Pedido de inquérito foi realizado por procurador-geral da República, Augusto Aras ao STF. Já o pedido para apressar o depoimento foi feito por parlamentares do Congresso Federal. Moro considera investigação “intimidatória”

Jair Bolsonaro e Sergio Moro não estão falando mais a mesma linguagem: o realismo do primeiro choca-se com o rigor do segundo | Foto: Adriano Machado/Reuters

Por determinação do juiz Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal deve ouvir o ex-ministro da Justiça Sergio Moro em um prazo de cinco dias para investigar as acusações feitas contra o presinte Jair Bolsonaro. O pedido de inquérito havia sido realizado por Augusto Aras, procurador-geral da República.

Antes, o prazo determinado era de 60 dias, mas a pedido de três parlamentares, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e os deputados federais Tabata Amaral ((PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), que alegaram prazo excessivo.

A decisão é em relação ao pronunciamento de Moro durante seu anúncio de saída do governo, em que ele afirmou que Bolsonaro tinha intenções de ter informações privilegiadas de investigações da PF, que ocasionou na saída de Maurício Valeixo.

A PF deve realizar uma diligência determinada pelo Supremo e ouvir o depoimento de Moro e receber documentação idônea acerca dos eventos em questão. Em entrevista à Veja, o ex-ministro afirmou que tem e irá apresentar tais documentos.

“Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar”, declarou Moro.

Para ele, o pedido de abertura de inquérito de Aras foi “intimidatório”, com intenção de dizer que Moro estava mentindo. “Entendi que a requisição de abertura desse inquérito que me aponta como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi intimidatória. Dito isso, quero afirmar que estou à disposição das autoridades”, disse o ex-ministro.

Em entrevista à Veja, o ex-juiz da Lavajato irá apresentar as provas contra o presidente. “Ele [Bolsonaro] sabe quem está falando a verdade. Não só ele. Existem ministros dentro do governo que conhecem toda a situação e sabem quem está falando a verdade”, falou.

“É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de apoio, porém mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem meu conhecimento. Foi a gota d’água”, afirmou Moro, já que a investigação também quer apurar a informação de Bolsonaro querer acesso a investigações da PF contra deputados aliados.

“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança. Depois veio o projeto anticrime”, alegou o ex-ministro.