“Também diziam que o digital acabaria com o livro físico”, diz ilustrador goiano sobre IA substituir desenhos autorais
Júnior Kamenach
27 outubro 2023 às 17h39
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O avanço da tecnologia surpreende a população a cada nova atualização. O aperfeiçoamento da Inteligência Artificial (AI), por exemplo, permite atualmente que uma máquina produza textos e ilustrações apenas com poucas orientações humanas.
Como resultado, a sociedade começa a fazer uma velha reflexão, que surgiu desde o contato com as primeiras tecnologias: uma possível substituição do trabalho humano pelas máquinas. Não diferente, os desenhos, ilustrações e afins não escaparam dessa teoria.
Apesar disso, o ilustrador goiano Jader de Melo, 38, não acredita que a IA consiga tomar o lugar do humano na produção de desenhos. Para sustentar o argumento, o profissional fez até uma comparação.
“Existe um fator que a gente chama de originalidade, da personalidade do meu trabalho. Então, para mim, não me sinto ameaçado. As pessoas ficam assustadas, mas não é muito bem assim no mercado, que pode substituir totalmente. Me lembro muito uma época quando falavam que os livros digitais iriam substituir os livros impressos, e não foi o que acabou correndo. As pessoas apreciam a arte”, explicou.
Para Melo, “a tecnologia vai criar a partir de pontos que ela conhece de leituras que ela já fez”. “Então, o acervo pode ser grande, mas o que está por trás de um ilustrador é o conhecimento e a criatividade que ele tem de poder colocar isso no trabalho, de se expressar. Costumo brincar que, às vezes, o ilustrador nunca vai fazer o mesmo desenho idêntico ao outro, sempre vai expressar uma coisa diferente”, continuou, explicando sobre a originalidade de um artista.
Profissional da área há 17 anos, Jader de Melo afirma que o traço humano tem um diferencial em relação à IA, que é pessoalidade. Para ele, a subjetividade do artista é algo que a máquina não consegue ter.
“Meu tipo de trabalho é mais autoral. Não é um trabalho que eu possa reproduzir qualquer arte. O ilustrador não só apresenta um trabalho, ele vende uma solução. Então, quando eu tenho um trabalho, eu quero passar uma mensagem, um texto, um conceito através da imagem. A desvantagem da IA é que não vai ter um nível de criatividade que o ilustrador pode dar”, defende.
Jader de Melo trabalha sobretudo com o público infantil, com ilustração editorial no mercado publicitário. São artes, por exemplo, para um livro infantil, ou decorações de quarto de criança e, para demonstrar a diferença do traço humano para um trabalho de IA, o profissional disponibilizou duas artes. À esquerda é de sua autoria, enquanto à direita foi feita por uma IA, o que Jader reforça a diferença da pessoalidade humana para o traço artificial da tecnologia.
O ilustrador também revelou uma pesquisa americana que apontou que menos da metade dos profissionais temem perder espaço para a IA. Por outro lado, Jader de Melo reconheceu as vantagens também da tecnologia para ser uma aliada, não uma concorrente.
“Eu estava lendo recentemente uma pesquisa, feita por um site americano, que somente 42% dos designers temem que essa inteligência artificial possa afetar o trabalho deles negativamente. É claro que ela acrescenta, toda a tecnologia tem um lado útil. Ela vem para poder somar, porque pode reproduzir uma imagem realista, pode colocar mais efeitos visuais, tem a questão da agilidade também”, afirmou.
“Às vezes um ilustrador, por exemplo, que vai trabalhar com uma técnica mais sofisticada, o processo dele é bem mais complexo, então talvez a inteligência artificial pode ser uma ferramenta para poder dar agilidade para ele, criar texturas, camadas, cenários”, completou.
Se há vantagens na tecnologia, também deve haver desvantagens. Jader de Melo pontua, por exemplo, a responsabilidade que cada ilustrador tem, diferente de algum site ou aplicativo que possa permitir manipular alguma imagem e cometer um crime.
“A gente leva muito a sério a questão do direito autoral, a propriedade intelectual. A gente comercializa o direito da pessoa utilizar a nossa arte. Então, a gente se responsabiliza também. A inteligência artificial não tem esse domínio”, ressaltou.
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