A um ano e três meses da eleição para governador, senador, deputado federal e deputado estadual, os bastidores da política goiana já fervilham com movimentações que vão muito além da costura de alianças partidárias e ideológicas. O pragmatismo político, com foco na disputa e, claro, em vencer as eleições, costumam levar os partidos a se alinharem com antecedência e muita estratégia. A experiência mostra que quem deixar para articular apoios em cima da hora poderá enfrentar dificuldades para se viabilizar nas urnas.

Com isso em vistas, a base do Palácio das Esmeraldas, liderado pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB), se fortaleceu com as eleições municipais de 2024 e cresce com a articulação em busca de nomes que não compuseram o grupo e até com opositores.

Daniel será o candidato natural à sucessão estadual, enquanto Gracinha Caiado, primeira-dama do Estado, é a pré-candidata ao Senado Federal. Desde 2022, a aliança que elegeu Caiado e Daniel se fortaleceu com adesões importantes, como a do senador Vanderlan Cardoso e do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, ambos do PSD — que, à época, integrava a oposição. A entrada desses nomes representa um esvaziamento do campo oposicionista e o reforço significativo à base governista.

Coalização robusta

A coalizão tem como trunfos os dois maiores partidos com presença consolidada em Goiás — União Brasil e MDB — que contam com amplo acesso ao Fundo Eleitoral, ao Fundo Partidário e ao tempo de televisão. O grupo já é considerado o mais estruturado para 2026, reunindo também Progressistas, PDT, Avante, Republicanos, PSD, PRD, Agir e Democracia Cristã.

Por exemplo, UB e MDB tem juntos quase R$ 1 bilhão em fundo eleitoral. Claro que, a distribuição depende da Executiva Nacional de ambas as legendas, mas por obviedade, o MDB tende a garantir uma boa fatia do fundo para ampliar o número de governadores. Tem três hoje.

Paulo Ortegal, dirigente do MDB, acredita que a sucessão será marcada pela continuidade, sem rupturas políticas ou administrativas. “Existe um entendimento muito grande entre Caiado e Daniel. Já participei de mudanças de governo e essa será tranquila. Não há risco de descontinuidade. A aliança com o PL pode se concretizar no tempo certo. É um partido forte e representativo, e um eventual acordo será benéfico para todos”, afirma.

Além do tempo de televisão, os recursos financeiros provenientes do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) são determinantes para a construção das campanhas. O Fundo Partidário sustenta as atividades rotineiras dos partidos e é distribuído mensalmente, com 5% igualmente divididos entre todos os partidos e 95% conforme a votação para deputado federal.

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Já o Fundo Eleitoral, criado após o fim do financiamento empresarial de campanhas, é destinado exclusivamente à corrida eleitoral, com regras semelhantes: 2% igualmente entre todos os partidos; 35% conforme os votos válidos para deputado federal; 48% proporcional ao número de deputados eleitos; e 15% conforme os senadores eleitos. Em 2022, esse fundo ultrapassou os R$ 4,9 bilhões, tornando-se o principal combustível financeiro das campanhas.

Exército eleitoral

Daniel Vilela também contará com uma base ampla de prefeitos eleitos em 2024: MDB, União Brasil, PP, Podemos, Avante, Agir, PRD e Republicanos conquistaram, juntos, 180 prefeituras. Somente o União Brasil garantiu a vitória em 93 cidades e deve comandar, cerca de 2,1 milhões de habitantes.

O MDB vai chefiar 40 prefeituras em Goiás. Comandado em Goiás pelo vice-governador Daniel Vilela, o resultado da legenda consolida o filho de Maguito como um dos mais influentes políticos e favorito ao governo em 2026. Parte dessa força veio pela articulação política em conjunto no Sudoeste do Estado. 27, dos 28 municípios da região terão prefeitos do MDB ou do UB.

Na base, mas com foco no legislativo

Alexandre Magalhães, presidente do DC em Goiás, já trabalha para montar uma chapa estadual com cerca de 25 nomes, todos sem mandato. Segundo ele, a intenção é renovar parte significativa da Assembleia Legislativa. “Nenhum candidato a deputado estadual será eleito com menos de 40 ou 50 mil votos. A estimativa é que apenas 25 deputados atuais se reelejam. Haverá pelo menos 17 novos nomes no parlamento”, projeta.

Magalhães destaca que ainda aguarda definições para fechar posicionamento na majoritária, mas tem mantido diálogo com Daniel Vilela. Para ele, o desenho da eleição para o Senado pode beneficiar os nomes mais conhecidos, caso haja excesso de candidaturas. “Se houver vários candidatos, será bom para Gracinha Caiado e Gustavo Gayer. Se o PL lançar só um nome, como Gayer, ele pode não ser eleito. Por isso, não acredito em composição entre União Brasil e PL em Goiás”, avalia.

Isolar Marconi

Nos bastidores do PL, a visista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Caiadonão freiou o movimento de manutenção da candidatura de Wilder Morais ao governo do Estado. O partido tem buscado alianças com a centro-direita, como o partido Novo, que lançou pré-candidatura própria, mas pode rifar o nome de Telêmaco Brandão para compôr com o partido de Bolsonaro.

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Outra alternativa é rifar Gustavo Gayer (PL), deputado federal que tenta costurar disputar o Senado Federal, mas é tido como sem perfil para o cargo na Câmara Alta. Nesse cenário, Gayer tentaria a reeleição e Wilder também.

O PL, apesar de ter uma estrutura menor em Goiás, mantém forte apelo eleitoral, sustentado pela popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lideranças como Wilder Morais, Major Vitor Hugo, Gustavo Gayer e Fred Rodrigues integram a ala bolsonarista, mas o destino do partido ainda está em disputa. A expectativa é de que, apesar das divergências pontuais, o PL caminhe com Daniel Vilela e Gracinha Caiado em 2026. A ligação histórica entre Bolsonaro e Caiado, aliada ao pragmatismo eleitoral, no entanto, tende a selar a aliança.

Porém, o pleito de 2024 em Goiânia, historicamente anti-governista, mostrou que apesar do apetite de Caiado e Daniel por uma composição ainda mais robusta para 2026, um maior número de candidaturas de centro-direita, direita e da extrema direita pode beneficiar Vilela.

O PT, por sua vez, não demonstra prioridade em eleger um governador, mas busca construir um palanque robusto para o presidente Lula em Goiás. Internamente, o partido cogita apoiar um nome com mais viabilidade eleitoral, que pode vir do PSB ou até mesmo do PSDB, caso haja convergência programática. Entre os aliados mais prováveis estão o PCdoB, com nomes como Fábio Tokarski e Izaura Lemos; o PV, integrante da federação petista; e o PSB, que pode lançar Jorge Kajuru ao Senado ou ao governo com apoio da esquerda.

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