“Quanto mais diversidade, melhor”, diz primeira pesquisadora negra a atingir o nível mais alto do (CNPq)
30 março 2024 às 13h02
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Nascida em uma família de classe média no Rio de Janeiro, Rosy Mary dos Santos Isaias fez história, tornando-se a primeira pesquisadora negra a alcançar o nível mais alto do programa de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Graduada em Biologia e com mestrado e doutorado em Botânica, ela se destaca como uma das principais cientistas do Brasil em sua área.
Atualmente, Rosy Mary é professora do departamento de botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Seu grupo de pesquisa concentra-se no estudo das galhas, pequenos tumores vegetais resultantes da interação com alguns insetos. Ao ser questionada sobre a importância da pesquisa básica, ela é enfática. “Sem plantas, não há como avançar”, declara. “Precisamos compreender esses seres altamente complexos que nos fornecem roupas, móveis, alimentos e oxigênio. É assim que a humanidade progride.”
Rosy enfatiza a importância da representatividade na academia, destacando como sua própria trajetória serve de inspiração para outras meninas negras que sonham em seguir carreira na ciência. Ela acredita estar “abrindo uma fila” para futuras gerações, demonstrando que é possível alcançar posições de destaque na comunidade científica, independentemente da cor da pele.
Apesar dos desafios enfrentados em um ambiente acadêmico por vezes hostil ou desencorajador para minorias, Rosy manteve-se firme em seu propósito. Sua motivação para superar obstáculos veio tanto do desejo de ser uma excelente professora quanto da necessidade de construir um histórico de pesquisa robusto. Essa determinação foi fortalecida pela inspiração que encontrou em seus alunos e pelo compromisso de contribuir para uma academia mais inclusiva e diversificada.
Rosy compartilha experiências de preconceito e estranhamento devido à sua aparência em posições de autoridade, destacando como essas experiências reforçam a importância contínua da luta por representatividade e igualdade na ciência. Ela enfatiza que, apesar dos desafios, é essencial que as minorias não apenas participem, mas se destaquem nos campos acadêmicos e científicos.
“Quanto mais diversidade, melhor. Com mais pessoas diferentes, mais soluções novas surgem para problemas antigos e complexos. Hoje em dia nós falamos muito sobre isso. Como nós chegamos até aqui apenas com a visão eurocêntrica? Hoje nós temos, por exemplo, Ailton Krenak mostrando a importância de se ouvir pensadores de outras origens. Quantos filósofos nós perdemos de ler porque até hoje só o olhar branco e eurocêntrico era valorizado? Quando existem várias visões, surgem também outros horizontes e outras capacidades”, questiona Rosy Mary.
Biografia
Rosy iniciou seus estudos em Biologia no ano de 1986 na Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro. Posteriormente, formou-se mestre em Botânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Botânica pela Universidade de São Paulo.
Durante os anos de 2015 a 2019 foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFMG. Atualmente é integrante da comissão em Educação do Conselho Regional de Biologia, 4ª região e, membro da diretoria da Sociedade Botânica do Brasil, regional MG, BA, ES.
Além de toda contribuição relevante que a professora oferece aos acadêmicos, ela se dedica a atividades de extensão, educação ambiental e está ligada a temática da participação feminina e das negras na ciência. Suas principais linhas de pesquisa são: desenvolvimento vegetal, anatomia e histoquímica de galhas, e respostas celulares vegetais à ação de organismos galhadores.
*Com informações da Revista Veja