Uso de cannabis entre idosos cresce e acende alerta de especialistas sob riscos à saúde

16 junho 2025 às 17h28

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A legalização gradual do uso medicinal e recreativo de cannabis nos Estados unidos, o número de usuários idosos da substância tem crescido consideravelmente nos últimos anos. A tendência, observada em estudos recentes, preocupa especialistas da área da saúde, que alertam para os riscos à integridade física e cognitiva dessa população, considerada mais vulnerável aos efeitos adversos do tetraidrocanabinol (THC), principal componente psicoativo da maconha.
Segundo dados analisados por pesquisadores e publicados no Journal of the American Medical Association, a proporção de norte-americanos com mais de 65 que usaram cannabis nos últimos 30 dias passou de 4,8% em 2021 para 7% em 2023. Esse índice, em 2005, era inferior a 1%.
O principal vetor do crescimento, de acordo com especialistas, é a legalização em 39 estados e no Distrito de Columbia para uso medicinal, e em 24 deles também para uso recreativo. Ao mesmo tempo, a percepção de risco entre a população vem caindo.
“— “A legalização criou um ambiente onde muitos idosos se sentem mais confortáveis para experimentar a cannabis, acreditando que se trata de uma alternativa segura” —”, explica o geriatra Benjamin Han, da Universidade da Califórnia, em San Diego. “Mas isso nem sempre é verdade”, continua.
Han, que também atua como especialista em medicina do vício, relata casos de pacientes que procuraram ajuda médica após episódios adversos. Um deles foi o de uma mulher de 76 anos que, sofrendo com insônia, consumiu quatro balas de goma com THC fornecidas pela filha. Cada unidade tinha 10 mg de THC — dose considerada alta para iniciantes. Ela desenvolveu ansiedade intensa, taquicardia e procurou o pronto-socorro. Apesar de ter recebido alta, Han alerta que a paciente poderia ter sofrido uma queda, agravado sua condição cardíaca ou tido uma interação perigosa com outros medicamentos.
Evidências limitadas sobre eficácia terapêutica
Apesar da crescente popularidade da cannabis entre os mais velhos como alternativa para tratar dor, ansiedade e distúrbios do sono, os estudos que confirmam a eficácia da substância para esses fins ainda são escassos. Ao mesmo tempo, muitos produtos disponíveis no mercado possuem doses elevadas de THC, o que potencializa os efeitos colaterais.
A publicidade da indústria da cannabis também tem contribuído para o aumento do consumo entre idosos. Empresas como a Trulieve oferecem descontos para “clientes maduros” com mais de 55 anos, enquanto outras realizam ações educativas em centros comunitários voltados à terceira idade.
Casos como o da redatora freelancer Liz Logan, de 67 anos, que afirma ter superado a insônia com o uso de gomas com THC, ilustram o lado positivo da experiência para alguns usuários. “Resolvi um problema que me acompanhou a vida inteira”, disse ela ao New York Times. Mas especialistas recomendam cautela.
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