Rayssa, Ítalo e Rebeca mostram ao mundo que o Brasil é muito mais que Bolsonaro
29 julho 2021 às 17h54
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Além do brilho das medalhas, as histórias dos atletas refletem o País real, muito além do viés político-ideológico que contamina nossa imagem mundo afora
Independentemente dos resultados em pistas e quadras, campos e águas – mas também por causa deles –, a Olimpíada de Tóquio já mostra ao mundo um Brasil diferente da imagem caótica e bélica que o país tem repassado nos tempos bolsonaristas.
O resumo do que está dito nesse primeiro parágrafo se encontra resplandecente no rosto de anjo da pequena Rayssa Leal, uma das medalhistas mais novas da história dos Jogos de todos os tempos. Com 13 anos e um skate, ela fez a Nação inteira sorrir e esquecer suas graves feridas sociais, econômicas e sanitárias durante alguns instantes, celebrando sua prata pendendo pesada do pescoço de Fadinha.
No dia seguinte, Ítalo Ferreira conseguiria um inédito ouro no surfe, fechando uma história repleta de dificuldades e desafios, incluindo a saga para disputar os Jogos: um atraso num voo e outros atropelos no Japão fizeram com que ele chegasse em cima da hora para disputar a vaga para o surfe olímpico. Usou uma prancha emprestada, a roupa que estava no corpo e apenas 8 dos 30 minutos da bateria para obter o direito e a delícia de, meses depois, subir ao alto do pódio na terça-feira, 27.
Nesta quinta-feira, 29, sob o funk de Baile de Favela, Rebeca Andrade deu à ginástica olímpica feminina do Brasil sua primeira medalha. É fato que Arthur Zanetti, Arthur Nory e Diego Hypólito já tinham conduzido a esse objetivo os homens da modalidade, mas a ginástica é um dos raros esportes em que o “valor de face” das mulheres é superior diante dos padrões competitivos – sim, o mundo é machista e os Jogos refletem o mundo, ainda bem que hoje bem menos.
Um trio que apresenta ao mundo, do outro lado do mundo, o Brasil que deu certo apesar dos erros do Brasil de todos os tempos e dos tempos atuais. O que une Rayssa, Ítalo e Rebeca são o que são e o que mostram: jovens, pardos e pretos, trabalhadores, da periferia de suas cidades, do periférico do País. Superaram as dificuldades que infelizmente atolaram inúmeras outras Rayssas, outros Ítalos e outras Rebecas – quantos assim não se perderam no caminho?
A verdadeira face do Brasil não é a de um agricultor que se faz “gente de bem” por ter um fuzil nos ombros, como quer passar ao mundo o desgoverno de Jair Bolsonaro. Nem a de um acolhedor do neonazismo, da repressão a refugiados e da discriminação a imigrantes.
A cara do Brasil é leve e solidária. É Rayssa de Imperatriz (MA) e seu vestido de fada no sonho do skate; é Ítalo da Baía Formosa (RN) cheio de perrengues sorrindo e mandando ver na prancha reserva; é Rebeca de Guarulhos (SP) saltando os desafios do corpo (três cirurgias de joelho) e do bolso (“vaquinhas” familiares e de treinadores) para viver seu dom.
O baile da favela toca para avisar: o Brasil não é isso que está aí. E isso passará.