Professor explica diferenças entre testagem em massa e testagem para inquérito da Covid-19
19 julho 2020 às 15h10
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De acordo com João Bosco Siqueira Júnior, embora tanto a testagem em massa quanto o inquérito possam surtir efeitos positivos no combate à pandemia, não significa que são suficientes para remediar os impactos do comércio aberto
O professor da Universidade Federal de Goiás, João Bosco Siqueira Júnior, que médico epidemiologista e acompanha os inquéritos realizados pela Prefeitura de Goiânia para medir a contaminação pela Covid-19 na população explicou ao Jornal Opção qual a diferença entre a testagem realizada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a testagem em massa proposta pelo Governo do Estado em 78 municípios goianos com maior incidência de contaminação.
“Toda a ideia de testagem em massa é diminuir a transmissão”, afirmou o professor sobre a intenção do governo estadual ao anunciar a parceria com a Fiocruz. “Identificar pessoas que tenham a doença, identificar contactantes dessas pessoas que podem estar com Covid mas que não tenham o diagnóstico para impedir que outras pessoas adoeçam ao ter contato com elas. Queremos identificar o máximo possível de pessoas que estão transmitindo para diminuir as fontes de infecção”, explicou.
Inquérito
No entanto, a lógica utilizada na testagem realizada para inquérito no município de Goiânia, pela Prefeitura, é bastante diferente. “Os inquéritos são feitos com testes rápidos para a detecção de anticorpos. Esse tipo de iniciativa não previne que novos casos aconteçam”, afirma.
“Se o inquérito foi feito no sábado, 11, ele estará se referindo ao que já havia acontecido há dez ou quinze dias antes, que é o que a pessoa precisa para desenvolver anticorpos”, informou. “Temos um sistema de vigilância da Covid que está em funcionamento desde o momento que começou a transmissão. O que nunca foi possível fazer? Saber se esse sistema está realmente enxergando o que está acontecendo. A partir do momento que se tem os inquéritos, você tem um retrato do que realmente aconteceu. E aí você vai poder comparar o que a Vigilância registrou de dados com o que realmente aconteceu.”
Ele explica que os locais que tiveram surtos em áreas com grande quantidade de pessoas foram grandes exportadores de casos. “Parece que é o que ocorreu em Rio Verde, em Anápolis, Goiânia no Ceasa”, disse. “Se a Vigilância conseguir enxergar o que realmente aconteceu, a gente vai poder fazer essa estratégia de testagem em massa em tempo real aonde está acontecendo a transmissão mesmo”, conta.
“Por exemplo, se ocorreram mais casos na região sul de Goiânia, o que aconteceu de diferente nessa semana na região? Abriu o comércio? Surto em uma feira? Surto em um local com muita gente? Então a gente consegue identificar isso em tempo real, identificar quem está potencialmente transmitindo e isolar essas pessoas e impedir que mais pessoas adoeçam depois”, explica.
Reabertura das atividades econômicas
De acordo com ele, embora tanto a testagem em massa quanto o inquérito possam surtir efeitos positivos no combate à pandemia, não significa que são suficientes para remediar os impactos do comércio aberto.
“Não vimos nenhum lugar que abriu tudo em um momento de franco crescimento da pandemia. Isso é o contrário do que todo mundo fez. Alguns locais fecharam mais tarde, quando já estavam fora de controle. Foi o que aconteceu na Itália e em Nova Iorque, mas eles ficaram fechados 45 dias, a transmissão diminuiu de forma impactante”, explica.
“Claro que esses 45 dias foram muito difíceis, com o pior que pode existir nesse cenário de epidemia. Nós não chegamos nisso ainda, que é as pessoas escolherem quem vai para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e quem não vai. Ou seja, quem vai morrer ou não. Não chegamos nisso ainda e queremos impedir. Deveríamos estar abrindo agora? Claramente que não. Está em um cenário de transmissão crescente”, afirmou.