“A gente entende pouco da Lei e estamos numa situação complicada. Se a gente sair daqui, nós vamos voltar para a rua de novo. Vamos pra onde? Só se a gente montar uma barraca lá na porta da Assembleia. E nós não estamos resistindo a nada, mas a gente só queria resolver essa situação para nós”, disse Mário Henrique, ocupante do Morro do Serrinha, em Goiânia. Até sexta-feira, 6, os moradores terão que desocupar o lugar, mas eles informaram ao Jornal Opção que não têm para onde ir e vão voltar para as ruas.

Na última sexta-feira, 29, a Comissão de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) concluiu suas atividades na área do Morro. Sob a liderança do juiz Eduardo Tavares, a comissão alcançou um acordo para a desocupação pacífica da região. Segundo o TJGO, a desocupação teria início nessa segunda-feira, 2. Os moradores do Morro, no entanto, relatam que somente uma tenda foi beneficiada pelo acordo.

A tenda Primeiro é Deus, da pastora Elizabeth Pereira Silva, recebeu uma área na saída para Inhumas, mas segundo os moradores do local, em nenhum momento as tendas entraram em contato com eles para oferecer ajuda. “Ninguém recebeu nada e ninguém veio falar com nós aqui. Ninguém participou de reunião nenhuma, nem a bispa, nem o Rafael e nenhum dos ocupantes aqui. Tiveram umas quatro reuniões, mas nós não fomos chamados para nenhuma delas”, explicou Mário.

Procurada pelo Jornal Opção, a pastora Elizabeth não quis comentar o assunto. Já a tenda Instituição Grupo Resgaste Almas para Cristo (Igrac) não aceitou o acordo, segundo o TJGO. Aqueles que não aceitaram a proposta foram inscritos no Cadastro Único para que tenham acesso aos benefícios ofertados pelo governo federal para pessoas em situação de vulnerabilidade social, como o Bolsa Família e programas voltados para emprego, saúde e documentação pessoal.

Os ocupantes relataram à reportagem que alguns foram contemplados com auxílio-aluguel e outros com o Bolsa Família, mas que em nenhum momento eles receberam nada.

Rafael Henrique, que reside no local há mais de 5 anos, estava com um papel na mão relatando os direitos humanos garantidos pela Constituição brasileira.

“Diz que nós temos direitos, né? De moradia, alimentação, vestuário, saúde, educação, trabalho e assistência social. Nós não tivemos nada disso. A única coisa que a Prefeitura enviou foi só a assistência social, que pegou os nossos nomes e nunca mais entrou em contato”, denunciou Rafael.

Dos dois grupos religiosos que atuam no local, apenas um não aceitou o acordo e, diante disso, a Polícia Militar elaborará um plano para que eles deixem a ocupação, informou o Tribunal de Justiça de Goiás.

O pastor da tenda Igrac também foi procurado pelo Jornal Opção, mas não quis comentar o assunto.

Pastor da tenda Igrac é o terceiro à direita. | Foto: Jornal Opção