Um ano depois de perder os movimentos e a capacidade de falar devido a um trauma cranioencefálico provocado pela queda da rampa no festival Rap Mix, em 2023, a estudante Giovanna Moreira Salerno, de 21 anos, segue com o tratamento de readaptação para reverter o quadro. A jovem foi a vítima mais grave entre os 75 feridos no acidente ocorrido no dia 9 de julho do ano passado. 

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Giovanna passou por uma cirurgia de reconstrução craniana, a cranioplastia, em novembro. Porém, mesmo com a pouca idade que, em tese aceleraria a recuperação, o progresso da estudante tem caminhado a passos lentos, conforme o pai dela, Tércio Jullian Salerno. 

“Não por conta do quadro, mas por conta de uma depressão profunda. Isso impactou bastante, ela estava se recusando a fazer as sessões de fisioterapia, fono. Ela estava se recusando a comer via bucal, o que gerou um atraso grande”, afirmou.

Tércio diz que a filha começou a responder o tratamento após começar a ser medicada com antidepressivos, o que gerou um progresso emocional em Giovanna. Ele descreve os últimos 12 meses como momentos de angústia, tristeza, mas também de alegria e luta.

Segundo ele, cada “pequena melhora” foi motivo de comemoração por parte da família. Atualmente, o cotidiano da estudante se limita a idas aos tratamentos de fisioterapia e pausas para descanso na cama e na cadeira de rodas, que ocorrem entre medicações e a alimentação. 

“Ele teve um quadro de tetraparesia espástica, onde perdeu o controle total dos membros. Devido aos tratamentos, ela  se encontra em um estado de tetraplegia, que é a paralisação total dos membros do lado direito do corpo. Ela compreende o que a gente fala, mas na hora de responder as informações saem de forma desconexa”, explicou.  

Dificuldades 

O pai da vítima afirma que a maior dificuldade enfrentada pela família é a financeira, visto que o custo do tratamento é alto e a família ainda não conseguiu chegar a um acordo com a organização do Rap Mix. Com isso, os familiares têm arcado com a recuperação de Giovanna sem o aporte financeiro do festival.

A Polícia Civil (PC) encerrou as investigações e indiciou oito pessoas ligadas à montagem da estrutura e à segurança do evento. Nenhum proprietário das empresas envolvidas na realização do festival foi indiciado. 

O relatório final da investigação conduzida pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) foi remetido à Justiça no fim de abril. Ao todo, 75 pessoas ficaram feridas após parte da rampa que ligava o campo do Estádio Serra Dourada, em Goiânia, à arquibancada desabar de uma altura de até cinco metros. 

“Já esperava por essa conclusão, já que não foi acidente, mas negligência. Eles assumiram o risco da rampa cair e ela caiu. Para mim, mesmo não sendo citados, eles [organização do Rap Mix] são responsáveis”, disse.

O acidente 

O acidente aconteceu na noite do dia 9 de julho, por volta das 23h16. Imagens divulgadas na época mostraram a correria dos socorristas para resgatar os feridos no local. Tércio conta que estava em uma viagem com a família no Rio de Janeiro quando soube do acidente e do estado grave em que se encontrava Giovanna após receber uma ligação da ex-sogra da filha. 

A estudante, que costumava viajar com a família, teria ficado em casa devido ao trabalho, mas acabou indo ao show na companhia do então namorado, que também ficou ferido no festival. O jovem, na época, foi socorrido, mas teria se separado da companheira durante o resgate do público.

“Fiquei em choque, eles não sabiam onde a Giovanna estava. Ninguém sabia se ela ainda estava no show, se tinha sido socorrida. Foi a primeira vez na minha vida que minutos viraram semanas, não tinha como eu deixar as minhas filhas menores com a minha esposa”, conta o pai. 

Conforme Tércio, a família só teve notícias de Giovanna cerca de três horas depois do acidente, quando foram informados que ela estava no centro cirúrgico devido ao traumatismo craniano. A informação foi repassada, desta vez, pelo ex-sogro da estudante via aplicativo de mensagens.  

“Todo mundo está suscetível a passar por isso, mas ninguém pensa que vai passar. Só consegui chegar em Goiânia dois dias após o acidente. Foram os momentos mais angustiantes da minha vida”, concluiu.