Uma série de tempestades que assola o Rio Grande do Sul já ocasionou a perda de 10 vidas e o desaparecimento de 21 pessoas desde segunda-feira, 29. Conforme informações da Defesa Civil, a chuva impactou 104 municípios na região.

As consequências do fenômeno incluem a destruição de residências e pontes, o tombamento de árvores e encostas, além de deixar habitantes e animais em situação de isolamento.

Um incidente registrado em Candelária envolveu uma mulher arrastada pela correnteza de um rio. O Corpo de Bombeiros conseguiu resgatá-la em segurança.

A elevação do nível do Rio Pardo resultou na inundação de uma estrada na cidade, enquanto em Teutônia, no Vale do Taquari, estradas foram submersas e um animal ficou preso debaixo d’água.

A BR-290, vital para conexão entre a Região Metropolitana e a Fronteira Oeste, encontra-se bloqueada após a pista ceder em Eldorado do Sul.

O corpo de um passageiro de um veículo arrastado pela enxurrada foi encontrado pelos Bombeiros, enquanto o motorista, de 69 anos, foi localizado sem vida próximo ao carro.

Em Roca Sales, uma residência foi soterrada, deixando um homem desaparecido. Seu filho escapou pelo telhado e foi resgatado, enquanto a mãe foi salva por moradores locais.

Pontes foram destruídas pela correnteza, como aquela que ligava Santa Maria a Restinga Seca, e outra em Santa Tereza, onde a prefeita Gisele Caumo (pP) gravava um vídeo alertando sobre os riscos das chuvas.

As inundações forçaram evacuações em diversas áreas, como em Santa Cruz do Sul, onde animais precisaram ser resgatados.

Outros trágicos incidentes incluem uma mulher soterrada entre Itaara e Santa Maria, onde também houve alagamentos na região central do município, e em Maratá, onde a elevação do nível da água resultou em alagamentos devido à vazão de uma cascata.

Foto: Divulgação/Bombeiros Voluntários de Roca Sales

Mobilização da FAB

Na noite de terça-feira, 30, o governo federal mobilizou dois helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB) para realizar sobrevoos sobre as áreas de Santa Cruz do Sul, Sinimbu e Candelária, com o objetivo de resgatar pessoas em situação de risco.

A FAB disse ter sido acionada para “auxiliar no resgate dos atingidos pela enchente que assola a população da região de Santa Maria”. É recomendado que pessoas presas ou isoladas emitam sinais de luz para facilitar sua localização durante operações de resgate.

Pane em usina

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) informou que está monitorando de perto a situação da barragem da UHE Dona Francisca que teve o Plano de Ação de Emergência (PAE) acionado após intensas chuvas nos municípios adjacentes ao rio Jacuí, no Rio Grande do Sul.

Com o maior volume de chuvas, foram verificadas afluências históricas na usina, atingindo a capacidade máxima do vertedouro (vazões de 10.600 m³/s, equivalente a cheia decamilenar da barragem). Diante disso, o PAE foi acionado, sendo estabelecido o nível de resposta de Atenção, com o aviso das Defesas Civis municipais e Estadual.

A população afetada presente na Zona de Autossalvamento (ZAS) está localizada nos municípios gaúchos de Nova Palma, Agudo, Dona Francisca, perfazendo um total de 640 pessoas.

Já na Zona de Segurança Secundária (ZSS), a população afetada perfaz um total de 5.270 habitantes, localizados nos municípios de Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, Restinga Seca, Paraíso do Sul, Formigueiro, São Sepé e Cachoeira do Sul.

Força da água em cascata de Maratá — Foto: Maico Schmitt

Previsão

As projeções meteorológicas mais recentes, segundo o site MetSul, atualizadas no início desta quarta-feira, 1º, trazem um quadro alarmante para o Rio Grande do Sul. Espera-se que as áreas já afetadas por enchentes e inundações enfrentem um aumento nos níveis de precipitação.

Os acumulados de chuva nos últimos cinco dias já atingiram entre 300 mm e 500 mm em várias localidades do Centro e Nordeste do estado. Os modelos de previsão do tempo indicam que essas áreas podem receber um adicional de 150 mm a 300 mm de chuva ao longo do restante desta semana e durante o fim de semana.

Esta situação eleva o quadro de grave para extremamente grave. Prevê-se que um grande número de municípios declare estado de emergência, e muitos podem ter que recorrer ao decreto de calamidade pública.

A gravidade da situação é acentuada pela perspectiva de instabilidade persistente. Uma massa de ar seco e quente, combinada com um bloqueio atmosférico no Centro do Brasil, está canalizando a umidade amazônica em direção ao Sul, impactando diretamente o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

Ainda conforme o MetSul, os dados indicam que localidades do Centro para o Norte do estado serão as mais afetadas com chuva neste intervalo de 5 dias de 150 mm a 300 mm. Estas áreas de chuva excessiva a extrema são justamente as regiões mais afetadas por inundações no momento, como o Centro do estado, os vales, a Grande Porto Alegre e a Serra Gaúcha.

O indicativo de chuva excessiva na Serra é grave porque na região serrana nascem vários dos rios que descem para os vales, como Caí, Paranhana e Taquari.

Assim, alguns rios que baixam lentamente, como o Taquari que desce após ter batido em 27 metros em Estrela, e outros que ainda sobem, como Caí que enfrenta uma das maiores cheias da história, tendem a se elevar com a quantidade de chuva que cai e ainda cairá nos próximos dias.

O Centro gaúcho é onde mais choveu até agora com volumes generalizados de 300 mm a 500 mm e por onde passa o Rio Jacuí. Além disso, haverá uma piora do quadro na Grande Porto Alegre com inundações em ainda mais pontos da área metropolitana.

No caso do Norte do Rio Grande do Sul, na região do Planalto, porque se trata da nascente do Jacuí, que já anotou chuva extrema a extraordinária nas partes intermediária e final da bacia, mas ainda não registrou chuva volumosa nas nascentes. Isso sinaliza uma piora do quadro no Centro do estado e agrava a probabilidade de uma cheia do Guaíba de maior dimensão.

Ruas alagadas em Maratá — Foto: Maico Schmitt

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