Sugestão de criação do partido nazista gera debate no Senado
11 fevereiro 2022 às 13h28

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Figuras de representação internacional homenagearam o Dia da Lembrança do Holocausto e criticam falas em favor do nazismo
Sessão solene virtual, realizada em Senado Federal, homenageou ao Yom HaShoá, o Dia da Lembrança do Holocausto. O evento desta quinta-feira, 10, foi marcado também por críticas ao youtuber Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, que defendeu a criação de um partido nazista no Brasil nesta semana. Com efeito das manifestações, Monark foi demitido do programa no mesmo dia, 8. A fala do ex-apresentador foi emitida por ele durante a última edição do programa, em um debate com a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) e o deputado Kim Kataguiri (Democratas – SP).
O argumento apresentado por Monark era de que a “esquerda radical” teria mais espaço no Brasil do que a “direita radical” e os nazistas, que não são reconhecidos por lei. “As pessoas não têm o direito de ser idiotas?”, questionou o apresentador ao defender que o antissemitismo do partido nazista se encaixa dentro da liberdade da expressão, portanto “teria que liberar tudo”. Um vídeo de desculpas foi publicado pelo deputado Kim Kataguiri após a repercussão da fala do apresentador. No vídeo, o parlamentar lamenta pelas falas nas quais defendeu a descriminalização do nazismo. Kataguiri é alvo de pedidos de cassação de mandato e é alvo de investigação pela Procuradoria Geral da República.
O embaixador de Isarael no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, disse durante evento não ter certeza se o perigo da conexão entre ideias e ações que culminaram no Holocausto já foi assimilado. Zonshine é judeu e filho de sobreviventes do Holocausto. Durante o evento, disse conhecer pessoalmente os resultados “da ideologia e das ações horríveis executadas pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial”. O representante também relembrou que fazem 77 anos desde o dia da liberação do campo de extermínio de Auschwitz, na Alemanha. “O exemplo que tivemos esta semana no Flow Podcast pode parecer bobagem, mas atesta que a mensagem não foi bastante assimilada pelas pessoas e pela sociedade. Nossa guerra é levantar nossa voz contra a legitimação desse tipo de ideia”, disse.
Mais posicionamentos
O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, também lembrou a polêmica envolvendo o ex-apresentador durante homenagem. “Nós imaginávamos, talvez, estarmos vivendo num cenário diferente, mas vejam que coincidência: justamente nesta semana, um dos mais importantes podcasts deste país faz um movimento demonstrando que, para alguns, quem sabe, a morte daqueles seis milhões de judeus e mais cinquenta milhões de pessoas, fruto de uma atrocidade de um partido nazista, não tenha sido suficiente para termos aprendido algo significativo no sentido do respeito à diversidade, no entendimento da tolerância”, afirmou.
A senadora Leila Barros (Cidadania – DF) e Marlova Jovchelovitch, representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, também se manifestaram. Leila lembrou da manifestação feita pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que participou do debate no Podcast Flow. “Eu fui uma das que utilizaram as redes sociais para repudiar e recriminar as declarações de um youtuber que defendeu a existência de um partido nazista no Brasil e de um deputado federal que sugeriu a não criminalização de grupos que comungam dessa ideologia”, criticou. Já Jovchelovitch disse que “minimizando situações desse tipo é que situações assim progridem, ganham escala e se tornam verdade para muitos”, acrescentou.