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Candidata Dilma Rousseff em comício bancado pelo dinheiro público
Candidata Dilma Rousseff em comício bancado pelo dinheiro público

Há mais de um mês a agenda da presidente Dilma estava em branco no Planalto. A dedicação presidencial era toda da campanha pela reeleição. O último registro era de 19 de setembro, quando a candidata foi ao escritório receber um grupo de atletas. Após 32 dias, Dilma mandou colocar na agenda presidencial a visita, na terça-feira, a Goiana, em Pernambuco.

Com isso, o novo voo eleitoral ao Nordeste se tornou programa oficial: uma visita a trabalho da presidente à fábrica local da Fiat. A viagem em campanha não foi paga pelo PT. A conta coube ao governo, com pompa e circunstância. O partido não pagou, mas fez a festa. A visita de Dilma, com discurso de campanha, ocorreu entre um mar de bandeiras petistas agitadas por fãs com camisas também em vermelho.

A burla permitiu a Dilma tripudiar em cima de seu rival a presidente, o tucano Aécio Neves. Coisa do Lula, que apareceu em Goiana para se juntar àquela espécie de comitiva presidencial. Ele era presidente, em 2009, quando acertou com a Fiat que a fábrica seria em Pernambuco, sua terra. Passou para trás o então governador Aécio, que se empenhou para a empresa fincar em Minas, aonde chegou em 1976, todas as suas unidades.

Na véspera da viagem a Goia­na, Lula ofereceu uma entrevista por telefone a rádio de Recife. Era para tirar sarro, conspirar contra o presidenciável tucano e gabar-se de seu poder a favor do Nordeste, onde o PT apresenta Aécio como inimigo lá no Sul Maravilha. Lula repetiu, por telefone, a história sobre como deixou o mineiro a ver navios, ops, automóveis.

Em campanha, o ex aproveitou a entrevista para se opor à proposta do desafiante tucano a favor da troca da reeleição por um único mandato de cinco anos. “Dois mandatos de quatro anos são o suficiente”, rebateu, fez as contas e demonstrou, com meio disfarce, que poderia voltar ao Planalto dentro de quatro anos.

“Quando chegar em 2018, eu terei 72 anos e tenho fé em Deus que o Brasil vai produzir quadros novos, jovens”, disfarçou, como se pudesse não ser candidato a presidente mais vezes. “A gente faz política, eu não sei como será o contexto político daqui a quatro anos”, deixou a porta aberta a uma convocação das massas pela volta.

Naquele mesmo dia da entrevista, ministros do Supremo Tribunal Federal nomeados por Lula e Dilma se manifestaram, no Rio, sobre a reforma do sistema político-eleitoral, mas não se pronunciaram sobre a manutenção da reeleição que o PT de Lula defende para esticar a permanência do partido no poder.