Devido a preços baixos resultantes de boas safras consecutivas, os agricultores estão segurando uma parte de suas safras, esperando uma recuperação nos preços para aumentar a rentabilidade e cobrir os custos crescentes. Brasil enfrenta desafios estruturais em termos de capacidade de armazenamento, com um aumento na produção de grãos não sendo acompanhado proporcionalmente pela expansão da capacidade de armazenamento. Apesar dos desafios de preços, o PIB da cadeia da soja e do biodiesel é projetado para crescer em 2023, impulsionado pelo desempenho do setor agroindustrial, especialmente do biodiesel e do esmagamento e refino.

A modernização do campo com o implemento de tecnologias, maquinários e capacitação aliadas a uma sequência três boas safras de soja e milho abarrotou os armazens das cooperativas. Com o nível de armazenamento quase cheio, os produtores tem apostado na bolsa silo, já que o preço das commodities do ramo alimentício estão em queda, reduzindo a rentabilidade e praticamente impazes de cobrir os custos crescentes, impactados pelo conflito no Leste Europeu, que encarece o custo do petróleo e encarece os fertilizantes.

Em Rio Verde, para se ter uma ideia, a capacidade de armazenamento, segundo dados compilados pela reportagem a partir da base de dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é de 639,160 (seiscentos e trinta e nove mil cento e sessenta toneladas). O presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia, explicou que o armazenamento dos grãos está sendo feito em silo bag, em que o produto fica compactado como se estivesse embalado a vácuo. Tratam-se de estruturas temporárias de armazenamento para lidar com a falta de capacidade nos armazéns convencionais.

Com a venda das safras de soja e milho ainda em ritmo lento, ele disse que as ‘vendas das bolsas nunca foram tão altas’. Goiás tem a terceira maior de grãos no Brasil, com 10,3% de participação nacional. A Safra de Grãos 2023/24 prevê ainda produção de 317,5 milhões de toneladas, e será a segunda maior da história do país, ficando atrás apenas do ciclo 2022/23, que atingiu 322,8 milhões de toneladas, apontam dados de outubro divulgados pela Conab.

Segundo cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o IPPA/Cepea (Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos Agropecuários) acumulou expressiva queda nominal de 16,2% de janeiro a setembro de 2023 em relação aos nove primeiros meses do ano passado. Na mesma comparação, os preços internacionais dos alimentos (Índice da FAO) recuaram 14,7%, e os industriais (IPA-OG-DI produtos industriais), 4,8%. A taxa de câmbio (R$/US$), por sua vez, caiu 2,5%.

PIB da soja e biodiesel alavancados

O PIB total da cadeia da soja e do biodiesel deve crescer 20,72% este ano frente a 2022, conforme levantamento realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

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Segundo pesquisadores do Cepea/Abiove, o resultado positivo do PIB da cadeia produtiva no segundo trimestre refletiu o desempenho do PIB da agroindústria, em especial, do biodiesel e do esmagamento e refino. Isso trouxe reflexos no mercado de trabalho do segmento agroindustrial. A geração de empregos aumentou 4,63% frente ao mesmo trimestre de 2022. Já as exportações da cadeia registraram recorde, de US$ 26,8 bilhões, impulsionadas pelos maiores volumes embarcados, sobretudo do grão e do farelo de soja.

Apesar desse cenário, em razão do comportamento desfavorável dos preços ao longo do segundo trimestre, a renda real da cadeia poderá recuar 6,23% em 2023 frente a 2022. Ainda, devido a essa pressão negativa, as representatividades do PIB da cadeia no PIB do agronegócio e no PIB brasileiro foram reestimadas para baixo: 24,3% e 5,8%, respectivamente. De todo modo, nota-se que a cadeia produtiva manteve sua elevada dimensão econômica, com o PIB em 2023 estimado em expressivos R$ 637 bilhões.

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