Em nota dura, instituição comenta a suspensão do vestibular do curso e diz que estudantes se calaram diante de denúncias de fraude 

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A PUC Goiás se manifestou oficialmente sobre a suspensão do próximo vestibular do curso de Medicina, marcado até então para o próximo dia 25. Em nota, a instituição destaca que a medida foi tomada, exclusivamente, devido à existência de uma suposta organização criminosa em seu quadro de alunos, que teria tentado fraudar o vestibular realizado em novembro de 2015.

Segundo o comunicado, há indícios de atuação fraudulenta do mesmo grupo no Enem e em vestibulares de outras universidades de Goiás e do Brasil. “A Universidade educa para formar bons médicos, éticos, honestos e sensíveis ás demandas dos mais necessitados, não para diplomar criminosos”, sentencia a nota.

No comunicado, a instituição também comenta as manifestações de alunos do curso de Medicina contra a suspensão do vestibular e diz que a insatisfação causa estranheza, uma vez que os mesmos estudantes “estiveram sentados e calados ao lado de colegas supostamente envolvidos na autoria ou que se beneficiaram de fraude”.

“Nunca se levantaram contra o acontecido em defesa de seu curso. Serão seus futuros colegas médicos. Contra eles, nunca levantaram publicamente nenhuma palavra de indignação ou, ao menos, de questionamento”, acrescenta.

A PUC informa, ainda, que há participação de pais de alunos no esquema. Conforme a universidade, há indícios de que pelo menos um pai de estudante do curso de Medicina liderava a associação criminosa, enquanto outros pais certamente participaram da tentativa de fraude comprando a aprovação dos filhos. (Confira AQUI o comunicado na íntegra)

Revolta

O estudantes de Medicina da PUC Goiás não receberam com bons olhos a notícia de que o vestibular estava suspenso. Para os estudantes, a não formação de uma nova turma quebra a dinâmica de todo o curso e acaba prejudicando quem já está na universidade. Em resposta ao cancelamento do vestibular e à nota da universidade, os alunos organizam um protesto na sede da faculdade de Medicina para esta sexta-feira (10/6).

O curso de medicina da PUC é dividido em módulos que representam cada semestre. A preocupação dos alunos é que, com a falta de uma turma, outros módulos sejam prejudicados. “A longo prazo, isso gera muitas complicações, pois lá na frente os módulos trabalham em conjunto, quando os alunos começam a atender em postos de saúde e hospitais. Daqui três anos, quando precisarmos de um interno do módulo 9 para atender a enfermaria, por exemplo, estaremos desfalcados”, relata uma estudante do 5º módulo.

Os alunos relatam, ainda, que o curso pode perder convênios com hospitais e postos de Saúde devido ao possível desfalque. “É menos campo de trabalho para os alunos, além de menor arrecadação para investimentos no curso”, explica a universitária.

Além disso, estudantes alegam que o primeiro módulo do curso é o que possui o maior número de professores e, a partir do momento em que ele deixa de existir, os docentes ficariam com a carga horária reduzida, o que poderia levar à saída de muitos deles.

Na nota divulgada pela PUC Goiás, a unidade responde às reivindicações dos alunos ao afirmar que já lidou com situações semelhantes e que é possível fazer remanejamentos e uma reformulação de matrizes curriculares para resolver as questões levantadas.

“Já lidamos com diversas situações semelhantes de criação e extinção de cursos, de oferta e suspensão de vagas, de realização ou suspensão de vestibulares. Isso está regulamentado pela legislação educacional no Brasil e pelas normas institucionais. Os quadros de equipes são especializadas e experientes, sabem como fazer remanejamentos, reformular matrizes curriculares e encaminhar as melhores soluções para as questões que se apresentam no cotidiano da gestão acadêmica”, argumenta a instituição.

Fraudes

Em novembro do ano passado, quatro alunos do curso de Medicina da PUC Goiás foram presos pela prática de crimes de associação criminosa e fraudes em certames de interesse público, com dano à administração pública. À época, investigações da Operação Gabarito, da Polícia Federal, levantaram indícios de que quatro estudantes de Medicina da instituição estariam envolvidos nas fraudes de vestibulares de instituições públicas e privadas em Goiás, Distrito Federal e em outros Estados.

Foram cumpridos quatro mandados de prisão temporária e quatro mandados de busca e apreensão em Goiânia. Os alunos encaminhados à polícia, agora, respondem ao processo em liberdade e suas atividades na universidade seguem normais.