USP demite professor da Esalq acusado de assédio sexual por 8 alunas

30 dezembro 2021 às 14h55

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O mestre Cláudio Lima de Aguiar foi exonerado pelo reitor Vahan Agopyan e a Congregação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz referendou a demissão
A Universidade de São Paulo exonerou, no dia 20 de dezembro, o professor Cláudio Lima de Aguiar, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), de Piracicaba. A demissão, assinada pelo reitor da USP, Vahan Agopyan, ocorreu depois de dois anos e meio de processo interno. A USP apontou o motivo: “reiteradas práticas assediosas”. A Congregação da Esalq referendou o afastamento, em 25 de dezembro, por 62 votos favoráveis, com três abstenções.
Cláudio Lima de Aguiar foi acusado por oito mulheres de assédio moral e sexual e cinco testemunhas corroboraram as denúncias.
“O Globo” ouviu seis denunciantes e publicou a reportagem “‘Ele abriu meu sutiã no meio da sala’: USP demite professor acusado de assédio sexual por alunas” na quinta-feira, 30. O jornal ressalva que “usou nomes fictícios para intitular as denunciantes”. O objetivo é preservar suas imagens. Cláudio Lima de Aguiar, procurado pelo jornal, “não respondeu ao contato”.

“Victória”
“Victória” assinala que, convidada para uma reunião na sala de Cláudio Lima de Aguiar, o professor “insistiu em fazer-lhe uma massagem”, apesar de repelido. “Quando ele colocou a mão por dentro da minha blusa e abriu meu sutiã no meio da sala, eu travei os braços e mandei ele parar. Fechei meu notebook e fui embora. Quando cheguei em casa e fui tomar banho, me esfregava de tanto nojo que sentia de mim mesma.”
Dado o assédio, Victória “desenvolveu ansiedade e passou por adversidades no relacionamento com seu marido, ‘tanto sexualmente quanto de afeto, carinho’”.
Em 2020, oito alunas, com o apoio de cinco testemunhas, fizeram uma denúncia coletiva contra Cláudio Lima de Aguiar, pesquisador do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição.
“Bertha”
Aluna do mestrado, sob orientação de Cláudio Lima de Aguiar, “Bertha”denunciou o professor, em agosto de 2019. “Ela havia desenvolvido crise de ansiedade em razão de uma série de atitudes do docente. Apalpadas na coxa, comentários sexistas, convites indecentes e abuso de autoridade eram atos frequentes, segundo as pesquisadoras. Adoecida, Bertha então decidiu comunicar à faculdade sua intenção de se desligar do mestrado”, conta “O Globo”.
Ao saber da história, o professor Fernando Luis Cônsoli, então presidente da pós-graduação da Esalq, sugeriu que Bertha continuasse na universidade e “abrisse uma denúncia contra Aguiar”. Bertha conversou com outra vítima de Cláudio Lima de Aguiar.
“Nise”
“Nise” relata que Cláudio Lima de Aguiar dizia que ela era “gostosa”. O professor tinha o hábito, segundo a denúncia, de falar “gorda”, “gayzinho”, “preta” e “burra” ao se referir aos alunos. Uma vez perguntou a “Nise”: “Se eu te paquerasse, você me daria bola?”
“Ruth”
Informado de que “Ruth” estava inscrita para o mestrado na Esalq, Cláudio Lima de Aguiar, segundo a denúncia, “a adicionou no Facebook e pediu uma entrevista informal com ela pelo Skype.” “Essa entrevista não estava no edital. O resultado (dos aprovados) nem tinha saído ainda. Achei estranho porque ele ficou perguntando se eu tinha namorado, se eu era casada. Indagações que não tinham sentido algum”, diz “Ruth”.
Ruth conta que o professor apalpava seu corpo e pegava nos seus cabelos.
“Johanna”
“Johanna” pediu ajuda a Cláudio Lima de Aguiar para conseguir uma bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Após conseguir o auxílio federal, afirma a mestranda, Aguiar se aproximou e cochichou em seu ouvido: ‘Não foi de graça’.”
“Alan”
Aluno do mestrado, Alan era orientado por outro professor, mesmo assim, de acordo com a denúncia, era chamado de “gayzinho” por Cláudio Lima de Aguiar.
Adusp comemora exoneração
“O Globo” registra que a Associação de Docentes (Adusp) comemorou a exoneração. “Trata-se de uma mudança de mentalidade, significando um sinal de superação de posturas machistas e permissivas em razão da hierarquia universitária. Por outro lado, a representação estudantil alcança uma vitória importante neste embate”, posicionou, em nota, o professor Paulo Moruzzi Marques, diretor regional da Adusp em Piracicaba.