A família de Maria Vilma, servidora aposentada do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), vive um drama desde a última semana, quando a goiana foi morta em Buenos Aires após ser agredida por um morador de rua com problemas mentais.

A idosa, que acompanhava a filha durante o período letivo na Universidade de Buenos Aires (UBA), não resistiu à queda provocada pelo golpe e morreu horas depois em um hospital da capital argentina. O Jornal Opção conversou com o afilhado de Maria Vilma, que relatou, em detalhes.

Maria Vilma viajava todos os anos para Buenos Aires entre agosto e dezembro para acompanhar a filha, Carolina, que cursa o último ano de Medicina na UBA. Segundo o afilhado, essa presença era uma forma de apoio diante das exigências do curso.

“Minha madrinha é uma servidora aposentada pelo TJ. Acho que ela já está aposentada há alguns anos. Minha prima está cursando o último ano de medicina na UBA. E todos os anos, no período de agosto até dezembro, a minha madrinha ia para poder acompanhar a minha prima na faculdade, porque o curso de medicina na UBA é um tanto quanto complexo”, contou.

A rotina em Buenos Aires era tranquila. Maria Vilma costumava caminhar pela cidade, visitar igrejas e resolver pendências do dia a dia, como trocar dólares para pagar o aluguel, prática comum entre estrangeiros na Argentina.

“A minha madrinha sempre gostou muito de morar em Buenos Aires por alegar que era um lugar muito seguro. Saía para caminhar, para trocar o dólar, para pagar o aluguel. E no dia 5 ela saiu para fazer esse trâmite que ela fazia todos os meses”, relatou o afilhado.

A agressão e a morte

No trajeto até o local onde costumava trocar dinheiro, Maria Vilma foi atacada por um homem em situação de rua. Segundo o policial que atendeu a ocorrência, o agressor sofre de transtornos mentais.

“O policial que ligou para minha prima alegou que ele tinha problemas mentais, e acabou agredindo com um golpe no rosto da minha madrinha. Com isso ela caiu no chão e, por ser idosa, já não conseguiu suportar a queda. E foi justamente a queda que trouxe o traumatismo craniano”, explicou.

Carolina, filha da vítima, foi avisada enquanto estava na faculdade. O contato só foi possível porque a mãe carregava na bolsa um cartão com os dados da estudante. “Minha prima foi notificada quando estava na faculdade por um policial muito solícito e educado. Ele foi muito cuidadoso, explicou a situação pra ela”, disse o afilhado.

Ao chegar ao hospital, Carolina encontrou a mãe já muito debilitada e sem consciência. Os médicos foram diretos ao dizer que o quadro era grave. “Os médicos alegaram pra minha prima que não tinha muita esperança, por conta dos ferimentos no crânio.” Poucas horas depois, Maria Vilma morreu.

A dor ampliada pela burocracia

Além da perda inesperada, a família enfrenta agora dificuldades para repatriar o corpo. O custo do trâmite, cerca de R$ 70 mil, foi arrecadado em apenas dois dias graças a uma vaquinha. No entanto, o processo segue travado.

“Mesmo juntando esse valor, agora a gente está enfrentando um problema em relação ao laudo, que precisava ser liberado pelo governo argentino para a liberação do corpo. Eles estão sendo um tanto quanto inflexíveis”, afirmou.

A prima Paula Lima, advogada, está em Buenos Aires acompanhando Carolina, mas até agora a família não recebeu uma resposta definitiva sobre a liberação do corpo.

“Vivenciar um luto em um contexto como esse, em que a gente não tem acesso ao corpo, não tem uma resposta definitiva, vem se tornando um processo ainda mais desafiador para todo mundo”, desabafou. A missa de sétimo dia está sendo realizada sem que a família tenha sequer podido velar o corpo.

“Estamos sem chão”

O afilhado, que morou por dois anos em Buenos Aires e havia retornado ao Brasil poucos dias antes do crime, diz que toda a família está devastada.

“É um momento muito triste para mim, um momento muito triste para a minha família. Hoje mesmo eu estava reflexivo sobre o fato de como é desgastante para mim, que sou afilhado e fui criado como um filho, ter que falar sobre esse assunto”, disse.

Ele teme pelo sofrimento da prima. “Eu fico imaginando para a minha prima. Acho que por isso ela não está conseguindo responder todo mundo, porque para ela é ainda mais delicado. Ela presenciou tudo de perto, ela é filha.”

Apesar da dor, ele afirma que continuará divulgando o caso para que chegue às autoridades argentinas e acelere a liberação do corpo. “Quanto maior o alcance, melhor. Nos últimos dois dias o alcance na Argentina aumentou um pouco, e é isso que nos dá esperança. Acreditamos que o corpo da minha madrinha vai poder chegar aqui o quanto antes.”

A família aguarda, agora, que o governo argentino finalize os procedimentos necessários para que Maria Vilma possa ser trazida de volta a Goiás.

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