Pesquisador nas áreas de qualidade e eficiência energética, o doutor em Engenharia Elétrica Fernando Nunes Belchior acredita que a sustentabilidade dos veículos elétricos ainda depende de um avanço na tecnologia para a produção das baterias. Para se tornar uma alternativa sustentável de fato, as baterias utilizadas nos automóveis precisam passar por um processo de reciclagem e descarte eficientes que ainda não está amplamente disponível, diz o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“A bateria ainda tem uma vida útil muito restrita quando comparamos com tempo útil de um veículo movido à combustão. Uma bateria tem validade de oito a dez anos. Um dia, os proprietários precisam trocar a bateria, e fica o questionamento: quanto vai custar? Como será o descarte?”, questiona.

Por um lado, os avanços tecnológicos possibilitaram a redução do tamanho desses componentes e a velocidade de carregamento e eficiência, ocasionando uma maior produção dos carros movidos à eletricidade. A quantidade de baterias elétricas produzidas, por outro lado, causa preocupação quanto a sua reciclagem e reutilização. “Quando começamos a utilizar as baterias com os celulares, elas eram grandes e ineficiente. O processo com os veículos elétricos também está melhorando, mas também já enfrentamos problemas nesse sentido”, conta.

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Muitos desafios

Belchior argumenta que mesmo os países mais avançados na produção, construção e venda de veículos elétricos/híbridos como a China, ainda não tem alternativa para a reutilização das baterias. “É comum que após essa primeira vida da bateria, muitos veículos passem a ser considerados como descartáveis. Isso acontece porque a troca da bateria acaba sendo tão cara quanto o carro”.

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Porém, a solução pode vir de outra matriz energética considerada primordial para a sustentabilidade: a energia solar. Os painéis solares, segundo o engenheiro elétrico, já estão sendo reutilizado em outras indústrias e na construção novas placas. “Isso também deve acontecer com os veículos”, garante.

Enquanto o modelo não é inteiramente viável, a utilização dos combustíveis fósseis deve dominar o mercado por aproximadamente 40 anos, destaca Fernando. “Mas há um limite que exigirá essa adaptação da matriz energética. E a bateria será a bola da vez. No entanto, existe uma vertente com um potencial muito grande que é a utilização do hidrogênio como combustíveis”, conta.

Utilizado principalmente em casos específicos como na alimentação de foguetes espaciais, o custo ainda é elevado, mas viável e sustentavelmente viável.

Estudar o que fazer nos próximos 40 anos

Menos de 60% da eletricidade no mundo é gerada a partir de fontes não renováveis provenientes de combustíveis fósseis, como carvão, que possui grande impacto ambiental. O foco, por ora, deve ser no estudo de reutilização dos componentes e da própria bateria.

“Vamos absorver muito do que a China vai fazer para lidar com essa questão. Pela baixa autonomia, os consumidores têm optado pela compra como segundo carro. Ou seja, utilizar o veículo dentro da cidade e carregá-lo a noite e usar o veículo a combustão para viagens. O híbrido é o modelo mais viável no Brasil, tanto pelas distâncias quanto pela economia. Com o veículo híbrido, o consumo de combustível reduz significativamente”, completa.

Venda de veículos elétricos no Brasil

Em 2023, a venda de veículos elétricos no Brasil cresceu 91% em relação à 2022. Foram emplacados quase 94 mil veículos ante 49.2 mil em 2022. Somente em dezembro, as vendas chegaram a 16.279quase o triplo das 5.587 de dezembro de 2022, um crescimento de 191%. Na avaliação da ABVE, os números de 2023 consolidam uma virada do mercado de eletrificados no Brasil.

Projeção feita pela Bright Consulting mostra que até 2030, os veículos eletrificados (híbridos e plug in) representarão 10% da frota brasileira, mesmo com a volta do Imposto de Importação sobre elétricos (que subirá gradativamente a partir de janeiro, quando começa em 12%, chegando a 35% em julho de 2026). Atualmente, esses veículos representam cerca de 0,5% da frota nacional.

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