“Se não for na Justiça, a criança morre”: pais relatam abandono em UPA de Goiânia

12 maio 2025 às 21h15

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Pais de crianças internadas com bronquiolite na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu, em Goiânia, denunciam que o acesso a leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) só foi possível após decisão judicial. Segundo os relatos, a situação da saúde pediátrica na capital é crítica, com falta de vagas e atendimento considerado negligente. “Se não for na Justiça, a criança morre”, relata mãe.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que declarou que há leitos de UTI pediátrica disponíveis e que a responsabilidade é compartilhada com o Estado [veja a nota ao final da matéria].
Cristielen, mãe do pequeno Noah, que deu entrada na unidade no dia 8 de maio, afirma que o filho só conseguiu ser transferido após intervenção da Justiça. “A vaga só saiu porque houve a intervenção judicial”, disse. O bebê Athos Júnior Rodrigues Dantas, de apenas 27 dias, foi internado no local dois dias antes, em 6 de maio. O pai, Athos Matheus, também precisou recorrer ao Judiciário. “Precisamos recorrer à Defensoria Pública”, contou.
Os pais denunciam o que classificam como descaso e superlotação na unidade. “A situação da UPA está um caos”, disse Athos Matheus. Cristiele afirma que a rede municipal de saúde não tem vagas para internação de crianças e aponta negligência no atendimento. “Se não bastasse a falta de vaga, ainda sofremos com a negligência por parte dos atendentes, que não dão a importância devida aos casos de bronquiolite. As crianças chegam e eles não estão nem aí”, relatou.
A mãe de Noah também relatou dificuldades para transportar o filho até o Hospital São Marcos, em Itumbiara, onde havia um leito de UTI disponível. Segundo ela, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) inicialmente recusou o translado e só o realizou após determinação judicial. “Eles alegaram que o quadro do meu filho não era grave”, afirmou.
Athos Matheus relatou que a vaga para o filho só foi garantida após acionar a Defensoria Pública no domingo, 11. “Eles falam que não tem vaga, mas quando a gente recorre judicialmente, essas vagas aparecem?”, questionou.

Ainda de acordo com o pai, outras crianças enfrentam a mesma situação. “Meu filho está na sala de observação infantil e, junto com ele, estão mais três crianças com o mesmo problema de saúde”, afirmou. Ele também denunciou a presença de quatro idosos na sala vermelha da UPA, todos à espera de vaga em UTI.
O pai também criticou a conduta da equipe médica ao relatar que uma criança com diagnóstico posterior de influenza foi colocada na mesma sala dos demais pacientes. “Jamais poderiam ter colocado ela junto a outras pessoas. Uma irresponsabilidade sem tamanho”, declarou. A criança foi transferida para uma sala separada após a confirmação da doença.
Por fim, Athos Matheus afirmou que a transferência do filho estava prevista para a manhã desta segunda-feira, mas, até as 16h, ainda não havia ocorrido por falta de equipe médica na unidade do SAMU designada para o transporte. “Estamos esperando que enviem uma viatura devidamente equipada”, concluiu.
Veja nota da SMS na íntegra:
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informa que possui sete leitos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica na rede municipal. A SMS ressalta que a oferta de vagas de UTI não é responsabilidade exclusiva do município, mas competência compartilhada entre os entes federativos, e os leitos também são ofertados pela rede estadual de saúde. Nos dois casos em questão, a Justiça determinou à Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) o fornecimento dos leitos de UTI Pediátrica.
A secretaria informa que a transferência entre unidades pelo SAMU precisa levar em consideração as condições clínicas dos pacientes durante todo o trajeto e que para informações específicas sobre o transporte precisa de nome completo, data de nascimento e número de CPF ou nome da mãe.
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