“Propina era disfarçada de doação política oficial”, diz Joesley Batista

19 maio 2017 às 16h18

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Dono da JBS disse em delação que a maior parte dos repasses foi feita nos último cinco anos e montante de pagamentos ao longo dos anos foi de cerca de R$ 400 milhões

O Grupo JBS calcula que repassou cerca de R$ 400 milhões em propina a políticos nos últimos anos. Em depoimento de delação premiada, o dono da empresa Joesley Batista explicou que os repasses ilícitos ocorreram ao longo dos últimos 15 anos, mas que a maior parte dos pagamentos se deu nos últimos 5 anos.
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A afirmação do empresário está em um dos vídeos dos depoimentos à Procuradorai-Geral da República, tornados públicos nesta sexta-feira (19/5) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Os ilícitos achados na nossa investigação interna e do sabido por nós que, inclusive vários dos ilícitos foram cometidos pela alta direção, nascem com políticos: senadores, deputados, presidente da República”, afirmou Joesley.
Segundo ele, mesmo nos casos de doações oficiais, a maior parte do dinheiro era “propina disfarçada de doação política”.
“Tem pagamento via oficial, caixa 1, via campanha política, tem via caixa 2, tem via dinheiro em espécie. Basicamente essa é a forma de pagar. Normalmente acontece o seguinte: se combina o ilícito, se combina o ato de corrupção com o político, com o dirigente do poder público, e daí pra frente se procede o pagamento. Os pagamentos são feitos das mais diversas maneiras. Seja nota fiscal fria, seja dinheiro, caixa 2, até mesmo doação política oficial”, afirma o empresário.
Quando questionado sobre qual seria o montante total da propina paga a políticos pela JBS nos últimos anos.
“Nós fizemos doação oficial de uns R$ 400 milhões e pagamos mais uns R$ 100 milhões de nota fiscal fria. Dos R$ 500 milhões então, total, pode se considerar que, dos R$ 500 milhões, R$ 400 milhões foram contrapartida a ajustes ilícitos feitos pelos políticos. Naquela hora, pagamos”, reconheceu Batista.
Apoio a 28 partidos
Em um dos depoimentos que prestou ao Ministério Público Federal (MPF), com quem firmou acordo de delação premiada já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o diretor de Relações Institucionais e Governo da J&F, Ricardo Saud, entregou um levantamento detalhado em que aponta todos os candidatos financiados pela empresa.
De acordo com Saud, o total em dinheiro repassado por meio de “pagamentos dissimulados” alimentou as campanhas de 1.829 candidatos. Destes, 179 se elegeram deputados estaduais em 23 unidades da federação e 167, deputados federais por 19 partidos.
O delator não deixa claro quais pagamentos foram feitos via caixa 2 e quais foram doações oficiais. No depoimento, divulgado após a retirada do sigilo da delação, ele dá a entender que os valores citados se referem apenas às campanhas de 2014. Em outro depoimento, o dono da JBS, Joesley Batista, também afirmou que a maioria das doações feitas pela empresa tratava-se de propina disfarçada por contrapartidas recebidas.
“Doamos propina a 28 partidos”, contou Saud, admitindo que os mais de R$ 500 milhões destinados a agentes públicos para as eleições de 2014 formavam um “reservatório de boa vontade”. “Era para que eles não atrapalhassem a gente”, afirmou.
O delator cita ainda que foram distribuídas “propina para 16 governadores eleitos e para 28 candidatos ao Senado que disputavam a eleição, a reeleição ou a eleição para governador”, acrescentou. Segundo ele, os governadores eleitos pertenciam ao PMDB (4), PSDB (4), PT (3), PSB (3), PP (1) e PSD (1).
Ao entregar a documentação aos procuradores, Saud enfatizou a importância do “estudo” que fez por sua própria conta. “Acho que, no futuro, isso aqui vai servir. Aqui estão todas as pessoas que direta ou indiretamente receberam propina da gente.” Os documentos liberados pelo STF não trazem a lista de todos os nomes que fariam parte deste levantamento aponta por Saud.