Sessão que analisa cassação de Cunha causa polêmica
19 novembro 2015 às 16h31
COMPARTILHAR
Em manobra de aliados, análise de parecer que recomenda admissão de processo contra presidente da casa foi adiada para a próxima semana
A primeira reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, que analisa parecer contrário ao atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já causa polêmica na Casa. O objetivo da sessão desta quinta-feira (19/11) era analisar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) que recomenda a admissão da representação do Psol e da Rede contra Cunha por quebra de decoro.
[relacionadas artigos=”48325,43297,47936″]
Inicialmente programada para ocorrer na próxima terça-feira (24/11), a sessão foi antecipada porque Pinato não precisou de todo o prazo de que dispunha para concluir o parecer. Ele teria até o dia 19 para se defender, mas antecipou a divulgação para o dia 16. Segundo ele, a denúncia tem indícios suficientes e fato relevante para que seja instalada investigação.
Aliados de Cunha e seu advogado, Marcelo Nobre, reagiram criticando fortemente a atitude do relator. Segundo eles, o direito de defesa de Cunha não foi respeitado, embora o que esteja em discussão não seja o julgamento propriamente dito, mas sim a procedência do pedido formalizado pela oposição ao presidente. Apenas depois da aceitação do processo é que Cunha será notificado para apresentar, em até 10 dias, sua defesa.
A sessão chegou a ser anulada na manhã desta quinta-feira, mas foi retomada depois de fortes protestos dos parlamentares, que, ao terem que deixar a sala do Conselho para ir à sessão ordinária, chegaram a ficar de costas para o plenário. A presidência da Câmara foi acusada de marcar uma sessão apenas para atrapalhar a reunião.
A retomada foi assumida pelo presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA): “Não quero ser o causador de problemas, fazer com que todos os deputados se dirijam ao Conselho, mas se isto ocorrer, tenho de reabrir e farei”, disse.
Quem havia suspendido a sessão foi o deputado Felipe Bornier (PSD-RJ), que presidia a sessão, depois de os colegas de Casa, Manoel Júnior (PMDB-PB) e André Moura (PSC-AL) argumentarem que a reunião feriu o Regimento Interno por não ter repeitado o prazo de meia hora para ser iniciada, além de ter seguido em andamento mesmo após início da Ordem do Dia.
Depois de muitas discussões, a suposta manobra fez efeito e a análise do relatório de Pinauto foi adiada, sendo realizada apenas no dia 24, como estava previsto. No momento, os membros do Conselho se reúnem a portas fechadas para analisar supostas ameaças recebidas pelo relator e sua família.
Pedido de cassação
O processo do Psol e da Rede aponta as incongruências entre o depoimento de Cunha na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras e as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) como justificativa para a sua destituição de Cunha do cargo de presidente da Câmara.
Em março, quando falou aos parlamentares da CPI, Cunha negou ter contas bancárias com valores não declarados à Receita Federal. Uma investigação promovida pelo Ministério Público da Suíça diz o contrário: o deputado e sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz, segundo o órgão, mantém contas no país, atualmente bloqueadas, que a Receita desconhecia.
Antes, em agosto, o procurador-geral Rodrigo Janot já havia pedido a condenação de Eduardo Cunha pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ele supostamente ter recebido R$ 5 milhões em propina para facilitar contratos da Samsung Heavy Industries com a Petrobras. A denúncia de Janot se baseou em depoimento de Júlio Camargo, um dos presos da Operação Lava-Jato, à Justiça.
Segundo Cunha, Julio Camargo não havia falado sobre ele em depoimentos anteriores e o surgimento de seu nome na delação foi resultado de pressão de Janot. Ele sustenta ainda que as denúncias contra ele são uma tentativa de silenciá-lo. Para ele, é uma maneira de o governo parar sua atuação política, já que ele faz clara oposição à presidente Dilma Rousseff (PT).
Depois de se esquivar das denúncias de que ele estaria mantendo dinheiro não declarado, Eduardo Cunha argumentou que o dinheiro é proveniente de um negócio de venda de carne na África. Para embasar sua defesa, ele apresentou passaportes que atestam uma série de viagens a países do continente durante os anos 80.