Rússia ameaça suspender importação de carne brasileira
16 novembro 2017 às 16h47
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Motivo seria presença de substância proibida no país, mas na verdade é a guerra pela abertura de mercado brasileiro de trigo, carne bovina e pescados
Goiás pode perder vendas significativas se for confirmado o embargo à carne suína e de frango do Brasil. O possível embargo russo e é motivado pela pressão pela abertura dos mercados brasileiros de trigo, carne bovina e pescados.
O jornal “Valor Econômico” publicou reportagem nesta quinta-feira (16/11) informando que a Rússia ameaçou publicamente proibir todas as importações de carne suína e carne de frango do Brasil, em uma disputa que pode significar uma perda anual superior a US$ 1 bilhão.
Até o mês de setembro, os embarques das duas carnes aos russos renderam US$ 941 milhões (dados da Secretaria de Comércio Exterior-Secex). Goiás, grande produtor de carne de suíno e de frango, seria um dos Estados mais prejudicados pelo embargo.
Conforme o jornal, uma porta-voz do serviço sanitário russo informou que a possibilidade do embargo é devido à suposta detecção do promotor de crescimento ractopamina, produto proibido pela Rússia, mas de uso permitido em outros países. No Brasil, o ractopamina é utilizado na produção de suínos, mas proibido na de gado bovino.
Nem o Ministério da Agricultura nem os produtores receberam notificação sobre a detecção de ractopamina. E o recado russo é encarado como mais uma forma de pressão para o Brasil acelerar o processo de abertura dos mercados de pescados, trigo e carne bovina. Os russos já haviam dado um sinal, com o embargo de unidade do Mataboi, em Goiás, e controle reforçado em outras plantas.
Diante do risco de perder um mercado que representa 40% das exportações brasileiras de carne suína e 11% das de carne bovina, o Ministério da Agricultura tem buscado atender à parte dos pleitos russos, mesmo que à revelia das recomendações de sua área técnica. O Ministério da Agricultura já havia enviado carta aos russos dizendo que autorizaria a entrada de trigo do país mesmo com as chamadas pragas quarentenárias (que não existem no Brasil). Mas a medida ainda precisa ser formalizada juridicamente.
Ao “Valor”, o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disse que “o sistema brasileiro tem testes que garantem a inexistência de ractopamina na carne suína exportada aos russos”.
Antonio Camardelli, presidente de Abiec, entidade que representa os exportadores de carne bovina, disse que não recebeu nenhuma notificação dos russos. Segundo ele, além de a ractopamina em bovino ser proibida no Brasil, os frigoríficos que exportam aos russos fazem testes para se certificar da inexistência do produto na carne.