*Colaborou Marcos Nunes Carreiro 

Petista e demais autoridades participaram de evento de lançamento de 855 quilômetros da ferrovia, que deve entrar em operação em 2015. Governador teceu elogios à presidente, que por sua vez acabou por fazer críticas veladas às gestões que antecederam os governos do PT

Presidente Dilma Rousseff acompanhada do ministro do Transporte César Borges, e o pré-candidato ao governo pelo PT, Antônio Gomide, chegaram ao local em uma das locomotivas | Foto: Equipe Marconi (Twitter)
Presidente Dilma Rousseff acompanhada do ministro do Transporte, César Borges, do pré-candidato ao governo pelo PT, Antônio Gomide,  e do deputado federal Rubens Otoni chegaram ao local em uma das locomotivas | Foto: Equipe Marconi (Twitter)

O evento com a presença da presidente Dilma Rousseff (PT) para inauguração do trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Anápolis e Palmas, capital do Tocantins, previsto para começar às 9h30, começou por volta das 11h no Porto Seco do Centro-Oeste S/A. A solenidade foi antecedida por protesto de cerca de 400 membros da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Goiás (FemGoiás) que cobram celeridade na conclusão das obras da BR-060/153. O trânsito nas proximidades do Distrito Agroindustrial de Anápolis de Anápolis (Daia) ficou travado das 5h e às 8h30.

A petista, o ministro dos Transportes, César Borges, e o pré-candidato ao governo pelo PT, Antônio Gomide, chegaram ao local em uma das locomotivas. Eles chegaram pelo túnel 2, abaixo da BR-060. Esta é a segunda vez que Dilma vem a Goiás para tratar sobre a ferrovia Norte-Sul. Em 15 de março de 2012 a petista vistoriou obras deste mesmo trecho inaugurado hoje.

Ao discursar, o governador Marconi Perillo (PSDB) elogiou a gestão de Antônio Gomide à frente de Anápolis, tendo afirmado também que como governador sempre ajudou o município. O tucano lembrou que há 27 anos estava em Porangatu para inaugurar a pedra fundamental da ferrovia ao lado de Henrique Santillo (então governador de Goiás) e José Sarney (então presidente da República). “Se eu não for mais nada na vida, já fico feliz de ter presenciado essa importante obra e ter ajudado nela”, discursou o governador.

Dirigindo-se à Dilma, Marconi disse: “Presidente, a senhora inaugura hoje a mais importante obra da história recente de Goiás.” O tucano agradeceu ainda a dedicação da petista, conforme acentuou, por estar em Goiás em duas ocasiões “em menos de 24 horas”. Assim como no lançamento do 86º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), Marconi Perillo teceu elogios a Dilma Rousseff no sentido de a presidente ser republicana. “A senhora, presidente Dilma, sempre teve meu profundo respeito.” O governador disse seguir o exemplo da petista, “sempre buscando parcerias com as prefeituras goianas.”

Antônio Gomide foi ovacionado pelos presentes na solenidade, bem como seu irmão, o deputado federal Rubens Otoni (PT), e o atual prefeito, o também petista João Gomes. Todos os deputados estaduais petistas estavam presentes: Karlos Cabral, Humberto Aidar, Luiz Cesar Bueno e Mauro Rubem.

Críticas

Por volta das 11h35 a presidente Dilma Rousseff começou seu discurso, lembrando-se da Copa do Mundo, que se inicia em um mês. Sobre o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, a petista referiu-se a Luiz Inácio Lula da Silva “como querido presidente” e ressaltou se tratar do primeiro programa no país, iniciado em 2007, “planejado e concebido para recuperar o tempo perdido dos investimentos em infraestrutura”.

A presidente fez críticas veladas ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e às outras que antecederam a era petista quando disse que antes da gestão de Lula e do início do PAC, houve muita dificuldade porque “no período anterior não havia uma prateleira” na qual se encontrasse “um projeto pronto e licitado”. “Tinha-se que começar do nada”, emendou Dilma.

Em seguida a presidente exaltou o senador José Sarney (PMDB), presidente do país à época de início das obras da Ferrovia Norte-Sul. “E aqui eu quero fazer justiça a outro presidente da nossa República, o atual senador José Sarney, que abriu um projeto muito importante, a concepção da Ferrovia Norte-Sul”.

Dilma disse que não foi dada a devida sequência pelas gestões anteriores, com “investimentos marginais”. “Não só os projetos não foram continuados, como não tinha nenhuma proposta concreta que chegasse até aqui, Anápolis, porque era até aonde a ferrovia ia”, criticou, emendando que foi o PT que retomou a iniciativa de 27 anos atrás. “E nós atualizamos a visão da Ferrovia Norte-Sul, percebendo que o Brasil tinha que ter uma coluna vertebral que seria a ferrovia das ferrovias, que cortaria o Brasil de Norte a Sul, e levaria nosso país a superar esse atraso inexplicável”.

Em seguida a presidente afirmou que com a Norte-Sul, “Goiás será, mais do que nunca, um polo logístico”, tendo dito que a inauguração do trecho que corta Anápolis também é para ela “um dia histórico.”

A Ferrovia

A Ferrovia Norte-Sul, no trecho inaugurado nesta quinta-feira, que possui 855 quilômetros, perpassa por 24 municípios goianos. A parte relativa ao PAC estava orçada em R$ 4,28 bilhões, mas foi aumentada em quase R$ 500 milhões ao longo dos anos. A ferrovia ainda não possui operador e só funcionará efetivamente em 2015. Da capital do Tocantins a Açailândia, a Norte-Sul é operada pela empresa Vale.

Dentre os impasses e polêmicas que marcaram o andamento das obras estão suspeitas de superfaturamento levantadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e a deflagração em julho de 2012 da operação Trem Pagador, desencadeada pelo Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) e a Polícia Federal.

Nela, foram presos temporariamente o ex-presidente da empresa pública Valec Engenharia Construções e Ferrovias S.A José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha das Neves; de sua esposa, Marivone Ferreira das Neves; de Jader Ferreira das Neves, um dos filhos do casal; e o sócio Marcelo Araújo Cascão. A suspeita de superfaturamento foi reforçada após a polícia verificar que a renda de Juquinha das Neves não conferia com os bens que ele possuía em seu nome, já que sua declaração de bens alcançava o montante dos R$ 18 milhões, valor muito acima do declarado 14 anos antes (R$ 560 mil), em 1998.