Dois sítios arqueológicos encontrados dentro de uma área de condomínio de luxo no município de Pirenópolis poderão ser visitados pelo público. AA informação é da arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás, Margareth Souza, que acompanha o processo de licenciamento ambiental do empreendimento. Segundo ela, embora o local ainda não tenha data definida para visitação, o órgão já liberou o avanço das obras após o cumprimento das etapas legais de pesquisa e gestão do patrimônio arqueológico.

Os fragmentos de cerâmica

Os achados integram dois sítios distintos: o Morro do Frota 1, formado por estruturas de pedra usadas para extração de ouro de aluvião, e o Morro do Frota 2, onde foram identificados fragmentos de cerâmica pertencentes a antigas sociedades agrícolas. “Esses sítios foram identificados em 2022, durante o projeto de avaliação do patrimônio arqueológico exigido no processo de licenciamento ambiental. O cerâmico estava parcialmente destruído por atividades agropastoris e antigas extrações de rutilo, mas conseguimos resgatar todo o material remanescente”, explicou Margareth Souza.

De acordo com a arqueóloga, foram coletados cerca de 500 fragmentos cerâmicos — bordas e pedaços de vasilhames — que estão sendo analisados em laboratório. “Não há peças inteiras, mas com os fragmentos é possível reconstituir os desenhos originais, e até criar modelos em 3D, caso haja financiamento. Todos os estudos de campo e de laboratório já foram concluídos”, pontua.

Iphan prevê abertura controlada e ações educativas

Com a etapa de pesquisa encerrada, o projeto segue agora para a fase de programa de gestão do patrimônio arqueológico, que prevê monitoramento contínuo durante as obras do condomínio e ações de preservação e drenagem para evitar novos danos causados pelas chuvas. “Essas medidas vão garantir que as estruturas de pedra, que resistiram por mais de 200 anos, continuem preservadas”, ressalta.

A área de visitação será acessada por fora do condomínio, uma vez que os sítios são considerados bens da União, conforme determina a Constituição Federal. O local contará com infraestrutura de contemplação, como decks de madeira, sinalização interpretativa e trilhas educativas.

Além disso, parte do material coletado será exposta na sala de exibição do escritório do Iphan em Pirenópolis, e um catálogo educativo está sendo preparado para ser distribuído às escolas do município. “O mais importante é socializar o sítio, permitir que as pessoas conheçam e compreendam a história daquele território. Isso tudo faz parte de um processo de educação patrimonial”, afirmou Margareth.

Conexão com a história do ouro e das primeiras ocupações

Os vestígios encontrados reforçam o papel histórico do Rio das Almas, que corta Pirenópolis e foi amplamente explorado desde o século XVI pela mineração de ouro de aluvião. “Toda a região foi trabalhada nesse período. O sítio mostra essa continuidade entre as práticas mineradoras coloniais e ocupações anteriores, de tradições ceramistas possivelmente anteriores aos grupos indígenas Caiapó”, explicou a arqueóloga.

Margareth também destacou que o município possui outros sítios semelhantes, como o Museu Lavras de Ouro, localizado em área particular, que também preserva estruturas de mineração antigas. O Iphan estuda formas de captar recursos para requalificar o espaço e instalar novas placas e painéis informativos.

Veja fotos do Museu Lavras de Ouro

Leia também:

Sítios arqueológicos são descobertos em área de condomínio de luxo em Pirenópolis

Marcha “Levante Mulheres Vivas!” contra o feminicídio acontece neste domingo em Goiânia