Desde o ano passado, hospitais particulares de Goiânia enfrentam dificuldades para receberem pagamentos atrasados do Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia. De lá para cá, a instituição já trocou por duas vezes a Presidência e, por recomendação do Ministério Público de Goiás (MP-GO), realizou uma auditoria externa.

Nos meses de março e abril, o Hospital Infantil de Campinas (HIC) suspendeu os atendimentos, que retornaram após a troca do presidente Marcelo Teixeira pela médica Gardene Moreira, e os pagamentos de duas de oito parcelas atrasadas. Agora, a crise se agravou com o atendimento de pacientes para prevenir e tratar casos de câncer.

Eu dependo de medicação e do atendimento. Todo mês eu preciso tomar medicação e fazer exames para controle das metástases.

Ivone Teixeira, usuária do Imas

Tanto o Ingoh quanto o Hemolabor decidiram nesta semana a suspensão por tempo indeterminado dos atendimentos de pacientes do Imas. Por meio de nota, o Ingoh lamentou tomar essa decisão. “O Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) tomou a difícil decisão, no fim de Março de 2024, de suspender atendimentos a pacientes do Imas, plano de saúde dos servidores municipais de Goiânia, em razão do déficit gerado pela autarquia municipal, que já não honra com seus pagamentos há 11 meses”, cita trecho da nota.

Usuária do Imas, Ivone Teixeira da Cunha, professora municipal aposentada, faz acompanhamento de câncer há nove anos e está em um estágio paliativo. “Então, eu dependo de medicação e do atendimento. Todo mês eu preciso tomar medicação e fazer exames para controle das metástases. Mas estamos com essa dificuldade com o Imas”, denuncia. Ela revela que embora tenha essa dificuldade de atendimento, todos os meses são descontados no contracheque os valores referentes ao plano de saúde. “O salário da gente já sai com o valor descontado. Não tem explicação a falta de recursos”, questionou.

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Sobre o HIC, o diretor Márcio Coelho reporta que a presidente do Imas ficou de se reunir com o hospital semana passada, mas desmarcou a visita. Ela iria se posicionar sobre o cronograma de recebimentos. “Deveríamos ter recebido até novembro de 2023, por enquanto ela não cumpriu. Novamente, vamos tentar nos reunir na próxima semana para tentarmos solucionar esse problema. Já existe possibilidade real de nova suspensão dos atendimentos, caso não ocorra o repasse de novembro/23 nos próximos dias”, antecipou.

Com a mudança na Presidência, com pagamentos e novas promessas de acertos, os prestadores de serviços confiaram na resolução da crise. “O Hospital Infantil de Campinas, depositou confiança nessa nova gestão e devido ao surto de gripe e dengue, para voltarmos a atender o Imas, o hospital precisou contratar mais profissionais médicos para conseguir atender toda a demanda represada do Instituto”, pontuou Coelho.

De acordo com o diretor do HIC, no entanto, mesmo ciente do aumento de demanda, o Imas não cumpriu os compromissos de repasses. “Decepcionante novamente a postura do Imas”, arrematou. O Hemolabor foi procurado pela reportagem, mas não retornou aos contatos para se manifestar. O espaço segue aberto. No site do laboratório foi colado um banner que alerta os pacientes sobre a suspensão.

Só no mês de abril, o HIC realizou aproximadamente 700 consultas de urgências, 465 exames, além de internações em enfermarias, apartamentos e UTI. “Apesar de todos esses esforços, que não sabemos quando vamos receber, o cronograma mínimo continua sem ser cumprido”, lamenta Márcio Coelho.

Sede do Imas | Foto: reprodução
Sede do Imas | Foto: reprodução

Em resposta, o Imas informou que “o instituto negocia a dívida em atraso para que volte o atendimento. Diante das negociações, foi feito o pedido antecipado de suspensão temporária do contrato que vence no final deste mês. No caso do Hemolabor, o contrato venceu em dezembro do ano passado e não houve o recredenciamento do laboratório”.

O instituto acrescentou que “os tratamentos de Oncologia estão sendo realizados pelo Centro de Oncologia IHG, e os pediátricos, pelo Honcord, ambos credenciados pelo Instituto”. Com as suspensões de atendimentos em dois hospitais, Ivone teme que a unidade não conseguirá comportar o aumento da demanda.

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Auditoria da UFG

Em janeiro deste ano, após recomendação do MP-GO, a Prefeitura de Goiânia assinou convênio com a UFG para uma auditoria externa no Imas. Em fevereiro, o órgão voltou a cobrar novas informações para concluir as investigações. Na época, o Imas acumulava uma dívida de R$ 25 milhões e grande rotatividade de funcionários. Ivone contou que depois dessa intervenção, o instituto tem feito apenas recadastramento de usuários. “Nada mudou”, relata.  

Nota do Ingoh, na íntegra

O Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (INGOH) tomou a difícil decisão, no fim de Março de 2024, de suspender atendimentos a pacientes do IMAS, plano de saúde dos servidores municipais de Goiânia, em razão do déficit gerado pela autarquia municipal, que já não honra com seus pagamentos há 11 meses. O último pagamento que o INGOH recebeu foi referente aos serviços prestados em abril de 2023.

O INGOH está, há quase um ano, tirando do próprio caixa para manter a compra de medicamentos, que possuem tecnologia avançada e são de alto custo, mas tem recursos limitados e esses se esgotaram. A organização fica entristecida com isso, pois sabe que um vínculo de confiança e a relação médico-paciente-instituição não são construídos de um dia para o outro.

Ademais, antes de adotar essa dura medida, o INGOH, na gestão anterior do IMAS, tentou insistentemente contato e acordo com a autarquia municipal, mas não obteve sucesso.

A nova gestão reabriu o diálogo, porém o cenário ainda é indefinido.

O INGOH reforça seu compromisso com a população e lamenta que forçosamente ficou impossibilitado de dar continuidade aos cuidados de 131 pessoas que estavam em tratamento de câncer.  Os recursos para a compra dos medicamentos destinados aos tratamentos no mês de abril se esgotaram por falta de pagamento.

Por fim, a instituição ressalta que o impacto social da suspensão do atendimento é incalculável, pois são pessoas que já têm muitas dores: físicas, emocionais, familiares, espirituais… a última coisa que deveriam, nesse momento, era sentir a dor de ter quebrada a esperança que depositam em seus médicos, enfermeiras e em todos os profissionais da saúde envolvidos no cuidado, e também na nossa instituição.

Por isso, o INGOH segue de portas abertas para o diálogo sério, saudável e responsável com a autarquia municipal!

Goiânia, 10 de maio de 2023
Assessoria de Comunicação | INGOH

Nota do Imas, na íntegra

O Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (IMAS) informa que os tratamentos de Oncologia estão sendo realizados pelo Centro de Oncologia IHG, e os pediátricos, pelo Honcord, ambos credenciados pelo Instituto.

Em relação ao INGOH, o instituto negocia a dívida em atraso para que volte o atendimento. Diante das negociações, foi feito o pedido antecipado de suspensão temporária do contrato que vence no final deste mês. No caso do Hemolabor, o contrato venceu em dezembro do ano passado e não houve o recredenciamento do laboratório.

A atual gestão do IMAS vem trabalhando com transparência e seriedade para encontrar soluções viáveis, cumprindo com todos os compromissos firmados pelo instituto. Além disso, ressalta que está passando por uma transição e reestruturação, motivo pelo qual está firmando novos contratos com os prestadores, por meio do novo edital de credenciamento e que está disponível no site do Instituto.

INSTITUTO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DOS SERVIDORES DE GOI NIA (IMAS)

Nota resposta – Hemolabor – 13.05.2024

O Hemolabor lamenta ter que suspender novamente o atendimento de pacientes do IMAS que fazem tratamento oncológico. A unidade hospitalar informa que a parcela de maio/2023 segue atrasada, descumprindo a promessa do plano em realizar o pagamento no dia 10 de fevereiro de 2024. O Hemolabor esclarece a que o câncer exige um tratamento prolongado, e que os atrasos dos repasses, que começaram em abril de 2023, são referentes aos tratamentos já prestados pela unidade, ou seja, o Hemolabor primeiro presta o serviço e recebe posteriormente por ele.

Desde o começo dos atrasos, o grupo vem tentando sanar essas pendências com o plano de saúde, sem sucesso. Por respeito e proteção aos pacientes em tratamento contra o câncer, o Hemolabor prosseguiu prestando o atendimento completo e multidisciplinar, porém os atrasos inviabilizaram a continuidade aos tratamentos. Como a transparência com os pacientes é um dos pilares do Hemolabor, os pacientes do IMAS que são atendidos na unidade foram avisados com antecedência sobre a suspensão dos atendimentos. O Hemolabor ressalta que está à disposição do plano de saúde para as negociações e retomada do atendimento o mais rápido possível.

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