A sensibilização ao compartilhamento das ruas e dos espaços públicos é um aprendizado que segue ao longo da vida, durante toda a escolaridade e no universo das empresas

Celeste Gomes del Salto (Madri) – Especial par ao Jornal Opção

Goiânia é uma cidade progressista, sempre disposta a acolher as novidades que são trazidas de todas as partes do planeta, é uma cidade que abre suas portas para viver experiências comprovadas com êxito em outros países, que seja no Japão, nos Estados Unidos ou na França, esse foi o pensamento da goiana Michele Gomes de Melo ao tomar a decisão de retornar ao Brasil e oferecer o trabalho que ela realizava para o governo francês.

A ideia surgiu quando Michele pesquisou os dados mundiais de acidentes de tráfico, deparou com a reportagem de que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países de alta mortalidade no trânsito, precedido por Índia, China, EUA e Rússia. Foi então que ela começou a pensar que podia prestar sua ajuda aos brasileiros, levando à sua terra natal um projeto inovador e realizando o mesmo trabalho que ela prestava aos cidadãos franceses.

Michele morava em Nantes, a capital do estado de Loire Atlantique, uma cidade cultural localizada nas margens do rio Loire. Nessa cidade, também conhecida como a porta do Val de Loire, com belas paisagens, particularmente pelos castelos e jardins, ali ela realizava um trabalho de analista de estudos em segurança viária no governo do estado, um trabalho de conscientização prática à segurança no trânsito às pessoas.

Seu pensamento de retornar ao seu país com um projeto de ajuda aos seus conterrâneos, criou dimensão quando o Ministério da Saúde, publicou o registro de acidentes em 2019: 31.945 mortes em decorrência de ocorrências no trânsito brasileiro. Dentre estes registros, 6.018 foram de pedestres, quase 19% das mortes. Era um índice bastante alto e a sensibilizou. A partir desse dia a ideia de retornar criou forma e começou a estruturar a maneira de colaborar para melhorar a segurança no trânsito da sua própria gente, da sua própria cidade, Goiânia. Finalmente em dezembro de 2020, em plena pandemia, ela e seu marido francês, deixaram os seus trabalhos e a França, onde ela residia desde 1992, e embarcaram para o Brasil, para realizar o sonho de oferecer educação viária a todos.

Criaram uma empresa chamada EDUCMOOV voltada à conscientização prática à segurança no trânsito. Ela nos conta que na França, a sensibilização ao compartilhamento das ruas e dos espaços públicos é um aprendizado que segue ao longo da vida, durante toda a escolaridade e no universo das empresas.

Conheci o seu trabalho na França, e me atrevi a participar de uma simulação de acidente. Essa experiência é feita em simulador de colisão e capotamento, devo dizer que me sobressaltou, é assustador a sensação da perda do controle.

Educar sobre segurança no trânsito deve ser uma questão fundamental na vida das crianças. Na Espanha é atualmente tratada como uma disciplina transversal e não obrigatória, ou seja, é ministrada através de todas as outras disciplinas. Em 2019, ocorreram 1.007 acidentes fatais nas estradas interurbanas da Espanha, nos quais morreram 1.098 pessoas. A Direção Geral de Trânsito (DGT) vem planejando há vários anos a implementação de um plano de segurança viária para melhorar esses números. Estão estudando a introdução de um curso de segurança viária que integre as disciplinas obrigatórias de escolas e institutos, e foi levantada uma proposta não legislativa na mesa do governo que foi aprovada em 2015 no Congresso de Deputados.

A Comissão Europeia incita a todos os países a criarem uma estratégia de educação e formação em segurança rodoviária como elemento-chave para reduzir os acidentes em 50%, mas nem todos os países europeus a aplicam da mesma forma. Embora em vários países da Europa a segurança no trânsito já é uma disciplina obrigatória.

As missões da EDUCMOOV

Em 2020, apesar da pandemia, 1.500 pessoas morreram no trânsito em Goiás, e 12.600 pessoas ficaram com sequelas permanentes. Com a perda de vidas, há grandes traumas para a sociedade e impactos diretos e indiretos na economia, uma morte no trânsito custa à sociedade quase 800.000 reais. Em Goiás, foram quase 1 bilhão de reais perdidos apenas em 2020.

Segundo ela, para responder a este problema, toda a sociedade deve se unir, tanto a sociedade civil quanto às autoridades públicas. A especialidade da EDUCMOOV, que é uma empresa certificadora, filiada ao programa Laço Amarelo do Observatório Nacional de Segurança Viária, é justamente a sensibilização e o treinamento prático e lúdico de todos.

Também comentou que a ação da Educmoov é dirigida às empresas, escolas, condomínios, seguradoras, poderes públicos e finalmente a todos aqueles que utilizam as estradas.

Assim, a Michele trouxe para o Brasil uma gama de ferramentas inovadoras, são workshops simples, fáceis e personalizados, como por exemplo, uma pista de bicicletas para crianças, óculos de simulação à embriaguez, drogas e psicotrópicos, um simulador de frenagem e utilização do telefone ao volante, entre outras coisas. Sua intenção é chegar às escolas, aos condomínios e participar de projetos com o governo do estado. E acrescenta que o seu desejo é investir em pesquisa e desenvolvimento para criar ferramentas como simulador de colisão e capotamento.