foram soltos no último dia 7 depois de ficarem mais de 10 dias presos na Casa do Albergado, em Goiânia. Eles foram presos no dia 27 de novembro em operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO), durante a primeira ação contra irregularidades na saúde municipal.
Na ocasião, o diretor financeiro da SMS, Bruno Vianna Primo, também acabou detido temporariamente. A ação investigava pagamentos irregulares em contratos administrativos e suposta associação criminosa na pasta. O órgão chegou a afirmar que o caos na saúde era uma consequência da ação criminosa praticada pelo grupo.
Em nota, a Prefeitura de Goiânia informou que está colaborando com as investigações e que todas as informações e documentos solicitados serão e estão sendo fornecidos para esclarecer os fatos (veja nota completa abaixo). O Jornal Opção entrou em contato com as defesas de Wilson Pollara e Quesede Ayres, mas não obteve retorno. A reportagem tenta localizar as defesas dos demais alvos.
Nota Prefeitura de Goiânia
“A Prefeitura de Goiânia informa que está colaborando com as investigações da Polícia Civil de Goiás no âmbito da operação Speedy Cash.
A administração municipal destaca compromisso com a transparência e a lisura na gestão pública, assegurando que todas as informações e documentos solicitados serão e estão sendo fornecidos para esclarecer os fatos.
Caberá ao interventor adotar todas as medidas administrativas cabíveis conforme o andamento das investigações”.