Relatório da UFG revela desigualdade nas urnas: 18,2% das eleitas são mulheres, contra 81,7% de homens
15 setembro 2025 às 14h00

COMPARTILHAR
O projeto De Olho nas Urnas, coordenado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), apresentou neste mês de setembro o relatório final sobre candidaturas femininas e igualdade de gênero nas eleições brasileiras de 2024. O relatório aponta que apenas 18,2% das eleitas em 2024 foram mulheres, contra 81,7% da aprovação masculina.
O relatório intitulado “Desigualdade de gênero nas eleições proporcionais de 2020 e 2024: fatores associados ao desempenho eleitoral das mulheres” aponta ainda que as mulheres representaram 34,6% das candidaturas a vereadora em 2020, percentual que subiu ligeiramente para 35,3% em 2024. No entanto, o sucesso eleitoral, embora tenha crescido, ainda permanece desigual: a taxa de mulheres eleitas passou de 5,5% para 7,2%, enquanto a dos homens saltou de 15,2% para 17,6%.

Esses números escancaram a dificuldade das mulheres em alcançar postos políticos, apesar de constituírem metade da população. O estudo reforça que o aumento verificado é insuficiente para reduzir as desigualdades históricas. O estudo, conduzido nos últimos dois anos por 50 pesquisadoras e pesquisadores no Brasil e no exterior, foi liderado pela professora Angelita Pereira de Lima, atual reitora da UFG.
Disparidades regionais
A análise também destaca fortes contrastes regionais. Em 2024, o Piauí registrou a melhor taxa de sucesso das mulheres, com 17,8%, seguido do Rio Grande do Norte (15%). Em contrapartida, o Rio de Janeiro apresentou o pior desempenho, com apenas 2% de êxito, acompanhado por Espírito Santo (3,4%) e São Paulo (4,8%).
O padrão confirma uma tendência observada em 2020, quando Piauí e Rio Grande do Norte já lideravam os índices, enquanto Rio de Janeiro e Espírito Santo ocupavam as últimas posições. O relatório evidencia ainda que três dos cinco piores resultados estão concentrados no Sudeste, enquanto quatro dos cinco melhores estão no Nordeste.
Falha no Equilíbrio de Gênero
O Índice de Equilíbrio de Gênero (IEG), utilizado pelo projeto, reforça a profundidade da disparidade. O indicador varia de valores negativos, que revelam predominância masculina, até positivos, que indicariam maioria feminina — inexistente em qualquer estado brasileiro.
“O índice pode ser facilmente explicado: se o valor do IEG for igual a 0, isso indica equilíbrio entre os gêneros feminino e masculino na política. Quanto mais próximo de 0, mais equilibrado é o cenário. Só valores positivos indicariam maioria de mulheres – e eles não ocorrem em nenhum estado brasileiro. Já valores negativos indicam predominância masculina, como é o caso da realidade nacional”, explica o relatório.

Em 2024, o IEG para candidaturas manteve-se em -0,3, o mesmo nível de 2020. Entre as eleitas, houve apenas pequena melhora, passando de -0,7 para -0,6. O Rio de Janeiro teve os piores resultados, com -0,35 entre as candidatas e -0,82 entre as eleitas. Já o Amazonas obteve os melhores índices, mas ainda negativos, com -0,21 entre as candidatas.

De forma ilustrativa, os mapas do relatório mostram que, quanto mais escura a cor atribuída ao estado, menor a presença feminina. O cenário confirma: mesmo representando metade da sociedade, as mulheres continuam sub-representadas em todas as unidades federativas.
Desigualdade racial e de gênero
A pesquisa também avaliou o impacto da raça sobre o desempenho eleitoral. Em 2024, mulheres brancas alcançaram taxa de sucesso de 8,9%, bem acima das pretas (3,4%) e das pardas (6,4%). Embora as mulheres pretas tenham apresentado leve avanço em relação a 2020, passando de 2,7% para 3,4%, a melhora ainda é insuficiente para alterar o quadro de sub-representação.

Homens, por sua vez, independentemente da cor ou raça, continuam a apresentar taxas de sucesso mais elevadas, o que comprova a sobreposição de discriminações de gênero e raça no sistema político brasileiro.
Cotas de gênero: descumprimento ainda elevado
Apesar da legislação que obriga cada partido a reservar no mínimo 30% e no máximo 70% de suas candidaturas para cada gênero, muitas siglas seguem descumprindo a regra. Em 2020, 30 partidos violaram a cota em 1.656 municípios. Em 2024, houve redução, mas ainda significativa: 25 partidos cometeram infrações em 535 cidades.

Algumas legendas, como UP, PCB, PCO e PSTU, cumpriram integralmente a legislação. Outras, no entanto, retrocederam. O partido Novo, por exemplo, que em 2020 não havia registrado descumprimentos, violou a cota em 1% dos municípios em 2024.
Distribuição de recursos de campanha
O repasse de recursos também mostra desigualdade. A legislação estabelece que 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e do Fundo Partidário (FP) sejam destinados a candidaturas femininas. Em 2020, o descumprimento foi mais recorrente entre partidos de direita (71,4%), contra 50% dos partidos de centro e esquerda.
Em 2024, houve avanços, especialmente entre legendas de esquerda, que reduziram a taxa de infrações para 10%, e de centro, que caíram para 16,7%. Já os partidos de direita mantiveram a pior taxa, com 27,3%.

No entanto, o cenário geral mostra evolução positiva. A fatia dos recursos do Fundo Partidário destinada às mulheres passou de 28,9% em 2020 para 42,5% em 2024. Já no caso do FEFC, o salto foi de 29,6% para 43,9%.
Tempo de propaganda também desigual
A análise revelou ainda que as mulheres receberam menos tempo de propaganda eleitoral, especialmente nos horários de maior audiência, entre 18h e meia-noite. Além disso, muitas siglas reduziram o espaço destinado às candidatas nas semanas finais da campanha. Em contrapartida, partidos como PSOL e Rede adotaram a estratégia inversa, ampliando gradualmente o tempo de exposição feminina e sinalizando maior compromisso com a equidade.
Leia também:
Mendanha admite disputa interna com Vanderlan por vaga ao Senado na chapa governista: “Pode ocorrer”
“De Olho nas Urnas” é lançado pela UFG na Câmara dos Deputados
