UFG e Fiocruz publicam nota de repúdio a suposto curso intensivo para deixar de ser gay
29 fevereiro 2016 às 11h13

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Responsável pelo curso afirma ser especialista pela UFG e mestre pela Fiocruz, mas entidades negam ligação com conteúdo que oferece “cura do homossexualismo”

Por meio de nota, a Fundação Oswaldo Cruz e a direção da Faculdade de Ciências Sociais (FSC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) repudiaram a associação de seus nomes a um suposto curso intensivo com o tema “Homossexualismo – Prevenção, Tratamento e Cura”, cujo anúncio tem chamado a atenção dos internautas nas redes sociais.
Claudemiro Ferreira, professor e responsável pelo curso, se identifica como mestre em Saúde Pública pela Fiocruz e especialista em Políticas Públicas pela UFG. Conforme o material de divulgação, postado no perfil do Facebook de Claudemiro, o curso segue orientações para família e educadores “à luz da Ciência e da Bíblia”, com “conteúdos chancelados pelos Ministérios Públicos Federal e do Distrito Federal”.
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Em nota, a Fundação Oswaldo Cruz repudiou a associação do nome da fundação com o suposto curso e afirmou que “não compactua com qualquer propaganda, ação ou conteúdo que desrespeite à diversidade e o exercício efetivo do direito à sexualidade.”
A Fundação afirma que Claudemiro de fato obteve o título de mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) em 2010, mas explica que “o tema de sua dissertação abordou as políticas públicas de fomento ao controle social em prefeituras municipais do Nordeste e nada tem a ver com a proposta de um curso sobre tratamento e cura do “homossexualismo”. ”
A FCS da UFG, por sua vez, esclarece inclusive que a grade curricular da Especialização oferecida pela faculdade inclui componentes associados à formulação, implementação e avaliação de políticas públicas voltadas à promoção de da paridade de gênero e combate à homofobia.
A direção da faculdade rechaça “a associação do seu nome e prestígio a práticas discriminatórias, anti-científicas e contrárias à resolução CFP 01/99, tendentes a supostos tratamentos de orientação sexual”.
A nota informa ainda que a entidade pretende acionar a Procuradoria da Universidade, com para avaliar as medidas judiciais cabíveis ao dano à imagem sofrido “por sua indevida e inverídica associação com práticas imorais e ilícitas” e apresentar junto à Procuradoria da República representação “para reparação do dano difusamente infligido a toda a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros na publicidade que faz referência a uma “cura” do “homossexualismo”.”
Confira na íntegra os documentos publicados pelas entidades:
#NotaOficial: Vem circulando nas redes sociais a propaganda de um curso sobre a “cura gay” promovido por Claudemiro…
Publicado por Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Sexta, 26 de fevereiro de 2016
Nota de Repúdio da Faculdade de Ciências Sociais a respeito do anúncio de “cura gay”
A Direção da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Coordenação do Curso de Especialização em Políticas Públicas esclarecem, a seguir, o episódio de indevido uso do seu nome e reputação para divulgação de uma prática anti-jurídica e discriminatória concernente à intervenção alegadamente terapêutica sobre orientação sexual e identidade de gênero:
1) O Curso de Especialização em Políticas Públicas ministrado pela FCS/UFG não encerra nenhum componente curricular associado a tratamentos ou processos terapêuticos;
2) A grade curricular do curso contempla, ao longo de suas edições, componentes associados à formulação, implementação e avaliação de políticas públicas voltadas à promoção da paridade de gênero, ao combate à homofobia, à garantia de direitos sexuais e reprodutivos e ao respeito a todas as formas de família e de relações consensuais entre pessoas adultas e capazes.
3) A Direção da Faculdade de Ciências Sociais e a Coordenação da Especialização em Políticas Públicas rechaçam a associação do seu nome e prestígio a práticas discriminatórias, anti-científicas e contrárias à resolução CFP 01/99, tendentes a supostos tratamentos de orientação sexual.
4) A Direção da Faculdade de Ciências Sociais e a Coordenação da Especialização em Políticas Públicas informam, enfim, que acionarão a Procuradoria desta Universidade, de modo a avaliar as medidas judiciais cabíveis para fins de restauração do dano à imagem sofrido por sua indevida e inverídica associação com práticas imorais e ilícitas. Consignamos, ademais, que serão apresentadas as devidas representações à Procuradoria da República, de modo a solicitar-se o ajuizamento da ação cabível para reparação do dano difusamente infligido a toda a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros na publicidade que faz referência a uma “cura” do “homossexualismo”.
Goiânia, 26 de fevereiro de 2016
Direção da Faculdade de Ciências Sociais (FCS)
Coordenação do Curso de Especialização em Políticas Públicas