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Rita de Cássia (UB) foi prefeita de Itaberaí em duas circunstâncias muito diferentes. Em seu primeiro mandato, de 2001 a 2004, a jovem filha do ex-prefeito Carlos Dias Mendonça (Tico) governou um município de 25 mil habitantes em meio a desconfiança. Hoje, no segundo mandato consecutivo, Itaberaí tem população de 47 mil e se consolidou como um dos maiores produtores de alimentos do estado, com a São Salvador Alimentos (SSA, dona da marca SuperFrango e outras) movimentando a economia e atraindo migrantes em busca de emprego. 

Em entrevista ao Jornal Opção, a prefeita lembra-se das dificuldades de 24 anos atrás: “No início, eu, como mulher e filha de um ex-prefeito, sofri muita discriminação. Ninguém acreditava no potencial de uma mulher jovem, solteira, para administrar uma cidade. Diziam: ‘Ah, ela vai ser laranja do pai dela’, ou ‘Ela não tem vida própria, quem vai mandar nela?’.”

“Sempre fui fã incondicional do meu pai, o Tico, e acredito que herdei esse legado dele. Mas tenho identidade própria. Eu e meu pai tínhamos embates para que as decisões fossem, de fato, minhas. Fui mostrando ao povo que eu sabia o que queria e qual era o meu objetivo”, diz Rita de Cássia. 

Citando a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, Rita de Cássia lembra que mulheres são 62% do eleitorado e a maioria entre as crianças nascidas vivas, mas minoria em cargos de liderança. Hoje, dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 14% são comandadas por mulheres.

Retorno inesperado

Rita de Cássia conta que, em 2020, voltou à política menos por escolha própria e mais por um acidente fortuito: “Eu já havia prometido que não mexeria mais com política, que estaria no processo dando apoio, mas sem ser candidata”, lembra a prefeita. “Em 2020, quiseram me colocar na chapa como vice. Eu disse ao então candidato a prefeito ex-prefeito Welington Baiano, do MDB: ‘Não, não quero. Já vou votar no senhor, já vou te apoiar, vá atrás de outro nome para vice.’ Mas acabei entrando como vice por ser mulher, ex-prefeita…”

Nos últimos 15 dias de campanha, o candidato a prefeito teve sua candidatura indeferida e o nome de Rita de Cássia o substituiu na cabeça da chapa sem que a consultassem. “Fui dormir como candidata a vice e acordei como candidata a prefeita. Tive de assumir.”

Novamente, ela diz que, quando seu terceiro mandato acabar, em 2028, não retornará à política, mas admite a imprevisibilidade do futuro. “Quando eu falo que não quero mais mexer com política, a minha mãe diz: ‘Deixe de ser mentirosa’ [risos].” 

Na data quando concedeu entrevista ao Jornal Opção, em 3 de julho, havia se reunido com lideranças políticas na capital que a tentaram convencer a ser candidata a deputada. “Sempre respondo que não quero, que minha meta é terminar o mandato e executar as obras que estão sendo planejadas. Mas se o governador me disser: ‘Preciso de você como candidata a deputada para sua região crescer’, aí é um caso a se pensar.”

“O futuro a Deus pertence. Se eu tiver que ser [candidata], não sei… Mas isso não faz parte dos meus planos no momento. Meu plano é concluir meu mandato, entregar as obras — especialmente as que estão em andamento na minha casa — e encerrar minha vida política como candidata.”

Se cumprir a intenção de se afastar da política, Rita de Cássia afirma que pretende se dedicar à empresa da família, o Café Boca de Pito. “Minha mãe sempre diz que está me esperando para eu começar a trabalhar lá. Eu nunca pude, porque sempre estive envolvida com a política. E ela vive me dizendo: ‘Política não vai fazer seu futuro. O futuro seu e da sua filha está aqui, no café.’ E eu sempre respondo: ‘Já estou indo.’ Também sinto esse chamado.”