Nesta quarta-feira, 6, entrou em vigor a tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, uma medida anunciada pelo presidente Donald Trump que atinge diretamente 906 municípios do país, segundo levantamento do Estadão. Em Goiás, aproximadamente 15 cidades exportadoras sentirão o impacto da decisão, afetando especialmente a cadeia da carne bovina e o setor sucroenergético.

O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), Pedro Leonardo, explicou ao Jornal Opção que os municípios com maior exposição à medida estão concentrados em polos tradicionais da pecuária de corte. Ele citou São Miguel do Araguaia, Mozarlândia, Rio Verde, Mineiros, Itumbiara e Niquelândia como os principais polos.

“Os municípios mais produtivos, eles estão localizados nas regiões do Vale do Araguaia, municípios como São Miguel do Araguaia, que é o município que tem o maior efetivo de rebanho bovino do estado de Goiás, o sudoeste do estado de Goiás também tem um efetivo bovino significativo e tem uma relação comercial estabelecida com o mercado americano, então essas regiões serão grandemente impactadas”, afirmou. 

Segundo o secretário, o impacto não está apenas na quantidade exportada, mas na perda de receita em dólar. A carne enviada aos EUA representa até 13% da produção goiana, mas possui maior valor agregado, tornando a tarifa especialmente danosa. Para mitigar os efeitos, o governo estadual aposta na diversificação de mercados.

“O que a gente tem buscado como alternativa para essas medidas é a abertura de novos mercados. […] Recentemente a gente esteve em missão oficial no Japão e as negociações já se iniciaram para que o Estado Goiás possa iniciar uma parceria comercial para a carne bovina de Goiás para o mercado japonês”, disse Pedro Leonardo. Ele acrescentou que uma missão japonesa deve visitar frigoríficos goianos na primeira semana de setembro para avançar no processo de habilitação.

A preocupação também se estende à indústria e ao emprego. O secretário de Economia de Goiás, Francisco Sérvulo Freire Nogueira, ressaltou ao Jornal Opção que o efeito inicial recai sobre as empresas exportadoras, mas tende a se espalhar por toda a cadeia produtiva. Ele citou como exemplo a Jalles Machado, tradicional produtora de açúcar com planta em Goianésia. “É uma situação complexa porque, na verdade, o impacto é sobre a empresa exportadora […] também tem impacto nos empregos, na cadeia produtiva que ela movimenta”, afirmou.

O secretário também destacou ainda que “as maiores exportadoras de carne que temos em Goiás são a JBS, a BRF e o Minerva”. A JBS, líder global da indústria de proteínas, possui unidades em Goiânia, Mozarlândia, Itumbiara, Porangatu, São Luís de Montes Belos e mais. A Minerva Foods ampliou recentemente sua atuação local ao inaugurar sua terceira planta em Goiás, incluindo unidades em Goianésia, Palmeiras de Goiás e Mineiros. Já a BRF, atua nas cidades de Rio Verde e Jataí.

Para reduzir a pressão financeira imediata, o governo estadual prepara linhas de crédito emergenciais via GoiásFomento e pelo Fundo de Equalização para o Empreendedor (FUNDEQ). “O governador Caiado já encaminhou para direcionarmos essas empresas que já se sabem que terão essas dificuldades para que elas procurem verificar a necessidade desses empréstimos ponte”, disse o secretário de Economia. Ele ponderou, entretanto, que ainda é cedo para dimensionar o tamanho do impacto, pois empresas podem redirecionar produtos para mercados alternativos, como Arábia Saudita, Europa e Ásia.

Os dados do Instituto Mauro Borges (IMB) enviados ao Jornal Opção ajudam a dimensionar o desafio. Em 2024, Goiás exportou US$ 12,3 bilhões (R$ 66,4 bilhões), sendo 75,5% destinados a apenas 15 países. A China permanece como o maior comprador, enquanto os EUA ocupam a segunda posição entre os destinos das exportações. O novo regime tarifário anunciado por Trump atinge sobretudo produtos agropecuários e industriais, com destaque para carnes, açúcar e segmentos metalúrgicos.

De acordo com o relatório do IMB, o impacto econômico potencial é expressivo. No cenário otimista, a perda direta e indireta para o PIB goiano pode chegar a R$ 1,16 bilhão, enquanto o cenário pessimista projeta até R$ 1,45 bilhão. A agropecuária sofre o maior impacto relativo, enquanto a indústria lidera em valores absolutos, refletindo o peso das cadeias de carne e açúcar. O documento explica que os efeitos indiretos superam os diretos porque os setores atingidos demandam insumos de várias outras atividades econômicas, amplificando as perdas ao longo da cadeia.

Já de acordo com dados do Mdic, em 2024 Goiás ocupou o oitavo lugar no ranking nacional de exportações por unidades da federação, conforme o último Goiás em Dados. Ainda segundo a publicação, a agropecuária lidera as vendas externas goianas.

A soja é o carro-chefe, respondendo por 53% do total, considerando grãos e farelos. Na sequência, vêm carne bovina, milho, minério de cobre e açúcar. Rio Verde foi o município que mais exportou em 2023, sendo responsável por 29,88% das vendas externas. Em seguida aparecem Jataí, Mozarlândia e Montividiu, todos especializados em cadeias agropecuárias. 

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