A soberania do Fundo Soberano entrou em jogo e o Banco do Brasil se sentiu em leilão
27 setembro 2014 às 11h51
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A cada dia mais próxima das urnas da reeleição, a presidente Dilma revela disposição para raspar o tacho e queimar caravelas que possam servir ao PT como transporte de volta à oposição. É uma espécie de jogo sem volta com efeitos capazes de espantar a própria presidente, além de incomodar o aparelho de Estado.
“Estranhérrimo”, a candidata foi a primeira a espantar-se, de forma inadequada, ainda em Nova York, quando soube por repórteres da repercussão negativa do saque de R$ 3,5bilhões que mandou fazer no saldo do estratégico Fundo Soberano, criado pelo governo há seis anos como uma reserva financeira para momentos de crise.
“É estarrecedor que questionem o uso do Fundo Soberano quando o país cresce menos do que crescia quando o Fundo foi formado”, acrescentou Dilma com sua dificuldade para construir frase harmônica. Ainda pairava no ar o novo rebaixamento da expectativa de crescimento do PIB neste ano. Agora, a três meses do fim do ano, com o índice inferior a 1%: 0,9.
O fundo foi criado para emergências, mas agora a candidata limpa o caixa para salvar a má aparência da gestão das contas públicas a quatro semanas do segundo turno presidencial. O fundo tinha R$ 3,8 bilhões. Agora Dilma levou R$ 3,5 bilhões. Sobraram R$ 300 milhões? Não, menos. Há uma semana, o patrimônio do fundo já estava desvalorizado em 10,7 por cento.
Por isso, espantaram-se técnicos do Banco do Brasil, cujos títulos formam o patrimônio do fundo, mas perdem valor por causa da falta de confiança no governo pelo mercado. A súbita presença de R$ 3,5 bilhões em títulos, à venda no mercado, em momento de crise, pressiona para baixo o valor dos papéis, numa espécie de leilão do banco.
Há dois anos, o Fundo Soberano já perdeu dinheiro, com Dilma, ao abrir mão de ações da Petrobras em troca de papéis do Banco do Brasil, como desejava o governo. O prejuízo rondou os R$ 400 milhões na operação. O espanto do pessoal do banco chegou ao Ministério da Fazenda. Lá, responderam que a venda de papeis do fundo não é certeza, mas possibilidade.
Porém, o mercado acredita na venda para maquiar as contas públicas. Ao sacar a grana de bilhões, a presidente gera uma ilusão. Finge que há equilíbrio fiscal. Cria superávit para fazer de conta que arrecada impostos num valor acima do que queima em gastos primários. Vale tudo em reeleição presidencial. É preferível vender os bens do Estado a cortar despesas.
Para poupar o público que vota para presidente, o aumento do imposto sobre a cerveja e refrigerantes foi adiado mais uma vez. Ficou para o ano que vem. Mais urgente, o novo aumento na conta de luz deve vir depois do segundo turno.
O aumento compensará o rombo de R$ 4 bilhões – superior ao dinheiro que estava no Fundo Soberano – para cobrir a grana gasta no pagamento a empresas de eletricidade na temporada de congelamento de tarifas. Prepare-se o eleitor-consumidor: a conta de luz mensal deve ficar 25 por cento mais cara.
Em nome da armação de uma contabilidade com números mais simpáticos nas contas do governo, mesmo que artificiais, a equipe econômica decidiu fazer de conta que o rombo na Previdência Social será menor do que a expectativa externa.
Para fechar as contas deste ano sem cortar gasto em temporada eleitoral, o Ministério da Fazenda passou a prever o rombo de R$ 40,6 bilhões neste 2014. No mercado, o cálculo é outro. O buraco na Previdência estará acima de R$ 50 bilhões. Sem contar o impacto do novo salário, a despesa com pagamento de precatórios, em novembro, deve exigir algo como R$ 3 bilhões.