Em entrevista, presidente rejeita possibilidade de novas eleições presidenciais até 2018, e diz que seu governo já foi  reconhecido internacionalmente

Em entrevista divulgada neste domingo (11/9), o presidente Michel Temer (PMDB) garantiu que vê com naturalidade o crescimento dos protestos de rua que pedem sua saída do poder e convocação de novas eleições, mas destacou que o movimento quer derrubar o governo “por uma via transversal e não constitucional”. De acordo com ele, “o jeito é irmos tranquilamente num governo de transição até 2018 e em 2018 se faz nova eleição”.

Realizada pelo jornal O Globo, a entrevista com o atual presidente tratou desde a falta de representatividade feminina no governo às medidas impopulares que devem ser tomadas por sua gestão. Sobre o primeiro assunto, Temer afirmou não ter errado ao nomear apenas homens para assumir os ministérios.

“Ministério é só uma simbologia”, defendeu afirmando ainda que caso ocorra mudanças ele nomeará pessoas para assumirem de acordo com a competência. “Acho importante o gênero, mas é importante o gênero aliado à competência.” Segundo o peemedebista, há várias mulheres que ocupam cargo de destaque dentro de sua equipe. Perguntado sobre Grace Mendonça, que assumiu a Advocacia Geral da União, ele afirmou que ela era a segunda dentro do órgão e, por isso, era natural que ela assumisse o cargo.

O presidente disse ainda que escolheu uma equipe ministerial muito boa, apesar do curto tempo que teve para escolher os nomes, “sete a oito dias”, e destacou a boa atuação junto ao Congresso que vem tendo. “Eu não contabilizo ainda nenhuma derrota no Congresso”, ressaltou dizendo que todas as medidas do governo vêm tendo apoio.

De acordo com Michel Temer, reforma da previdência e a repactuação da dívida dos estados são exemplos de medidas “aparentemente populares, mas [que] no fundo são populares”. Para ele, essas ações podem até não agradar num primeiro momento, porém buscam viabilizar a conduta e o bem-estar do povo brasileiro e negou, ainda, que vai acabar com os direitos trabalhistas.

Protestos

O presidente assumiu ainda que é natural que haja protestos contra seu governo. Segundo ele, há uma luta política, advinda do processo do impeachment, além de simplesmente um movimento popular. Aproveitou também para lembrar que quando o PT ganhou as eleições, o fez com apoio do PMDB e que seu partido teve importância, já que com a aliança o PT ganhou 4,5 minutos de rádio e televisão e pelo menos 23 estados para apoiar a chapa.

Ele ressaltou ainda que no momento do voto aparecem presidente e vice. “Se houvesse uma rejeição tão forte a mim, primeiro o PT não faria a aliança. Segundo o sujeito diria: ‘não vou votar porque esse sujeito atrapalha o governo'”. Os protestos, defendeu o peemedebista, não inviabilizarão seu governo, mas serão respeitados por ser um movimento expressivo.

Em relação às vaias na abertura da Paralimpíada, ele disse que não achava que as vaias tinham sido maiores que na Olimpíada. “Não estava com os ouvidos tão atentos assim”, afirmou. Porém afirmou que foi preparado para ouvi-las, e que só compareceu ao evento porque há um protocolo que exige a fala do presidente na abertura.

Sobre a terminologia de golpista, Temer defendeu que ela “não pegou”. Para ele, prova de que não houve golpe foi o reconhecimento internacional: na reunião do G20, do início do mês, vários países reconheceram seu governo e foram pedidas reuniões bilaterais pelos primeiros-ministros do Japão, da Itália, da Espanha e pelo príncipe da Arábia Saudita.

Michel Temer afirmou que vai priorizar que o país tenha presença em foros internacionais e nos outros países. “Vamos abrir o Brasil para o capital nacional e estrangeiro”, declarou destacando que ele vem garantindo a segurança jurídica do país.

Lava Jato

Sobre os rumos da Operação Lava Jato, Michel Temer garantiu que o Executivo não vai interferir na matéria, já que cada um dos três poderes deve exercer seu papel. Os ministros envolvidos em suspeitas de desvios não serão, entretanto, afastados a menos que seja da vontade deles. De acordo com ele, não é certo colocar alguém para fora do governo sem haver ao menos uma denúncia.

Uma crise causada por uma possível delação do ex-presidente da Câmara e deputado afastado, Eduardo Cunha (PMDB), foi descartada pelo presidente. Temer considerou que um possível acordo de delação não teria influência qualquer em seu governo.

Ele lembrou que falava muito com Cunha, mas relatou que não vem sendo procurado pelo parlamentar afastado. Caso fosse procurado, disse, o receberia e conversaria por não ter qualquer inconveniente na situação.