Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descreveram uma nova espécie de sapo-pulga, Brachycephalus dacnis, que mede 6,95 milímetros, tornando-se o segundo menor vertebrado já registrado no mundo. O estudo, publicado na revista PeerJ em 25 de outubro deste ano, foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O Brachycephalus dacnis é a sétima espécie identificada no gênero Brachycephalus, conhecido por incluir indivíduos com menos de um centímetro de comprimento. Um exemplo anterior da mesma linhagem foi encontrado no sul da Bahia, onde um dos sapos mediu 6,45 milímetros. Esses sapos são suficientemente pequenos para se acomodar sobre a unha de um adulto ou sobre uma moeda de 50 centavos, o que destaca suas dimensões diminutas e intrigantes.

A nova espécie foi nomeada em homenagem ao Projeto Dacnis, que protege áreas da Mata Atlântica em São Paulo, especialmente na região de Ubatuba, onde os sapos foram coletados. Segundo Luís Felipe Toledo, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador do estudo, a miniaturização dos sapos-pulga envolve adaptações evolutivas, como fusões e perdas de ossos, além da ausência de dígitos e outras partes da anatomia típicas de sapos maiores. Essas características permitem que os sapos-pulga se integrem ao seu habitat de maneira única e eficaz.

Os pesquisadores notaram que, apesar de sua diminuta estatura, o canto do B. dacnis chamou a atenção. Sua morfologia é semelhante à de outra espécie, o B. hermogenesi, que também vive no folhiço da mata. Ambas as espécies apresentam pele marrom amarelada e não possuem girinos, emergindo dos ovos já como sapos. No entanto, o canto do B. dacnis se distingue, e o sequenciamento de DNA realizado pelos pesquisadores confirmou que se trata de uma nova entidade.

Toledo também indicou que, ao visitarem Picinguaba, em Ubatuba, onde foram encontrados os sapos que serviram de base para a descrição do B. hermogenesi, os pesquisadores notaram que B. dacnis também ocorre na mesma área. Essa sobreposição geográfica levanta questões sobre a diversidade do gênero e sugere que exemplares antigos depositados em coleções zoológicas podem conter DNA histórico que ajudaria a esclarecer a relação entre as espécies. Essa abordagem pode enriquecer o entendimento sobre a diversidade genética e as interações evolutivas entre os sapos-pulga.

Além das análises morfológicas, os pesquisadores acrescentaram informações sobre o esqueleto e os órgãos internos do B. dacnis, bem como dados moleculares e do canto, para uma descrição mais completa. Essa abordagem abrangente visa aumentar a precisão na identificação de novas espécies, especialmente aquelas que são crípticas, ou seja, que não podem ser diferenciadas apenas pela anatomia externa.

Sapo-pulga Brachycephalus dacnis pode ter menos de 7 milímetros | Foto: Luís Felipe Toledo/IB-Unicamp

A descoberta do B. dacnis é uma contribuição significativa para a compreensão da biodiversidade dos anfíbios brasileiros. Os sapos-pulga, até recentemente mais conhecidos por suas cores vibrantes e toxicidade, agora estão atraindo a atenção dos pesquisadores devido ao seu tamanho pequeno e adaptações evolutivas. A diversidade desses sapos em miniatura pode ser maior do que se imagina, destacando a importância de iniciativas de conservação para proteger não apenas os habitats da Mata Atlântica, mas também as inúmeras espécies que habitam essa rica e ameaçada região.

Essas descobertas ressaltam a importância de um trabalho contínuo na identificação e preservação da fauna local, pois cada nova espécie representa uma parte vital do ecossistema. Com a crescente pressão sobre os habitats naturais, a conservação dos anfíbios, incluindo os sapinhos-pulga, é essencial para garantir a saúde e a integridade dos ecossistemas da Mata Atlântica.

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