Resposta à Equatorial: o que está por trás da qualidade da energia em Goiás
30 outubro 2023 às 21h23
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Salatiel Soares Correia
Na condição de formador de opinião pública inserido no Estado democrático de Direito que me proporciona o direito de opinar, volto a colocar em discussão o assunto do momento em torno da qualidade de energia fornecida pela Equatorial à sociedade goiana.
Antes, porém, creio ser oportuno colocarmos luzes na ribalta de alguns pontos técnicos que ajudarão na construção dos argumentos que mais adiante colocarei para discussão.
De início, é preciso tomar conhecimento a respeito de um assunto que ela desconhece: informações relacionadas aos investimentos necessários para o atendimento crescente da demanda de energia elétrica serem insuficientes.
De que maneira pode atender ao crescimento da demanda de energia elétrica?
Basicamente de três formas. Na primeira, os investimentos podem ser insuficientes para atender ao crescimento da demanda de energia elétrica. Essa situação compromete a qualidade energia pelo fato dos investimentos a curto prazo serem insuficientes para atender a contínuo crescimento da demanda mensurada pela expansão do sistema que sinaliza a concessionária o custo de se expandir o longo prazo.
Em situações como essa, a concessionária penaliza os consumidores por uma verdade implícita : a do não atendimento do longo prazo provocar sobrecarga de transformadores, linhas transmissão, adiamento da construção de subestações, enfim:fatores como esse comprometem a qualidade da energia fornecida à sociedade. É a típica situação do apagador de incêndio. Se numa situação como essa a concessionaria obtiver lucros não condizentes com os serviços que presta a sociedade, que recebe uma energia de péssima qualidade vale o princípio de que na economia de que não existe almoço grátis. Dito de uma maneira mais clara e oportuno quem se apropria do excedente?
Segunda: quanto os investimentos para atender ao crescimento da demanda no longo prazo ultrapassarem as exigências estabelecidas pelo curto prazo.
Nessa situação , típica de sobre investimentos penalizam a concessionária pelo fato dela ter investido demais para atender uma demanda de menos. Dito de outro modo, transformadores, linhas de transmissão sobredimencionadas, subestações construídas antecipadamente penalizam a concessionária que perde patrimônio líquido e vai a falência .Essa foi a grande razão da privatização Celg que acabou sendo privatizada. Nessa situação volto ao velho princípio a economia de que não existe almoço grátis. Afinal, quem se apropriou do excedente? Certamente não foi a população que perdeu uma empresa fundamental ao seu desenvolvimento. Entre os ganhadores se encontram empreiteiros, consultores, certos políticos desprovidos de ética e por aí vai.
Terceiro: quando os investimentos contemplam a expansão do sistema no longo prazo
Eis aí uma situação em que a concessionária se torna um instrumento do verdadeiro desenvolvimento ,pois investe para atender a demanda incremental. Em outras palavras isso quer dizer investir para atender o exato crescimento do mercado ,nem mais, nem menos.
Posto isso, volto a evidenciar o velho princípio do jogo de soma zero que é a economia. Afinal, quem se apropria do excedente?Eis a resposta: ninguém, pois a concessionária recebe a justa remuneração de um setor regulado como é o setor elétrico. A sociedade pela qualidade de energia oriunda de uma empresa que atente a expansão do sistema de maneira otimizada, sem excessos e escassez de investimentos.
Creio que a partir do entendimento do leitor da maneira como é possível atender a expansão do sistema elétrico, apresentarei minhas avaliações a respeito da nota que a equatorial enviou ao Jornal Opção.Para isso, extraio alguns argumentos apresentados pela empresa para em seguida apresentarmos nossa controargumentação.
Primeira: “não faz sentido comparar a realidade local com Estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas sim com outro Estado da região Centro-Oeste, como Mato Grosso, que vive o mesmo desafio enfrentado em Goiás.”
Minha resposta: Não foi isso o que eu quis dizer. Em momento algum me referi a regiões ou pelo clima ou algo parecido. Isso é puro chantili que não ajuda em nada a esclarecer a situação. O que de fato importa é relacionar—independente da região—é se a empresa fornece uma boa qualidade de energia .E, como já dizemos, a boa qualidade de energia se atrela a investimentos de longo prazo devidamente atrelados a expansão do sistema no curto prazo. Sendo assim, empresas que tem reais compromisso com a expansão ótima do sistema com chuva ou não, geralmente fornecem uma melhor qualidade de energia.
Segunda: “[…] A companhia reafirma que o sistema de Goiás está obsoleto e sobrecarregado em razão de falta de investimentos por muitos anos.[…]para enfrentar esta situação, a Equatorial Goiás executou um programa de investimentos de aproximadamente R$ 1,38 bilhão somente no primeiro semestre de 2023.”
Minha resposta: Vamos por partes. Em primeiro lugar, é preciso acabar com essa cultura de culpar sempre o outro desconsiderando suas próprias culpas. Será que a Equatorial não tinha conhecimento de o sistema estava obsoleto e sobrecarregado, por que compraram a empresa, afinal? Passados anos desde que a Celg foi privatizada por que razão continuam a bater nessa tecla? Será que não estamos numa situação típica de apagar incêndio, ante a escassez de investimentos no longo prazo?
Terceira: “ Para enfrentar esta situação, a Equatorial Goiás executou um programa de investimentos de aproximadamente R$ 1,38 bilhão somente no primeiro semestre de 2023.”
Minha resposta: O valor apresentado não quer dizer nada. 1,38 Bilhão pode ser muito dinheiro, mas também pode ser pouco em se tratando de um setor tão intensivo de investimentos. A Equatorial informara melhor a seus consumidores quando esses investimentos representarão indexadas a outras variáveis explicativas a exemplo das receitas, lucros. Procedendo assim, a sociedade terá uma percepção mais clara se esses investimentos englobam a expansão ótima ,que reflete na qualidade da energia, ou, se a situação atual de apagar incêndio persistirá. O que precisa ser de fato esclarecido é o jogo de soma zero. Esse ,de fato, evidencia o lado implícito da qualidade de energia: aquele de quem se apropria do excedente.
Salatiel Soares Correia é Engenheiro,Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Energia pela Unicamp.Autor de oito livros relacionados aos temas Energia ,Politica e Economia.