Quarta parte: “Se Neymar for o Romário da Copa do Mundo do Catar, o Brasil pode ser campeão”, diz Kajuru
21 setembro 2022 às 18h41
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Quarta e última parte da entrevista do senador Jorge Kajuru
Na quarta e última parte da entrevista, o senador Jorge Kajuru (Podemos) fala de sua amizade por Juca Kfouri, explica o motivo da crise entre ambos. Fala de Galvão Bueno, seu “velho” amigo. Afirma que, com Neymar “mordido”, o Brasil pode ser campeão na Copa do Mundo deste ano. “Não acredito que o Brasil irá se Catar”, assinala.
Kajuru fala de Bolsonaro, declara que tem pessoas passando fome no país e diz que, na crise da pandemia, o Brasil precisava de um estadista do porte de Juscelino Kubitschek.
Euler de França Belém — O que aconteceu entre o sr. e o jornalista Juca Kfouri, que eram grandes amigos e agora não são mais?
A rigor, não há uma explicação. O Juca [de 72 anos] e eu tínhamos uma relação de pai e filho. Eu almoçava e jantava na casa dele toda semana. Cheguei a substituí-lo como colunista no jornal “Folha de S. Paulo”. Juca ficou muito chateado com as críticas que fiz ao Antonio Roque Citadini, que era dirigente do Corinthians à época. Eu bati muito pesado, até na questão sexual. Foi um erro meu. Errei também com Boris Casoy e com Luciana Gimenez. Juca era amigo dele e tomou as dores. Ele mudou comigo e resolveu se afastar.
Cilas Gontijo — Vocês romperam as relações?
Na verdade, Juca nunca mudou sua posição comigo. Quando fui eleito senador, fez um elogio público a mim. Disse assim: “As voltas que o mundo dá. Aécio Neves… que demitiu Kajuru” [quando governador de Minas, o neto de Tancredo Neves teria pedido a cabeça do jornalista à Band]. Depois escreveu um artigo sobre mim, “O preço de ser digno”. Então, a rigor, nem se pode falar em rompimento. Até hoje sei que ele gosta de mim, assim como a mulher e os filhos. Ele preferiu ficar ao lado do Antônio Roque, que ficou magoado, com toda razão, e não aceitou minhas desculpas.
Tempos depois, fui à ESPN para dar uma entrevista ao programa “Bola da Vez”. Quando entro para me maquiar, Juca está saindo do estúdio. Ele, como sempre, colocou as duas mãos no meu rosto e me deu um beijo no rosto. Aquilo foi uma maravilha. Sei que, no fundo, Juca gosta de mim. Assim como gosto dele. Juca deveria ser chamado de Homem Decência, além de ser um jornalista inteligente e imensamente talentoso.
Euler de França Belém — O sr. conversa com o narrador esportivo Galvão Bueno? O que ele vai fazer quando sair da TV Globo?
Falo com Galvão sempre. Ele não vai parar. Se outra emissora chamar, ele vai. Só para de narrar quando morrer. Há informação de que iria trabalhar na internet [com o youtuber e empresário Filipe Neto], mas há outra de que o SBT vai lhe fazer uma proposta irrecusável.
Euler de França Belém — O sr. avalia que a Seleção Brasileira de futebol vai ser campeã em 2022 ou vai “se Catar”?
[Risos] Até o ano passado, eu achava que ia “se Catar”. Mas agora estou percebendo que há uma reação. Estou vendo jogadores individuais bons. Essa seleção lembra a do penta, que tinha um trio forte: Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. Tinha um time bom, com valores individuais expressivos. A atual seleção também tem. Neymar, de “saco” cheio de tanta sacanagem que se faz contra ele, começou a fazer gol sem parar. Neymar pode ser o Romário desta copa.
Euler de França Belém — Quem o sr. apoia para deputado federal e estadual neste ano?
Johnatas Messias [do Patriota] para deputado federal. Escolhi o jovem político por gratidão ao seu pai, o pastor José Messias, da Assembleia-Missões. Depois, ao conhecê-lo, vi que é um rapaz de ouro, que pensa como eu e ama o próximo. Para deputado estadual, não poderia deixar de apoiar o Valerinho [o advogado Valério Luiz Filho, do PT]. Cresci com o pai dele, o Valério Luiz, que foi assassinado em Goiânia por uma espécie de máfia. Sofri demais com sua morte. Foi uma das maiores tristezas de minha vida. E fico ainda mais triste porque, uma década depois de sua morte, não se fez justiça. Valerinho, se eleito, fará a diferença na Assembleia Legislativa de Goiás. Ele é inteligente, culto, disciplinado e focado. Será ainda melhor do que o avô [Manoel de Oliveira, falecido]. Ele escolheu o número 13012. É uma homenagem ao pai, que nasceu em 13 dezembro.
Euler de França Belém — A Covid-19 matou quase 700 mil pessoas no Brasil. Pode-se falar que houve e ainda há uma “guerra civil” no país. Não faltou um estadista do porte de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso para lidar com a pandemia e salvar vidas?
De fato, o presidente Jair Bolsonaro enfrentou mal a pandemia do novo coronavírus. Se o presidente fosse um político da estatura de Juscelino Kubitschek, que foi senador por Goiás, a história teria sido outra. Bolsonaro não demonstra ter sentimento em relação aos mortos e às suas famílias. É de uma insensibilidade que deveria espantar até aqueles que o apoiam.
Euler de França Belém — O presidente Jair Bolsonaro diz que não tem fome no Brasil. O sr. sugere que o próximo presidente deve se preocupar mais com as pessoas que são pobres, com as que passam fome?
Por que Bolsonaro será derrotado? O principal motivo é a fome do povo. Em qualquer lugar que se vai tem gente pedindo comida ou dinheiro para comprar comida. Só um nefelibata como Bolsonaro não percebe a realidade à sua volta. Há milhões de brasileiros que querem trabalhar, mas não há empregos. Mais: estão sem esperança. Nada é mais humilhante do que a fome. Pode-se sugerir, portanto, que o principal general eleitoral de Lula da Silva, o candidato a presidente pelo PT, é Bolsonaro, que está de costas para o Brasil real.
Lula, se for eleito, terá de fazer um imenso trabalho social. Ele poderia viajar pelo mundo, como aprecia, e deixar o governo por conta de seu vice, Geraldo Alckmin, que sabe administrar. Como se sabe, Lula não está bem de saúde. Por isso será mais adequado dividir a gestão com seu vice. Se fizer isto, fará um grande governo. Mas claro que sei que o PT é exclusivista e não gosta de dividir o poder.
Euler de França Belém — Kajuru, você sempre diz ter uma grande admiração por sua mãe. Qual é o motivo? É um edipiano?
[Risos] Não. Minha mãe era uma grande mulher, de uma solidariedade imensa. Deixava de comprar roupa para mim, mas deixava pago o pão, a mortadela e o refrigerante. Fora o essencial, para a subsistência, minha mãe só me dava livros. Fui ler o ucraniano Liev Trótski com 9 anos de idade. Com 10 li Fiódor Dostoiévski. Com 15 anos li “O Capital” [de Karl Marx], e em duas semanas. Depois, estudei o filósofo Baruch de Espinosa e Homero (“Ilíada” e “Odisseia”). Li também Machado de Assis, o autor de “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Sempre fui hiperativo.
Cilas Gontijo — O sr. escreveu quantos livros?
Publiquei três livros.
Marcos Aurélio Silva — Tem filhos e plantou uma árvore?
[Risos] Como Machado de Assis, não tenho filhos. E, infelizmente, ainda não plantei uma árvore. Mas não vou morrer sem plantar algumas.