Motivo de alerta por parte de autoridades da segurança pública, a trégua firmada entre os líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e Comando Vermelho (CV), Marcinho VP, ainda não foi observada em Goiás. 

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A informação foi confirmada ao Jornal Opção pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Goiás (MPGO). O cenário, porém, já foi identificado no Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Distrito Federal e Amazonas.

As autoridades nacionais acreditam que o pacto prevê a cooperação entre as facções para fortalecer o controle sobre o tráfico de drogas e enfraquecer as restrições impostas pelo sistema penitenciário federal. Isso porque a aliança entre PCC e CV pode facilitar fugas e rebeliões em presídios federais, segundo as autoridades. O pacto também visa afrouxar regras carcerárias e expandir o tráfico.

Desde que foram transferidos para presídios de segurança máxima, os chefes das facções enfrentam um regime rígido, com isolamento e limitação de comunicação. A aliança entre as organizações é vista como uma estratégia para pressionar o governo e até mesmo articular medidas legais para flexibilizar essas condições.

Trégua provoca mudanças 

Ordens internas das facções, conhecidas como “salves”, determinaram a suspensão de execuções e invasões de territórios entre membros rivais. O cenário foi observado principalmente em estados do Norte e Nordeste, onde o CV é predominante. Outra preocupação é a possibilidade de as facções coordenarem planos de resgate para libertar seus chefes do sistema penitenciário federal.

Além disso, há indícios de que ambas estejam unindo forças para otimizar o controle sobre as duas maiores rotas do tráfico de cocaína no Brasil – a rota caipira e a do Solimões – a fim de fortalecer o tráfico internacional de drogas.

Dominada pelo PCC, a rota caipira começa na Bolívia, atravessa municípios paulistas e chega ao porto de Santos, de onde a droga é exportada para Europa e África; e a rota do Solimões fica na Floresta Amazônica, sob influência do CV.

Reduzir restrições

Além da preocupação com fugas e rebeliões, há indícios de que PCC e CV estejam financiando estratégias jurídicas para reduzir as restrições impostas pelo sistema federal. Entre os principais pontos de pressão estão a retomada de visitas íntimas e a flexibilização do isolamento.

A possível influência sobre decisões judiciais levanta um debate sobre o fortalecimento do crime organizado no Brasil. Algumas autoridades defendem que as facções sejam enquadradas como grupos terroristas, o que poderia mudar o tratamento jurídico dado aos seus membros.

O setor de Inteligência da Polícia Federal ainda não confirma a consolidação da aliança, mas reconhece haver movimentações suspeitas. As forças de segurança monitoram os desdobramentos da trégua e avaliam estratégias para evitar o fortalecimento das facções. No Rio de Janeiro, o tema foi discutido em uma reunião com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Chefões em presídios federais

Marcola está detido na Penitenciária Federal de Brasília, desde 2019, sob regime de segurança máxima. Condenado a mais de 300 anos de prisão, ele segue isolado e sem previsão de progressão de regime. Mesmo com o limite de 30 anos de reclusão estabelecido pela legislação brasileira, sua permanência no sistema federal deve ser prolongada devido à periculosidade e novas sentenças.

Marcinho VP cumpre pena na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Preso desde 1997, acumula condenações que somam 48 anos, mas sua defesa já tentou revisões de pena. Dependendo das condições de progressão, ele poderia sair nos próximos anos, embora as autoridades sigam monitorando sua influência criminosa.