Entre os fatos mais marcantes do ano, estão diversas perdas e intensa articulação política que trará consequências ao próximo pleito

Ainda no enfrentamento à Covid-19, todos os acontecimentos da política goiana precisaram ser conciliados a volta gradativa à normalidade, a partir do início da imunização contra a Covid-19. Além de um ano agitado na política, ao se pensar num contexto pré-eleitoral, Goiás também foi marcado por muitas perdas. Relembre os fatos mais marcantes do período nesta retrospectiva 2021.

Morte de Maguito Vilela (MDB) 

Após ser eleito com 52% dos votos, contra Vanderlan Cardoso (PSD) – que obteve 47,40% dos votos -, o prefeito licenciado de Goiânia, Maguito Vilela (MDB), de 71, foi a óbito em 13 de janeiro deste ano. O emedebista foi internado 

Com 71 anos, o prefeito licenciado de Goiânia foi no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 27 de outubro, devido ao agravamento de saúde, apenas uma semana depois de ter testado positivo para o coronavírus – no dia 20 de outubro. 

Na ocasião de seu diagnóstico, Vilela estava em campanha para a Prefeitura de Goiânia e acabou precisando se afastar de seus compromissos presenciais. Ainda que tenha permanecido tempo significativo internado e ter tido 75% dos seus pulmões comprometidos pela doença, a esperança de seus eleitores, familiares e admiradores era pela melhora do político. Ele chegou a ser entubado em dois momentos e passou por um tratamento respiratório com a máquina ECMO por dois dias, que funciona como pulmões e coração artificiais. O emedebista também precisou realizar sessões de hemodiálise e passar por uma traqueostomia para colaborar com sua respiração.

No dia 29 de novembro, ainda internado, Maguito foi eleito com 52% dos votos, enquanto Vanderlan Cardoso (PSD), seu oponente, obteve 47,40%. Apesar de ter passado metade do processo eleitoral fora da campanha, Vilela já era o primeiro colocado na pesquisa de intenções de voto divulgada pelo Ibope uma semana antes de sua internação. Além da própria vida, Vilela já havia perdido duas irmãs para a Covid-19 em agosto de 2021. 

Início da vacinação contra Covid-19

Foi no dia 18 de janeiro que a primeira pessoa foi vacinada com a primeira dose do imunizante contra a Covid-19 em Goiás. A técnica de enfermagem Paulete Pereira dos Santos foi, inclusive, a primeira profissional da saúde de Goiás a se vacinar contra o coronavírus. Na ocasião o imunizante foi aplicado pelo próprio governador do Estado, Ronaldo Caiado (DEM), momento em que ele pôde ressaltar uma de suas principais agendas: a da Saúde. 

Até 9 de dezembro (última atualização do vacinômetro até o dia 20 de dezembro), foram aplicadas em Goiás mais de 5,2 milhões de primeiras doses, 4,2 milhões de segundas doses e doses únicas e 456 mil doses reforço. Até esta data, cerca de 74,6% da população geral recebeu a primeira dose, e apenas 60% haviam sido imunizadas com a segunda dose ou dose única. 

Morte do Helenês Cândido

Com 86 anos e no aguardo por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após ser diagnosticado com a Covid-19, o ex-governador de Goiás e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), Helenês Cândido, foi a óbito no dia 17 de março deste ano. Ainda que tenha surgido vaga no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Caldas Novas, Helenês acabou falecendo no caminho.
Além de ter sido diagnosticado com a Covid-19, Helenês possuía comorbidades, uma vez que era hipertenso e diabético, e ambas as condições agravaram seu quadro. Enquanto aguardou leito de UTI, o político se manteve internado na enfermaria, em Santa Helena.

Helenês era advogado, foi deputado estadual por três mandatos e governador do Estado de Goiás de novembro de 1998 a janeiro de 1999. Ele ainda atuou como prefeito de Morrinhos, pela Arena, de 1973 a 1977. Durante parte desse período (1974-1975), ele também foi presidente da Associação Goiana dos Municípios (AGM) de 1974 a 1975. Seu primeiro mandato de deputado estadual também foi pela Arena, de 1979 a 1983. 

Ao se filiar ao PMDB (atual MDB), foi eleito deputado estadual suplente em 1990 e empossado em abril de 1994. No mesmo ano foi eleito deputado estadual pelo mesmo partido e em 1997 eleito presidente da Assembléia Legislativa. Helenês se manteve no cargo de presidente da Alego até novembro de 1998, quando se afastou para assumir a Governadoria do Estado por 37 dias. Entre 2000 e 2001, o político chegou a assumir a presidência estadual do MDB.  

Caçada ao ‘Lázaro’

Junho foi o mês em que Ronaldo Caiado pôde colocar em prática sua famosa frase em que diz que “ou o bandido muda de Goiás, ou muda de profissão”, com a busca por Lázaro Barbosa, que se estendeu por 20 dias. Além de centenas de policiais lotados no Distrito Federal e em Goiás mobilizados, seu secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, chegou a se envolver pessoalmente com as buscas. 

Lázaro tinha 32 anos e foi apontado como responsável pela morte de quatro pessoas da mesma família em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. Antes de ser capturado no dia 28 de junho, Lázaro foi baleado ao atirar contra policiais e chegou morto ao hospital. Durante os 20 dias que permaneceu foragido, o homem se disfarçou em vegetações, fugiu por rios para não deixar rastros e invadiu fazendas para obter comida, munições e dinheiro. Seis pessoas chegaram a ser presas por ajudar Lázaro.

Morte Ary Valadão

Ex-governador de Goiás, Ary Valadão faleceu de pneumonia, aos 102 anos, no dia 9 de agosto de 2021. Ele havia sido hospitalizado após sofrer uma queda em casa, mas mesmo sem sofrer fraturas, ele desenvolveu pneumonia dias após ser internado. Na época, após o diagnóstico, a médica responsável receitou antibióticos e orientou Ary a permanecer em casa. No entanto, com a saúde frágil, ele acabou não resistindo. 

Ary foi prefeito de Anicuns por dois mandatos e foi eleito deputado estadual em 1959, se reelegendo por outras duas vezes. Ainda no legislativo, foi deputado federal por três mandatos consecutivos. Ele ainda foi eleito indiretamente governador de Goiás e administrou o estado entre 1979 e 1983. 

A família chegou a revelar que após encerrar a carreira política, aos 80 anos, Ary, que foi filiado ao União Democrática Nacional (UDN) desde que ingressou na política, não quis se filiar a outro partido.

Lançamento precoce da pré-candidatura de Caiado e anúncio do Daniel como vice (aliança Caiado MDB)

Em meio a críticas e apoios, o lançamento adiantado da pré-candidatura de Ronaldo Caiado (DEM) à reeleição para a Governadoria e o lançamento do presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, como seu vice foi outro importante fato que teve grande impacto  na política goiana. Ainda que já esperada, a oficialização da aliança DEM-MDB foi anunciada durante evento político que ocorreu no dia 24 de setembro. 

Ao fazer o anúncio de Daniel em sua chapa, Caiado chegou a fazer referência a Maguito. “Maguito Vilela deixou um sucessor e vai continuar na política do estado de Goiás com esse jovem que será será vice-governador no estado de Goiás na eleição de 2022!”, comemorou Caiado de cima do palanque. 

De forma sutil, foi possível observar a aproximação de Caiado com Daniel ainda em 2020, a partir do momento em que Maguito Vilela foi internado. Em julho deste ano, ambos deixaram público o estreito diálogo que se construía, ao trocarem elogios durante solenidade de inauguração do Centro de Convenções e Eventos Luiz Alberto Maguito Vilela. 

Além de Daniel, dois outros nomes chegaram a aflorar nos bastidores como possibilidade de integrarem a cadeira de vice de Caiado: o atual vice-governador, Lincoln Tejota (Cidadania) e o atual presidente da Alego, Lissauer Vieira (PSB), que desde que assumiu a presidência da Assembleia, se tornou grande aliado do governador do Estado. 

Antes do MDB oficializar a aliança com o DEM, Daniel Vilela chegou a realizar uma consulta com os membros do partido. Na apresentação do resultado, ele mostrou que das 160 cartas enviadas pelos diretórios,146 foram favoráveis à aliança. Do mesmo modo, 27 dos 28 prefeitos apoiaram a união. 

Aprovação da entrada de Goiás no RRF

Em 2021, Goiás se tornou o único estado do Brasil a conseguir renegociar suas dívidas. O estado protocolou o pedido oficial de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) em setembro, 103 dias após o STF autorizar o estado aderir o Regime de Recuperação Fiscal, renegociar suas dívidas, com suspensão de 18 meses. A partir daí, Goiás teve cerca de 60 dias para a entrega do Plano de Recuperação Fiscal (PRF). A entrada no RRF está prevista para o início de 2022.

Isso, porque antes disso, foram aprovados na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, o projeto de lei que permitiu a entrada do Estado de Goiás no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e a PEC do Teto de Gastos. No início de agosto, Goiás chegou a refinanciar parte das dívidas, em um valor de R$ 3,61 bilhões, não pagas com o governo federal. O prazo de quitação foi estendido para mais trinta anos. 

Já a partir da adesão ao programa, cerca de R$ 10 bilhões em dívidas devem ser renegociadas. No entanto, esse valor pode ser reduzido caso algum contrato não entre nessa dívida. O Estado já deu entrada no processo que garantirá um empréstimo de R$ 3 bilhões para a quitação dos financiamentos feitos entre 2013 e 2015. A negociação da dívida que está em dólar é feita com o Banco Mundial, no programa BB Estruturante.

Documento que oficializa a entrada de Goiás no RRF foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 24 de dezembro, com a presença do próprio governador, no Palácio do Planalto.

Morte de Iris Rezende

Iris Rezende (MDB) faleceu no dia 9 de novembro deste ano, após três meses internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo. O ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia, se encontrava internado para o tratamento de um quadro de pneumonia, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Ainda que tenha tido significativas evoluções no quadro clínico, as consideráveis regressões sempre levavam o emedebista de volta a UTI. Apesar de ter anunciado sua aposentadoria política em agosto de 2020, afirmando ser uma “decisão irredutível e definitiva”, há quem ainda acreditasse ver o nome do político nas urnas em 2022. Desde que deixou a cadeira do Paço Municipal, em 31 de dezembro do ano passado, no entanto, ele não cessou seus conselhos políticos aos sucessores e admiradores do político emedebista. 

Político nato, Iris iniciou sua vida política antes mesmo de sua primeira eleição, através de sua atuação nos grêmios estudantis nas escolas em que estudou. Sua primeira participação em um pleito ocorrem em 1958, quando foi eleito a vereador de Goiânia pelo PTB, cargo que permaneceu até 1962. Em 1963, o político venceu a eleição para deputado estadual pelo PSD. Quase três anos depois, em 1966, iniciou seu mandato como prefeito de Goiânia. 

Em 1969, Iris acabou tendo seu mandato cassado pela junta militar, ao rejeitar o convite para aderir ao Arena, e perdeu seus direitos políticos por dez anos. Depois que teve seus direitos políticos reestabelecidos, em 1979, decidiu retornar ao meio político e se filiou ao MDB, partido em que se manteve até sua morte. Seu novo partido o indicou para disputar o governo de Goiás, no ano de 1982. Ao obter 67% dos votos, tomou posse em 1983. Seu mandato como governador, assim como sua gestão como prefeito foram marcados pelos muitos mutirões de construções de casa que realizava.

Em 1990, ele foi novamente eleito governador de Goiás e em 1994, se tornou Senador. Entre 2004 e 2008, atuou como prefeito de Goiânia, disputou o governo de Goiás em 2010 (e foi derrotado por Marconi Perilo). Em 2016, novamente se tornou prefeito de Goiânia, mas não quis se candidatar na eleição seguinte, no pleito de 2020, aposentando-se da política.