Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO), obtido pelo jornal O Globo nesta quarta-feira, 12, mostrou que 438.806 pessoas em Goiás saíram da linha da pobreza no último mês de junho. Isso significa que elas passaram a receber mais de R$ 218 por pessoa com a transferência do Bolsa Família, o que o governo considera como o mínimo para alguém ser considerado na faixa da pobreza.

No total, no Brasil, 18,5 milhões de famílias ultrapassaram esse valor. Houve progressos significativos em outros estados, destacando-se São Paulo, com 2,2 milhões de famílias; Bahia, com 2,2 milhões; Rio de Janeiro, com 1,6 milhões; Pernambuco, com 1,4 milhões; e Minas Gerais, com 1,3 milhões. Confira a lista completa:

  • AC: 101.410
  • AL: 479.063
  • AM: 549.979
  • AP: 108.207
  • BA: 2.260.504
  • CE: 1.298.677
  • DF: 148.200
  • ES: 263.510
  • GO 438.806 :
  • MA: 1.056.212
  • MG: 1.387.793
  • MS: 176.094
  • MT : 224.675
  • PA: 1.174.165
  • PB: 592.746
  • PE : 1.488.470
  • PI: 528.472
  • PR: 512.855
  • RJ: 1.632.513
  • RN: 442.428
  • RO: 113.180
  • RR: 57.046
  • RS: 537.609
  • SC: 190.622
  • SE: 370.868
  • SP: 2.254.736
  • TO: 133.275
  • BRASIL: 18.522.115

Bolsa família

Em março, foi anunciado o relançamento do Bolsa Família pelo governo federal, com um valor mínimo de R$ 600 e um adicional de R$ 150 para crianças de até seis anos. Além disso, foram estabelecidos benefícios variáveis, como um acréscimo de R$ 50 para gestantes, crianças e adolescentes de até 18 anos.

O governo federal também reintroduziu as condicionantes para garantir o recebimento do auxílio. Elas incluem o acompanhamento pré-natal, o cumprimento do calendário nacional de vacinação, a frequência escolar e o acompanhamento do estado nutricional das crianças.

Anteriormente, a gestão de Jair Bolsonaro (PL) havia substituído o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, que eliminou as condicionantes e modificou os critérios de repasse. No entanto, esse programa foi alvo de auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU), que encontraram irregularidades.

Uma das constatações do TCU foi que, em dezembro do ano passado, o governo federal estava pagando o benefício para 3,5 milhões de famílias com renda acima do limite estabelecido, resultando em um pagamento indevido de R$ 2 bilhões por mês.

A gestão anterior também aumentou o valor mínimo dos repasses para R$ 600 pouco antes das eleições. No entanto, o tribunal apontou que esse valor não contribuía significativamente para a redução da pobreza e da desigualdade, pois privilegiava famílias de apenas uma pessoa em detrimento daquelas com crianças e adolescentes.

A manutenção do valor do benefício foi um dos principais pontos da campanha de reeleição do ex-presidente, que também prometeu uma série de “bondades” para os beneficiários do programa. Entre elas, destacava-se o pagamento do 13º salário para as mulheres. Como resultado, Bolsonaro enfrentou processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suposto uso de programas sociais para obter vantagens eleitorais.

Insegurança alimentar

O mesmo relatório da ONU também mostrou o número de brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar. Ao todo, o país atingiu 70,3 milhões de pessoas nessa condição. De acordo com os dados apresentados, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar no Brasil aumentou em 14,6% durante o período de 2020 a 2022, abrangendo a pandemia de Covid-19.

Essa estatística representa um aumento em relação ao último levantamento da entidade, no qual havia 61,3 milhões de pessoas nessa condição. Essa proporção é equivalente a aproximadamente uma em cada três pessoas no país que passou por dificuldades para se alimentar nos últimos anos.

Esses números foram divulgados no relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo” (SOFI). Além disso, os dados revelam que, dentre o total de pessoas em insegurança alimentar, 21,1 milhões, ou seja, 9,9% da população brasileira, enfrentaram insegurança alimentar severa, o que significa que ficaram sem comida por um ou mais dias. Comparado ao levantamento anterior (2019 a 2021), esse número representa um aumento de 37%, quando havia 15,4 milhões de pessoas nessa condição.

Durante a pandemia, o Brasil alcançou uma marca negativa ao retornar ao Mapa da Fome da ONU, algo que não ocorria desde o início da década de 1990. Essa situação é caracterizada quando mais de 2,5% da população enfrenta falta crônica de alimentos. Segundo dados da FAO, entre 2014 e 2016, aproximadamente 4 milhões de pessoas sofriam de insegurança alimentar grave no país.

No mundo

O SOFI revela que, no ano de 2022, aproximadamente 735 milhões de pessoas sofreram com a fome em todo o mundo. Esse número representa um aumento de 122 milhões de indivíduos em comparação com 2019, antes do surgimento da pandemia de covid-19.

Diversos fatores contribuíram para esse cenário preocupante, incluindo conflitos climáticos, a pandemia em si e também a guerra na Ucrânia. O relatório foi elaborado em colaboração com cinco agências especializadas das Nações Unidas.

A FAO observa que os índices globais de fome permaneceram estagnados entre 2021 e 2022. No entanto, muitas regiões enfrentaram crises alimentares cada vez mais graves, como é o caso da Ásia Ocidental e todas as sub-regiões da África em 2022. Por outro lado, houve uma redução da fome na Ásia e na América Latina.

A África continua sendo a região mais impactada pela fome, com uma em cada cinco pessoas passando por essa situação, o que representa mais que o dobro da média global.

Durante o lançamento do relatório na sede da ONU em Nova York, o secretário-geral da organização, António Guterres, ressaltou a necessidade de um “esforço global intenso e imediato” para eliminar a fome dentro do prazo estabelecido, apesar de algumas regiões estarem progredindo em direção às metas nutricionais estabelecidas para 2030.

“Há raios de esperança, algumas regiões estão a caminho de atingir algumas metas nutricionais até 2030. Mas, no geral, precisamos de um esforço global intenso e imediato para resgatar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Devemos construir resiliência contra as crises e choques que levam à insegurança alimentar”, destacou.

De acordo com o relatório, aproximadamente 29,6% da população mundial, o que equivale a 2,4 bilhões de pessoas, não desfruta de acesso consistente a alimentos e enfrenta níveis moderados ou graves de insegurança alimentar. Dentro dessa cifra total, 900 milhões de indivíduos estão vivenciando uma situação de insegurança alimentar grave.

Outros dados

O relatório ainda avalia a capacidade das pessoas de acessarem dietas saudáveis. Em 2021, mais de 3,1 bilhões de pessoas em todo o mundo não conseguiram ter acesso a esse tipo de alimentação, o que representa aproximadamente 42% da população global.

No ano de 2022, observou-se que 148 milhões de crianças menores de cinco anos, o equivalente a 22,3% desse grupo, apresentavam baixa estatura em nível mundial. Além disso, 45 milhões de crianças (6,8%) sofriam de emaciação, caracterizada pela perda de massa muscular e gordura, enquanto 37 milhões (5,6%) estavam com excesso de peso.

A insegurança alimentar afeta principalmente as pessoas que vivem em áreas rurais, onde 33% dos adultos enfrentam esse problema, em comparação com 25% das áreas urbanas.

No caso das crianças, é maior o déficit de crescimento infantil em áreas rurais, atingindo 35,8%, em comparação com as áreas urbanas, que registram 22,4%. A taxa de emaciação, ou seja, a perda de massa muscular e gordura, também é mais alta nas áreas rurais (10,5%) em relação às áreas urbanas (7,7%). Por outro lado, a prevalência de excesso de peso é maior nas áreas urbanas (5,4%) do que nas áreas rurais (3,5%).

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