Saiba quais são os 3 principais fatores que aceleram o declínio cognitivo
30 março 2024 às 10h36
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A diabetes, a poluição do ar relacionada ao trânsito e a ingestão de álcool são os mais prejudiciais entre 15 fatores de risco que aceleram o declínio cognitivo em um indivíduo. A pesquisa “Os efeitos dos fatores de risco genéticos e modificáveis nas regiões do cérebro vulneráveis ao envelhecimento e às doenças” foi realizada pela Universidade de Oxford e publicada na última quarta-feira, 27, na revista Nature Communications. Veja todos os 15 fatores ao final da reportagem.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com demência vai crescer em mais de 150% até 2050, passando de 55 para 139 milhões de casos. Anteriormente, foi identificada uma rede de regiões cerebrais de ordem superior que é particularmente vulnerável ao processo de envelhecimento, esquizofrenia e doença de Alzheimer. No entanto, ainda não se sabe completamente quais são as influências genéticas nesta rede cerebral delicada e se ela pode ser modificada pelos fatores de risco modificáveis mais comuns para a demência.
“Sabemos que uma constelação de regiões do cérebro degenera mais cedo no envelhecimento, e neste novo estudo demonstramos que estas partes específicas do cérebro são mais vulneráveis à diabetes, a poluição – cada vez mais um fator importante na demência – e o álcool, de todos os fatores de risco comuns para a demência”, afirmou a pesquisadora Gwenaëlle Douaud ao Jornal O Globo.
A equipe de pesquisa utilizou exames cerebrais de 40.000 participantes do Biobank do Reino Unido com mais de 45 anos. Foram analisados 161 fatores de risco, considerados “modificáveis” por serem passíveis de alteração ao longo da vida para reduzir o risco de demência, além dos efeitos naturais do envelhecimento.
Em estudos anteriores, pesquisadores de Oxford identificaram 11 fatores que estão mais significativamente associados a um maior risco de demência nos 14 anos seguintes. Embora três desses fatores (idade, histórico familiar e gênero masculino) sejam imutáveis, os outros oito são passíveis de modificação, o que sugere a possibilidade de intervenção para reduzir o risco.
“O que torna este estudo especial é que examinamos a contribuição única de cada fator de risco modificável analisando todos eles em conjunto para avaliar a degeneração resultante deste “ponto fraco” cerebral específico. É com este tipo de abordagem abrangente e holística – e uma vez tidos em conta os efeitos da idade e do sexo – que três surgiram como os mais prejudiciais: a diabetes, a poluição atmosférica e o álcool”, escreveu o professor Anderson Winkler, coautor dos Institutos Nacionais de Saúde e da Universidade do Texas Rio Grande Valley, nos EUA.
Mais sobre a pesquisa
O desenvolvimento de estratégias preventivas baseadas na modificação dos fatores de risco pode ser uma abordagem bem-sucedida para promover um envelhecimento saudável. Além dos fatores cerebrovasculares, como pressão arterial elevada, diabetes e obesidade, os fatores de estilo de vida, como o consumo de álcool, e os fatores de proteção, como o exercício, também desempenham um papel importante na saúde cognitiva. Uma comissão da Lancet examinou o impacto de 12 fatores de risco modificáveis para a demência e mostrou que eles podem ser responsáveis por 40% dos casos mundiais.
Embora os fatores genéticos sejam não modificáveis, eles podem fornecer insights sobre os mecanismos subjacentes aos fenótipos de interesse, como doenças neurodegenerativas. A sobreposição genética entre diferentes doenças, como Alzheimer e Parkinson, destaca a complexidade desses distúrbios.
A avaliação da susceptibilidade ao envelhecimento pouco saudável pode ser feita de forma objetiva e robusta observando marcadores de imagem cerebral. Neste estudo, invetigou-se a associação entre uma rede cerebral específica, conhecida como rede LIFO, e 161 fatores de risco modificáveis em uma grande coorte do UK Biobank. Esses fatores foram classificados em 15 categorias amplas, abrangendo desde pressão arterial até educação.
Em estudos anteriores com a coorte de expectativa de vida, foram considerados não apenas os volumes parciais de substância cinzenta, mas também medidas de espessura cortical e área de superfície. No entanto, a rede LIFO não demonstrou contribuição desses parâmetros, indicando que processos específicos detectáveis apenas por mapas de volume parcial podem estar envolvidos, especialmente em regiões como o cerebelo e as estruturas subcorticais.
As limitações do estudo incluem a natureza dos dados disponíveis no UK Biobank, a codificação das variáveis e a presença de valores ausentes. Além disso, foi assumido um efeito linear e aditivo de cada fator de risco na vulnerabilidade cerebral LIFO, o que pode não capturar completamente a complexidade do processo de envelhecimento cerebral.
Em conclusão, o estudo identificou fatores modificáveis e não modificáveis associados às regiões mais vulneráveis do cérebro. Além da idade e do sexo, fatores como diabetes, poluição e consumo de álcool foram os mais prejudiciais para essa rede cerebral. Adicionalmente, foram descobertas variantes genéticas nos cromossomos sexuais relacionadas a um grupo sanguíneo pouco explorado, abrindo caminho para pesquisas adicionais sobre seu papel no envelhecimento cerebral não saudável.
Lista completa com todos os fatores
- Idade;
- Educação;
- Histórico e diabetes;
- Histórico (ou situação atual) de depressão;
- Deficiência auditiva;
- Histórico de AVC;
- Deficiência de vitamina D;
- Os pais terem demência;
- Classe socioeconômica mais baixa;
- Pressão alta;
- Colesterol alto;
- Poluição do ar;
- Ingestão de álcool
- Viver sozinho e
- Ser homem.