Cinco parlamentares goianos são citados na Revista Crusoé em reportagem detalhada que afirma que a lógica seria a mesma dos escândalos de governos anteriores: usar dinheiro público para garantir o apoio de congressistas

A reportagem especial publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, no último domingo, 9, foi a primeira a revelar um esquema montado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no final do ano passado, em que para aumentar sua base de apoio no Congresso ele lança mão de um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares.

Para dissimular a distribuição de dinheiro público entre os aliados mais fiéis, o Governo criou um duto diferente: uma espécie de orçamento paralelo em que bilhões de reais são destinados a alguns ministérios e gastos, por debaixo dos panos, de acordo com o interesse de parlamentares escolhidos a dedo pelo Planalto.

A lógica, segundo a reportagem publicada nesta sexta-feira, 14, pela Revista Crusoé, é a mesma de escândalos que emergiram em governos anteriores: “usar dinheiro público para garantir o apoio de congressistas. Era assim no mensalão, o esquema descoberto no primeiro mandato de Lula, e era assim no Petrolão, em que contratos gigantescos da Petrobras se convertiam em propinas para políticos aliados do governo. A diferença é que, agora, sob Bolsonaro, a coisa se dá com recursos do orçamento, usando de subterfúgios para maquiar a distribuição.”

No Ministério do Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho, o dinheiro passou a ser gasto pela pasta de acordo com uma planilha elaborada pelo Planalto em que deputados e senadores foram agraciados, na medida de sua importância e de sua lealdade ao governo, com valores que eles próprios podiam dizer onde deveriam ser alocados. 

Cinco parlamentares goianos estão na lista dos que teriam sido contemplados pelo Governo Bolsonaro. O deputado Célio Silveira (PSDB) destinou para o munícipio de Valparaíso de Goiás o montante de R$ 2.091.500 e para Itapaci cerca de R$ 1.600.000.

José Nelto (Podemos) contemplou várias cidades do Estado, entre elas Formosa, além da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Codevasf é uma companhia estatal dominada pelo Centrão, indicada com a empresa destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo próprio Governo. O valor total de emendas do deputado junto ao “orçamento secreto” do governo chega a quase R$ 30.000.000.

Outro deputado citado é Vitor Hugo (PSL), líder no governo na Câmara Federal, destinou a Alexânia R$ 1.500.000.

Em reportagem publicada pelo Estadão, o senador Luiz do Carmo (MDB-GO), junto com o Weverton (PDT-MA), teriam indicado R$ 31 milhões do orçamento secreto. A assessoria do senador Luiz do Carno disse ao jornal que houve um “mal-entendido” e não apresentou ofício requerendo as emendas.

O senador Vanderlan Cardoso (PSD) que destinou entre R$30 a R$40 milhões de emendas para máquinas e equipamentos, por meio também da Codevasf, para municípios goianos. E para cidade de Betim, em Minas Gerais, informação que foi divulgada em matéria da Revista Crusoé e que, em nota enviada à redação do Jornal Opção, a assessoria do senador negou.

Segundo publicação da revista, dois sobrinhos do prefeito de Betim aparecem como donos da LLM Locação de Veículos, que teria recebido da Codevasf R$633,5 mil. Esse repasse teria sido feito à companhia a pedido do senador goiano Vanderlan Cardoso. A matéria da Revista Crusoé cita ainda a participação de um outro senador goiano, mas não confirma a identidade deste.

Gameleira de Goiás

A reportagem da Revista Crusoé citou ainda a cidade do interior de Goiás, Gameleira. Com 3,8 mil habitantes, localizada a pouco mais de 200 quilômetros de Brasília. Em 8 de dezembro do ano passado, Gameleira foi indicada como destino de 20 milhões de reais. Dinheiro do orçamento paralelo do Ministério do Desenvolvimento Regional.

De acordo com a reportagem, a indicação foi feita por Márcio Bittar, um senador do MDB do Acre que, à primeira vista, não tem relação nenhuma com o município. O prefeito, Wilson Tavares (DEM) disse não conhecer o senador Márcio Bittar, mas demonstrou estar ciente da transferência de recursos.

Dos recursos remetidos a Gameleira de Goiás que aparece na planilha secreta do Planalto, equivalente a 13 vezes a arrecadação anual de impostos do município, mais da metade já consta no sistema oficial do governo federal como paga. Só que, na prática, não há qualquer sinal de benfeitoria na cidade com esses recursos. No papel, embora seja suficiente para reformar a cidade inteira, o dinheiro deveria ser gasto com asfaltamento e recapeamento de ruas. Só que, até hoje, não há qualquer obra na cidade.