Um estudo publicado em junho de 2024 na revista BMJ Medicine traz novas informações sobre os efeitos do uso de suplementos de óleo de peixe, amplamente consumido no Brasil e em diversas partes do mundo. A pesquisa, conduzida por cientistas britânicos, revelou que o uso contínuo desse suplemento pode aumentar os riscos de desenvolver fibrilação atrial em 13% e de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) em 5%.

Os ácidos graxos ômega-3 presentes no óleo de peixe têm sido reconhecidos por seus benefícios potenciais para o cérebro e o sistema cardiovascular. Contudo, esse estudo reforça que os efeitos podem variar, dependendo do estado de saúde inicial de cada indivíduo. Para pessoas saudáveis, o uso do suplemento foi associado ao aumento de condições como arritmias cardíacas e risco de AVC, gerando preocupações sobre a prescrição indiscriminada.

Curiosamente, para quem já apresenta essas condições, os suplementos demonstraram um efeito protetor, reduzindo a progressão para eventos cardiovasculares graves e até a mortalidade por essas causas. O óleo de peixe reduziu em 15% o risco de progressão da fibrilação atrial para infarto do miocárdio e em 9% a mortalidade por insuficiência cardíaca. 

Metodologia e descobertas 

O estudo analisou dados de 415.737 participantes do UK Biobank, um banco de dados de saúde, que registrou informações entre 2006 e 2010, com um acompanhamento médio de 11,9 anos. Cerca de 31,5% dos participantes relataram o uso regular de óleo de peixe. Durante o acompanhamento, 22.636 pessoas enfrentaram problemas como infarto e insuficiência cardíaca, e 22.140 vieram a óbito por causas relacionadas à saúde cardiovascular.

Entre os pontos de destaque, os pesquisadores sublinharam a ausência de dados detalhados sobre a composição e a dosagem dos suplementos utilizados pelos participantes, além da predominância de pessoas brancas na amostra, o que pode limitar a aplicação dos resultados a outras populações.

Genética pode influenciar os resultados

Pesquisas anteriores também apontam a influência genética sobre os benefícios do óleo de peixe. Um estudo publicado na PLOS Genetics em 2021 revelou que variações no gene GJB2 podem alterar como o corpo regula os níveis de triglicerídeos em resposta ao consumo de ômega-3. “A suplementação com óleo de peixe não é boa para todos; depende do seu genótipo,” afirmou Kaixiong Ye, professor de genética da Universidade da Geórgia e coautor do estudo.

Enquanto algumas pessoas experimentam reduções nos triglicerídeos ao tomar o suplemento, outras podem ver um efeito inverso, destacando a importância de exames genéticos para orientações mais precisas.

Diferentes grupos, diferentes impactos

Os dados também indicaram que os efeitos variam conforme a idade, o sexo e outros fatores, como tabagismo e o uso de medicamentos para controlar a pressão arterial. Homens e participantes mais velhos observaram uma redução de até 11% no risco de morte em decorrência de doenças cardíacas, enquanto mulheres jovens saudáveis enfrentaram um aumento de 6% nas probabilidades de desenvolver complicações.

Entre os benefícios constatados, destaca-se a proteção do óleo de peixe para pacientes com insuficiência cardíaca e fibrilação atrial, oferecendo uma abordagem potencialmente mais segura e eficaz para quem já convive com doenças cardiovasculares.

Sinais e fatores de risco

Além dos debates sobre os efeitos do suplemento, os pesquisadores reforçam a importância de identificar os sinais precoces de AVC, como fraqueza súbita em um dos lados do corpo, dificuldade na fala e dores de cabeça intensas e sem causa aparente. Fatores de risco como hipertensão, obesidade, colesterol alto, diabetes, consumo excessivo de álcool e sedentarismo devem ser monitorados regularmente.

O Ministério da Saúde enfatiza que procurar atendimento médico imediato diante dos sintomas aumenta em grande escala as chances de recuperação.

O papel das prescrições individualizadas

Embora o óleo de peixe continue sendo uma opção popular entre aqueles que buscam melhorar a saúde cardiovascular, as evidências destacam a necessidade de uma abordagem personalizada. Os especialistas sugerem que apenas profissionais de saúde devem recomendar o suplemento, com base em fatores como histórico médico, predisposição genética e estilo de vida.

A pesquisa deixa clara a ambiguidade em torno dos suplementos de óleo de peixe: enquanto podem representar uma ferramenta valiosa para determinados grupos, seu uso indiscriminado pode trazer mais riscos do que benefícios. Investir em uma dieta equilibrada rica em fontes naturais de ômega-3, como peixes oleosos, nozes e sementes, pode ser uma alternativa segura para grande parte da população.

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