“PSD tem autonomia e não é subordinado ao PSDB”
28 dezembro 2015 às 15h32
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Deputado estadual defende candidatura própria do partido em Goiânia, exalta independência dos poderes e, mesmo com a crise, faz balanço positivo de 2015
Alexandre Parrode e Augusto Diniz
O deputado estadual Lincoln Tejota é um dos grandes defensores da candidatura própria de seu partido, o PSD, em Goiânia. Com dois nomes fortes no páreo, os também deputados Francisco Jr. e Virmondes Cruvinel, há a possibilidade de uma chapa alternativa na base governista, ou seja, ao PSDB do governador Marconi Perillo.
Em uma longa conversa com o Jornal Opção, o filho do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Sebastião Tejota e da ex-deputada Betinha Tejota fez um balanço de 2015 na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego). Embora tenha havido calorosos debates (poucos protagonizados por ele próprio), Lincoln avalia 2015 como um ano positivo.
Em especial no que diz respeito à independência e força da Alego. Para ele, a presidência de Hélio de Sousa (DEM) está devolvendo o prestígio da Casa,
Suas expectativas para 2016 não são tão positivas. A crise política e econômica vai causar uma grande renovação por todo o Estado. Todos os prefeitos reelegíveis terão (muita) dificuldade.
Tivemos um ano difícil, de ajuste fiscal, no Estado e no Brasil, Assembleia sediou debates calorosos, mas a maioria em função da crise que o País passa. Como o senhor avalia o primeiro ano dessa nova legislatura?
Comparo com uma obra. Assim que você ocupa uma obra, um prédio, de cara começam a aparecer alguns rachados, porque a estrutura vai se assentando. Foi isso que aconteceu na Assembleia. Foram muitos novos deputados, o maior índice de renovação da Assembleia, mais de 52%, muitos que não tinham experiência no Parlamento. Mas, chegamos com um saldo positivo, projetos que foram aprovados, bons debates.
Mas, a crise existe. Algumas pessoas tentam pintar que não existe crise, que é discurso político, mas ela existe. Só observar o índice de desemprego, o desaquecimento do mercado. Eu sou empresário e sinto que a crise existe. Quando falamos de pouco recurso, crise financeira e a base nova, foi um ano de ajuste dentro da própria base. Começou difícil, mas terminamos mais coesos, unidos. Prova disso é que não teve nenhum projeto polêmico que não foi aprovado, ou que teve dificuldade.
Relação da Assembleia com o Palácio das Esmeraldas. Alguns deputados reclamaram da falta de recursos. O senhor teve problemas em viabilizar emendas?
Todo primeiro ano é difícil. Mesmo sendo continuidade de governo, é difícil. Muda-se estrutura de governo, mudam-se pessoas, muda-se secretariado. Para você ter ideia, em 2011, que foi o primeiro ano que eu fui deputado estadual, foi o mais difícil de ser deputado até hoje. Se depois que eu sobrevivi 2011, eu sobrevivo qualquer coisa.
Apesar de ter sido um ano de ajuste, não foi um ano difícil. Foi um ano que o governador deixou claro para os deputados para que eles focassem as emendas nas pastas que têm mais recursos. Educação, Saúde, que são as que o índice constitucional até obriga a gastar recursos, então acaba que além de ajudar o município, a região que você representa, você está ajudando o governo a atingir os índices constitucionais também.
Os deputados que fizeram isso, tiveram, claro que tem uma coisa ou outra que acaba não saindo, existem reclamações políticas, mas coisas que sempre aconteceu. Teve reclamação disso no passado, tem agora.
Isso faz parte, não é?
Sim! Cabe ao deputado saber cavar, costurar. Mesmo em momento de ajuste, vamos usar o exemplo da Agência Goiana de Habitação (Agehab): trabalhava com 30 milhões por mês de recurso. Hoje, com 3 milhões. Cabe ao deputado saber escolher o que é preferência, o que é prioritário dentro dos municípios que ele representa. Tem que saber cavar. Não dá para sair tudo. Estamos falando em um momento que o governo tem dificuldade de fechar folha de pagamento. Não adianta achar que vai pagar tudo de cara. Não está pagando aqui, não está pagando em nenhum Estado.
Como essas dificuldades são trabalhadas dentro da Assembleia?
Tem deputado que sabe trabalhar de forma mais clara, tem deputado que sobe na tribuna para reclamar. Vai muito da maturidade política de cada um. Converso muito com os deputados que têm minha idade mais ou menos e insisto que política tem altos e baixos. Tem hora que você está bem, tem horas que você está ruim. Você tem que ser constante. Tem que saber passar isso.
A dificuldade não é dos deputados, é da base. Eu tive muito dificuldade com a secretária de Dirietos Humanos Lêda Borges (PSDB), mas conversamos e resolvemos. Alguns deputados não entendem que o problema é que ela não tem orçamento. Os pedidos que chegam à secretária é Renda Cidadã, Jovem Aprendiz. São vereadores, prefeitos, do interior que fazem tais pedidos.
Muitos deputados da base se destacaram neste ano por subirem à Tribuna na defesa do governo. Alguns deputados acabaram sendo criticados porque não fizeram tal defesa do governo. Como o senhor avalia?
Eu defendo bastante o governo, mas penso que a principal defesa do governo é no dia a dia. Eu não sou deputado que sobe à tribuna para fazer grandes discursos. Eu acho que a defesa deve ser principalmente técnica. Então não adianta só defender porque eu acho o Marconi bom, ele é maravilhoso, tem cabelo castanho e tem olhos azuis. Não! É conseguir mostrar para a população que, mesmo com as adversidades, os frutos virão. Aconteceu isso em 2011. Governador assumiu o governo quebrado, com muita dificuldade, as estradas arrebentadas, funcionalismo sem receber, tudo desestruturado. Precisou fazer uma série de coisas, a gente [deputados] apanhando, apanhando, e tinha que defender tecnicamente. Porque, defender só porque eu gosto, porque eu sou base, porque eu sou afilhado de Marconi.
Não posso defendê-lo porque ele foi meu padrinho de casamento. Defendo porque eu acredito. Tem gente lá que está subindo usando defesa como ataque contra partido, deputado. Eu não concordo. Não existe partido político perfeito no Brasil. Ou você sabe o que está defendendo, ou vai falar besteira.
A oposição subiu muito à tribuna. Criticou, gritou, e sempre foi ovacionada pelas galerias. Foi o que marcou este ano também, não é?
É o papel da oposição. Para falar a verdade, a oposição desempenha um papel muito importante para quem está na base, principalmente para quem quer se destacar no papel da defesa. Hoje, temos uma oposição pequena, em tamanho, mas grande em qualidade. Temos deputados como Ernesto Roller (PMDB) que já foi secretário de Segurança Pública, conhece a estrutura do Estado, advogado, e sabe o que fala. Quando ele vem com argumentos, você tem que ter argumentos contrários, técnicos e contundentes para rebatê-lo. Não dá para ser de qualquer jeito.
Principalmente no momento que vivemos, em que a política está mudando, se não acompanharmos as mudanças, que vêm do povo, ficaremos para trás. Povo não quer só discurso, não quer só quem joga para a galeria.
Na verdade, quem vai para as galerias são sindicalistas, convidados por deputados da oposição. Vão lá para ovacionar a oposição e vaiar a base.
Falando em 2016, é normal deputados saírem candidatos a prefeito. No ano que vem teremos um alto número de prefeitáveis da Assembleia. Dentro do PSD, há uma disputa entre Virmondes Cruvinel e Francisco Jr à Prefeitura de Goiânia. Por que você prefere Francisco a Virmondes?
Nessa altura da Assembleia, ou é prefeito ou deputado federal, não tem mais deputado estadual. Todo mundo. Ou é candidato a prefeito, ou a federal. Eu me preparo para disputar candidatura a federal. Não é tentativa. Minha base sabe disso, meus prefeitos me apoiam.
Agora, sobre a situação dos dois, eu tenho uma história com Francisco Jr. Desenvolvemos um vínculo na última legislatura. Virmondes é um amigo, não tenho problemas com ele, mas política é feita de lado, você tem que ter posição. Pela amizade, história e convivência tomei o lado de Francisco Jr. Sem contar que ele tem um preparo incomparável, foi vereador, presidente da Câmara, secretário de Planejamento.
Mas, não tem problema com Virmondes?
Não! Se ele acabar sendo o candidato, se viabilizando, vamos trabalhar para ser ele o prefeito.
O PSD trabalha mesmo para ter candidato? Porque vemos que Vilmar Rocha [presidente estadual do partido] incentiva na mídia a candidatura, mas cadê o trabalho? Quem é esse candidato? Qual é essa coligação? Será que não vão virar vice do PSDB?
Há algum tempo tivemos uma reunião aqui no Panela Mágica e foi uma reclamação nossa. Estavam Thiago Peixoto [secretário de Planejamento de Goiás e deputado federal eleito], Vilmar Rocha, Francisco Jr., Virmondes e eu. Uma das coisas que brigamos foi isso. Quando converge em um só candidato, ganha-se musculatura mais rápido. Foi o que aconteceu com o Luiz Bittencourt: está na mídia, no centro dos debates, porque o PTB definiu que ele é o candidato. Se o PSDB tivesse definido o candidato do partido, teria tido a mesma reação. Existe um timing político e nossa preocupação é essa. Eu torço para que seja Francisco Jr.
Mas, ele tem voto?
Lógico! Foi eleito praticamente por Goiânia. O Virmondes teve mais votos que ele, mas temos que saber o momento político. Francisco Jr. pegou um momento muito desgastante. Mas não é isso que importa.
Vou te contar um episódio, fomos almoçar com o governador há um tempo e, quando descemos do carro, duas mulheres nos olharam e comentaram: “Olha! Aquele lá é o Francisco. É um cara bom”. Eu estava me preparando para ser candidato a prefeito, mas tenho que reconhecer que não sou conhecido desse jeito. Quero enganar quem? Eu não tenho um nome conhecido em Goiânia desse jeito. Eu tive 45 mil votos, mas 39 mil no interior do Estado. Represento 25 prefeitos, fora outras cidades que não tenho prefeito, mas fui o mais votado, que foram pelo menos umas dez mais. Sou apaixonado pelo interior, sou municipalista.
Qual a força que o PSD tem, dentro da base, para lançar candidato a prefeito?
O PSD tem muita força no governo.
Parece, pelos movimentos nos bastidores, que o PSD virou “linha auxiliar” do PSDB. Já se comenta até que se preparam para ser vice de Giuseppe Vecci ou de Jayme Rincón.
De fato, Virmondes quer participar da composição, seja como candidato a prefeito, seja como vice-prefeito. Isso é uma postura dele. Francisco Jr. não. Ele não está pronto para ser vice-prefeito, vai para ser prefeito. Tem declarado que, se for para ser vice, ele não vai. O projeto é ser prefeito de Goiânia.
Muita gente fala que, se o governador falar para não sair, o PSD não sairá. Por mais que a gente esteja junto, não é assim. O projeto de qualquer partido é estar no poder. Falo que nós somos primos primeiro, mas não quer dizer que um manda no outro. Tanto que temos diversas alianças no interior que são divergentes. Vamos compor com PMDB, com DEM. Se não ganhar agora, ganhamos depois. Temos que disputar, senão viramos o PMDB nacional. Por que o PMDB nacional não lança candidato? Porque qualquer um que estiver no poder eles querem fazer parte. O PSD tem autonomia e não é subordinado ao PSDB.
Como está a montagem da chapa de vereadores? Há um nome forte, que é o de Valério Luiz Filho.
Sim. Ele é um coringa. Pode arrebentar de votos como o avô [deputado estadual Mané de Oliveira (PSDB)], ou não. Vai depender do momento. É preciso ressaltar que a eleição de vereador é a eleição mais difícil. É a que mais tem compra de votos. Não dá para aplicar eleições de deputado estadual e federal à municipal.
Falando nisso… Como o sr. avalia a possível candidatura de Jorge Kajuru (PRP) a vereador?
Sempre há essas figuras políticas, como o Tiririca (PR), em SP, o Romário (PSB-RJ). Alguns se destacam quando estão no mandato, realizando um bom trabalho. E tem aqueles que são eleitos apenas pelo nome. Não conheço Jorge Kajuru, não conheço o grande trabalho que ele tenha realizado por Goiânia. Mas, se for candidato, existe a grande chance de vencer. São votos de protesto. Pessoas que falam o que muita gente gostaria de ouvir, mas, quando senta na cadeira, não dá conta de construir porque ninguém faz nada sozinho. Não adianta querer ser estrela.
Acredita que haverá renovação na Câmara, como houve na Assembleia?
Acredito que sim.
Quais deputados o sr. destacaria a atuação em 2015?
Da oposição, a séria atuação de Luis Cesar Bueno (PT). Respeitoso, incisivo e questionador. Não se Marconi está de terno, de camisa cavada… Não, não. Ele quer saber se as ações são boas, legitimas, legais.
Da base, são muitos, mas destaco a atuação do presidente Hélio de Sousa (DEM). Ele tem resgatado a credibilidade do Poder Legislativo. Tenho que reconhecer o esforço de Hélio, pois é muito diferente ser presidente da Casa agora que da época em que meu pai [conselheiro do TCE Sebastião Tejota] foi. Não havia essa descrença que existe hoje. O deputado valia muito mais para a população. A população está fazendo o papel dela, que é pagar caros impostos, quem não está fazendo sua parte somos nós governantes. A sociedade não acredita em mais nada. Por isso que acredito que, querendo ou não, existe chance de grande renovação em 2016.
Hélio tem buscado saciar esse desejo da população. Batalha por uma Assembleia mais transparente, correta. Colocou o ponto eletrônico, que causou chateação em alguns deputados e culminou em alguns escândalos nacionais. Se ele não tivesse tomado algumas ações, nada disso teria acontecido.
Sua esposa, Priscilla Tejota, pode concorrer à Câmara Municipal de Goiânia. Como o sr. vê essa possível candidatura?
Ela sempre teve sonho de ser vereadora. Apesar de não vir de uma família política, ela faz política muito mais que eu. Há espaço para mulheres sérias. Cito bons exemplos, senadora Lúcia Vânia (PSB) e deputada federal Flávia Morais (PDT), que foram candidatas incentivadas por seus maridos, mas acabaram deslanchando, se mostrando extremamente competentes. Eu não sou de matar o sonho de ninguém. Já briguei com ela por causa disso, porque não a quero na política. Mas, hoje, nosso grupo tem buscado nomes fortes para construir nossa base.
Como está o cenário das prefeituras para 2016?
Com certeza será o menor índice de reeleição da história. Todos os atuais prefeitos pegaram uma crise e a população não consegue ainda atribuir determinadas dificuldades administrativas à crise. Acham que é incapacidade, mas com muitos deles não é. O governo federal tem dificuldade em fazer os repasses voluntários e o resultado é municípios que mal tem condições de fechar a folha, quem dirá comprar uma ambulância, por exemplo.
É preciso uma reforma e aplicação efetiva do Pacto Federativo. Se continuar como está, entra prefeito, sai prefeito e a situação não muda. O governador Marconi é parceiro, sem dúvidas. Durante os 16 anos de governo, ele manda recursos para asfalto, por exemplo, que não é obrigação do governo estadual. Mas, a prefeitura não tem recurso.
E em 2018? Quais suas apostas?
Está muito longe para falar. No entanto, por enquanto, todo mundo é “japonês”. O vice-governador, José Eliton (PSDB), está se destacando porque o governador tem apostado a ele, tem dado “caneta” a ele. Eu particularmente já consegui benefícios com ele, quando em exercício.
É um nome interessante para a base?
É o único nome. Quem é o outro?
Thiago Peixoto não?
Não. Ele já se mostrou interessado? Primeiro tem que sair dele. É interessante o nome, mas não podemos deixar de reconhecer que Eliton tem a “caneta” e vai ser governador. Qualquer projeto que Marconi tiver em 2018, ele terá que deixar o governo. É muito difícil concorrer com a “caneta”.