Uma decisão do governo dos Estados Unidos ameaça diretamente os produtores de frutas do Brasil, especialmente os do Vale do São Francisco. A partir de 1º de agosto, entra em vigor a tarifa de 50% imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, sobre uma série de produtos brasileiros. A medida levou à suspensão de embarques e pode comprometer o escoamento de cerca de 77 mil toneladas de frutas que estavam destinadas ao mercado norte-americano. O volume, segundo dados da GloboNews, seria suficiente para abastecer durante um ano cidades como Salvador (BA), Manaus (AM) e Recife (PE).

Entre as frutas ameaçadas, a manga ocupa posição central. O Brasil é um dos principais fornecedores da fruta in natura para os Estados Unidos, e a janela de exportação — que vai de agosto a outubro — coincide exatamente com o início da aplicação da nova tarifa. De acordo com levantamento da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), são 36,8 mil toneladas de manga em risco, seguidas por 18,8 mil toneladas de frutas processadas, como o açaí, 13,8 mil toneladas de uva e outras 7,6 mil de diversas frutas tropicais.

Crise ameaça cadeia produtiva nacional

Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, destaca que a situação é dramática e que as alternativas são limitadas. “Não podemos colocar essa manga no Brasil, porque vai colapsar o mercado. Então, urge uma definição, urge o bom senso, urge a flexibilidade, urge um pensamento global, um pensamento geral, para que não tenhamos que deixar manga no pé, com desemprego em massa”, afirmou Coelho em entrevista ao G1.

O problema, segundo ele, não se resolve com o redirecionamento das cargas. “Agora nós estamos bastante inseguros. Porque, infelizmente, a essa altura não podemos pegar essa manga e jogar na Europa. O preço vai desabar, não há logística para isso”, acrescentou.

Portanto, o impacto da medida de Trump não se restringe apenas ao curto prazo. A Abrafrutas estima que o segundo semestre, período historicamente mais lucrativo para o setor, pode se transformar em um ciclo de perdas generalizadas. Ainda assim, o receio é de que os efeitos da crise se estendam às próximas safras, reduzindo investimentos, provocando demissões e afetando toda a cadeia logística e produtiva da fruticultura nacional.

Segundo a entidade, cerca de 2,5 mil contêineres de frutas estão prontos para serem enviados aos Estados Unidos, à espera de uma solução diplomática. Caso fiquem parados, esses produtos correm o risco de se deteriorar ou serem vendidos no mercado interno a preços inferiores aos de produção.

Além das frutas, outras cadeias produtivas brasileiras estão sendo atingidas pela medida. O setor de suco de laranja, por exemplo, também entrou no radar. Conforme dados da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), os Estados Unidos são o segundo principal destino do suco brasileiro. Na safra 2024/2025, o país recebeu 305 mil toneladas do produto, o que resultou em mais de US$ 1,3 bilhão em receita.

Governo brasileiro busca negociação emergencial

Com o aumento de 533% na taxação, a manutenção dos embarques torna-se economicamente inviável. Portanto, a nova tarifa compromete não apenas o presente da exportação brasileira, como ameaça toda a estrutura industrial e agrícola que sustenta a produção de sucos cítricos. O prejuízo deve ser sentido principalmente agora, no início da nova safra, quando os investimentos e os custos operacionais estão em alta.

Em resposta, o governo federal recomendou que as empresas brasileiras pressionem seus parceiros comerciais nos Estados Unidos para interceder junto à Casa Branca. Paralelamente, o Itamaraty busca negociar o adiamento da medida por ao menos 90 dias, para evitar perdas irreversíveis enquanto se tenta chegar a um entendimento diplomático.

O episódio ilustra mais um capítulo das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, agravadas pelo uso político de tarifas por parte da administração Trump. Entretanto, a dimensão social e econômica do caso vai além do conflito bilateral. Caso o embargo se confirme e se prolongue, o país pode assistir a uma crise severa no campo, com impacto direto na renda, no emprego e no abastecimento global de frutas tropicais — produtos cuja presença nos supermercados internacionais se consolidou ao longo das últimas décadas, com o Brasil como um de seus principais fornecedores.

O temor dos produtores brasileiros, então, é de que a medida de Trump se transforme não apenas em um obstáculo comercial, mas em um divisor de águas para o setor. Afinal, enquanto contêineres de frutas permanecem parados e produtores aguardam respostas, o tempo corre contra uma cadeia produtiva que depende, como poucas, de logística, planejamento e previsibilidade.

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