As queimadas que acometeram o Brasil este ano têm implicações econômicas profundas, afetando não apenas a agricultura, mas também a imagem do país no cenário global. O Brasil, líder mundial na exportação de produtos como soja, milho, café, açúcar, suco de laranja e carnes, enfrenta uma crise que vai além das perdas diretas causadas pelo fogo. Integrantes do governo e representantes do setor privado expressam preocupação com a possibilidade de que esses incêndios possam ser utilizados para desqualificar a produção agrícola brasileira.

A crise das queimadas, combinada com a seca severa que atinge diversas regiões, configura uma ameaça econômica significativa. O governo brasileiro tem trabalhado para mitigar os impactos externos, apresentando a situação como resultado de condições climáticas extremas e possíveis ações criminosas, além de destacar que outros países também enfrentam problemas semelhantes com incêndios florestais.

O desafio para o governo é ainda mais urgente com a iminência da nova legislação da União Europeia (UE), que entrará em vigor em 1º de janeiro de 2025. Esta regra proíbe a comercialização de produtos originários de áreas desmatadas, o que representa uma ameaça direta para as exportações brasileiras.

Com a previsão de que o Brasil possa perder mais de um terço de suas exportações para o bloco europeu, o equivalente a cerca de US$ 15 bilhões anuais, o governo busca uma prorrogação para adaptar-se às novas exigências e está em negociações para garantir um período de adaptação mais amplo.

Roberto Perosa, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, defende que, apesar da concordância do Brasil com a nova legislação, o país precisa de mais tempo para se adequar às exigências.

Perosa sublinha que o Brasil possui a produção agrícola mais sustentável do mundo e está preparado para responder a questionamentos internacionais sobre suas práticas. Ele também destaca que as queimadas não são um problema exclusivo do Brasil, mas sim um fenômeno global que requer uma abordagem conjunta.

Fernando Pimentel, diretor de Política Comercial do Itamaraty, confirma que o governo está adotando medidas rigorosas para combater as queimadas e que a atual crise está intrinsecamente ligada a uma seca histórica. Ele destaca o compromisso do governo em enfrentar o problema e aponta para a necessidade de uma resposta coordenada globalmente.

O consultor internacional Welber Barral alerta que outros países importantes, como os Estados Unidos e o Reino Unido, também poderão adotar medidas similares às da UE em relação ao desmatamento. Barral ressalta a importância de o Brasil não apenas implementar medidas eficazes, mas também comunicá-las adequadamente ao exterior para preservar sua reputação internacional.

No setor privado, Fernando Sampaio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), destaca que as queimadas intensificam a pressão para um controle mais rigoroso da rastreabilidade dos produtos agropecuários. Ele observa um esforço crescente para acelerar as iniciativas relacionadas ao combate ao desmatamento ilegal e à implementação do Código Florestal.

Por outro lado, Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, argumenta que o Brasil deveria ter se preparado melhor para a legislação europeia. Ele observa que as imagens e vídeos de incêndios criminosos contribuem para uma percepção de descontrole, prejudicando a imagem do país. Astrini considera que o problema das queimadas e do desmatamento continua a ser uma mancha na reputação do Brasil, exigindo uma abordagem mais eficaz e coordenada para lidar com a questão.

As queimadas deste ano não apenas representam uma crise ambiental e econômica imediata, mas também uma oportunidade para o Brasil reavaliar suas estratégias de exportação e comunicação internacional. O governo e o setor privado enfrentam um desafio complexo, que exige ações decisivas e uma colaboração internacional robusta para proteger a sustentabilidade da produção agrícola e a reputação global do país.

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