Saiba quem são: policial militar e advogada presos por agiotagem e extorsão em Luziânia
30 novembro 2025 às 10h59

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A prisão de três policiais militares, dois civis e da advogada Tatiane Meireles, nesta sexta-feira, 28, expôs um esquema de agiotagem, tortura e extorsão que operava em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. As investigações da Polícia Civil apontam que o grupo era liderado pelo PM Herbert Francisco Póvoa, conhecido como “Sargento Póvoa”, ex-candidato a vereador pelo PL em 2024.
Vídeos anexados ao inquérito mostram agressões físicas, ameaças e tortura contra supostos devedores do esquema. Em uma das gravações, Póvoa aparece desferindo chutes contra um homem no chão, enquanto Tatiane, sua esposa, golpeia a vítima com um taco de baseball e grita ordens para que ele “levante os braços”. A identidade da vítima não foi divulgada.
A corporação também apreendeu armas e cerca de R$ 10 mil em espécie. A própria Polícia Militar de Goiás comunicou o caso às autoridades e cumpriu as prisões, segundo nota.
A ação foi conduzida pelo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) da 5ª Delegacia Regional de Polícia e contou com apoio da Polícia Militar. Segundo a corporação, foram cumpridos mais de 10 mandados de busca e apreensão e nove mandados de prisão. Dentre os presos estão três militares, agiotas e uma advogada.
O Jornal Opção não conseguiu localizar a defesa dos investigados para que se posicionassem.
OAB afasta advogada
Tatiane Meireles ocupava, desde agosto, a presidência da Comissão de Direitos Humanos da OAB subseção de Luziânia. Após a divulgação das imagens, a Ordem determinou seu afastamento preventivo e afirmou que vai instaurar um procedimento ético-disciplinar para apurar os fatos.
Em nota, a OAB-GO afirmou que “a conduta relatada é absolutamente incompatível com a ética, a dignidade e os princípios que regem a advocacia”, e reiterou que não compactua com práticas de violência ou abusos cometidos por profissionais inscritos nos quadros da instituição.
Polícia aponta funcionamento de organização criminosa
A Polícia Civil classifica o grupo como uma organização criminosa voltada à cobrança de dívidas com juros abusivos, extorsão e violência. Herbert Póvoa, que já havia sido denunciado pelo Ministério Público de Goiás em 2016 por tortura mediante omissão em um caso ocorrido no Ciops de Valparaíso, seria o articulador principal.
Os investigadores identificaram movimentação financeira expressiva e o uso da estrutura jurídica da advogada para dar aparência de legalidade às cobranças. As prisões foram decretadas pela Justiça após a apresentação dos vídeos e demais elementos de prova.
Além dos processos por violência, Póvoa já foi condenado pela Justiça Eleitoral por litigância de má-fé ao usar informações falsas contra adversários durante campanha. Em 2024, disputou uma vaga na Câmara Municipal de Luziânia pelo PL com discurso moralista e anticorrupção.
Durante a campanha, chegou a circular pela cidade em trio elétrico fazendo ataques pessoais ao então prefeito e familiares.
A Polícia Militar informou que ele estava afastado das atividades nas ruas por motivos psicológicos e havia retornado recentemente ao serviço administrativo.
A PM afirmou, em nota, que “não compactua com desvios de conduta” e que já adotou medidas administrativas cabíveis.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil de Luziânia, que ainda tenta identificar outras possíveis vítimas e rastrear a abrangência financeira do esquema.
Próximos passos na Justiça
Os seis presos seguem à disposição do Poder Judiciário. As defesas ainda não se manifestaram publicamente. A OAB-GO reiterou que acompanhará o caso sob o ponto de vista institucional e ético, mas não prestará assistência jurídica à advogada investigada.
A investigação trabalha com três frentes principais:
- extorsão mediante sequestro,
- tortura,
- agiotagem com juros abusivos,
- além de possível lavagem de dinheiro.
Leia a nota da OAB:
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), por meio da Subseção de Luziânia, repudia, com veemência, o suposto envolvimento de uma advogada em um caso de agressão ocorrido no município.
A conduta relatada é absolutamente incompatível com a ética, a dignidade e os princípios que regem a advocacia, especialmente o compromisso da profissão com a legalidade, o respeito aos direitos fundamentais e a preservação da integridade física e moral de qualquer pessoa.
Diante da gravidade da situação, a Subseção determinou o afastamento preventivo da profissional de suas funções institucionais.
Paralelamente, a Seccional informa que instaurará procedimento ético-disciplinar no âmbito do Tribunal de Ética e Disciplina, a fim de apurar os fatos com rigor, assegurando o contraditório e a ampla defesa, como determina o devido processo legal.
A OAB-GO deixa claro que não compactua com quaisquer práticas de violência, abuso ou desvio de finalidade no exercício da advocacia e seguirá atuando com firmeza para preservar o prestígio, o respeito e a responsabilidade social da advocacia goiana.
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