Em tópicos, confira como foi Ronaldo Caiado na “Conversa Com Bial”

10 novembro 2021 às 03h24

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No programa exibido nesta madrugada, governador não poupou Bolsonaro de críticas e disse que Paulo Guedes não entendeu a máquina pública

O governador Ronaldo Caiado (DEM) foi o personagem do programa Conversa com Bial, da Rede Globo, na madrugada desta quarta-feira, 10. O apresentador destacou que a entrevista se encaixa na série com personagens políticos que serão decisivos nas eleições do próximo ano.
Pedro Bial começou destacando o papel da família Caiado por gerações na condução do destino do Estado de Goiás e lembrando que Ronaldo integra a quarta geração de governadores do clã.
Vídeos de arquivo recordaram os primeiros tempos do entrevistado na política, desde o período em que atuou forte pela criação da União Democrática Ruralista (UDR), enquanto transcorria a Assembleia Nacional Constituinte. Uma filmagem mostrou Caiado cavalgando em uma manifestação no período e também um discurso em que ele dizia que era preciso ocupar Brasília politicamente e que era preciso “arregaçar mangas” para apoiar políticos adeptos da livre iniciativa.
Instigado por Bial, Caiado não se furtou a comentar falhas do governo federal, especialmente no que dizia respeito à pandemia e ao trato sobre o isolamento social e as vacinas. “Levaram o presidente a criar o falso dilema entre economia e saúde. Não existe esse dilema. Já deixei claro que não troco vidas por votos”, respondeu. Sobrou também para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que “não entendeu a máquina pública nem o Congresso”.
Veja a seguir, por tópicos, um resumo do que o governador Ronaldo Caiado disse:
Luta classista na Constituinte
“Somos pessoas que se dedicam ao trabalho e à produção, mas também pessoas cultas, preparadas e estudiosas, que sabem debater. Precisávamos sair da retaguarda, da omissão. Não há espaço para isso. Foi um debate em que jamais do campo das ideias. Você nunca me viu insurgir sobre os Poderes constituídos nem contra decisões judiciais. Preservamos o direito de propriedade nas votações do Congresso Nacional.”
PEC dos Precatórios ou do calote?
“Por questão de renegociação de dívida do governo anterior, que tanto dilapidou as finanças do Estado, tive de assumir o que foi praticado lá atrás. Então, eu cumpro o teto de gastos, tenho de cumprir. O não pagamento dos precatórios reflete na economia dos Estados que têm a receber e contam com isso como parte do orçamento. O mesmo vale para empresários e todo cidadão comum que tenha precatórios a receber do governo. Mas tem o outro lado: a ansiedade está muito grande, pessoas com dificuldade de manter a família, inflação cada vez maior. Não dá para governar sozinho. Governo com os presidentes da Assembleia, do Tribunal de Justiça. do Ministério Público, do Tribunal de Contas, com prefeitos e deputados. Tudo isso para decidir sobre as matérias. É o diálogo sobre o que podemos ceder para atender o que é mais emergencial. ”
Congresso e corte nas próprias emendas
“Gastos discricionários podem ser colocados na mesa. O que não pode haver é queda de braço entre os Poderes, porque não sai solução convergente. Quando se transmite isso
à população, ela fica mais angustiada. O governo falha quando, em vez de buscar parceria, quer impor uma tese em relação a outra. É verdade que o mercado está nervoso e que é preciso salvar a população com o auxílio emergencial. Mas não é necessário agir com esse tipo de sentimento. Estou falando de algo que não é teórico, mas prático: reuni os Poderes para resolver a situação. Cada um abriu mão de uma parcela e hoje voltamos à vida normal. Então, o que faltou foi capacidade na construção de uma solução mais sensata.”
Condução da pandemia
“Sou muito direto. Mandetta [Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde] é extremamente preparado. Se ele tivesse continuado à frente do Ministério da Saúde, teríamos tido resultados muito melhores. Levaram o presidente a criar o falso dilema entre economia e saúde. Não existe esse dilema. Já deixei claro que não troco vidas por votos. Primeiro lugar é salvar vidas, depois temos todas as condições de superar as adversidades.”
Paulo Guedes
“Eu me dou bem com o Guedes. As pessoas para assumir um cargo como o Ministério da Economia, tem de conhecer a máquina pública. Em segundo lugar, tem de conhecer o Congresso Nacional. Também precisa lidar com os outros Poderes. A partir daí tem de ser um ministro com o pé no chão. Não adianta criar teses que não possam ser implantadas. Tem de ser objetivo, não pode perder tempo. Entre um paciente com uma fratura exposta e outro com corte na testa, não há dúvida, há no primeiro uma urgência urgentíssima. Sendo assim, o governo tem de saber priorizar e ter metas. Cumprindo as metas, vai sendo aos poucos reconhecido pela população. Paulo Guedes tem espírito público e quer trazer melhoras para o País, mas não entendeu a máquina pública nem o Congresso. Isso fez com que chegássemos ao ponto em que estamos.”
Desajuste fiscal
“Como crítico [dos governos do PT], eu mostrei para onde estava indo o dinheiro, mostrei os desvios para financiamento de outros países, sem reciprocidade para nosso povo. Além do mais, uma prática de corrupção que se tornou rotina dentro dos órgãos do governo. Agora, o que se vê é uma carência de capacidade de convencimento da classe política e, como tal, esse processo tirando do Executivo as prerrogativas de poder pautar e vencer votações sem que haja comprometimento com gastos do Estado.Isso não é bom e desfigura a liturgia dos Poderes. Sou muito conservador em relação ao que cada poder tem como importância e o respeito para com os demais, não tendo que extrapolar para ter uma votação aprovada. Isso mostra fragilidade e descompasso, dá sinais de fraqueza para cidadãos e investidores.”
União Brasil e candidatura à Presidência
“A candidatura do partido virá. Virá dentro de um cronograma, sem suprimir etapas. A primeira foi a etapa da fusão, agora tem sido a consolidação nos Estados. Consequentemente, a próxima é a apresentação de um nome para disputar as eleições nacionais em 2022.
Agora é preciso conversar política. Para a massa do bolo crescer, é preciso fermento. E esse fermento são os formadores de opinião. Eles alavancam a campanha majoritária.”
Apoio a Bolsonaro ou terceira via?
“O que eu prefiro é algo que traga credibilidade e tranquilidade ao País. Não se pode governar tensionando, não existe isso em política. Eu fui o primeiro a dar apoio ao presidente. Fui eleito em Goiás no primeiro turno e o apoiei no segundo. Mas apoio não significa submissão.
Até porque eu tenho mais idade que o presidente, sou direto, falo as coisas como devem ser ditas. Não concordo com sua política de contestar o isolamento social e a utilização de vacinas. Tenho reconhecimento pelas ações de investimento, principalmente na área logística. Reconheço o apoio por meio de verbas que vieram para educação e saúde. Não vou dizer que isso foi só por um esforço fiscal, reconheço que teve essa parcela do governo federal.
Mas ele [Bolsonaro] não se beneficiou, por criar polêmica com os governadores. Governar não é isso. Governar é convergir, consolidar pontos que são definidores de sua gestão. Quando ele [Bolsonaro] deixa que extremos prevaleçam, não percebe que a sociedade não quer isso mais.
Se ele entendesse que não faz mal algum pedir desculpas reconhecer excessos e ao mesmo tempo colocasse na mesa de negociação o presidente do Supremo, o do Congresso, da Câmara, o Ministério Público, as entidades de classe… é muito melhor que caminhar para o enfrentamento ou para provocações.”
Política externa e agronegócio
“As declarações do ex-ministro das Relações Exteriores [Ernesto Araújo] eram totalmente desastrosas para o setor. A agricultura e a pecuária foram duramente penalizadas.
O que temos de mostrar ao mundo é que temos o Código Florestal mais moderno que existe. E posso dizer, porque participei de forma ativa na construção desse código. Sabemos o que é preservação. Excessos existem, mas precisamos é de não bater de frente. Como diz o mineiro, se come mingau quente é pela beirada, pelo meio do prato se queima a boca. Estamos combatendo a fome, estamos produzindo com tecnologia. Um grão de soja hoje tem mais tecnologia do que um smartphone. Podemos ampliar ainda mais nossa produção sem assorear rios, destruir florestas. Temos o suficiente para ampliar cada vez mais a produção.”