Professor da rede municipal vai a Índia buscar métodos inovadores para alunos de Goiânia
21 janeiro 2018 às 16h05

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Com recursos próprios, Cléssio Bastos desenvolve projetos de interatividade e tecnologia com estudantes da zona rural da capital

Se sentindo frustrado com a falta de interesse dos alunos e as dificuldades do ensino público, o professor da rede municipal de educação de Goiânia, Cléssio Bastos, buscou iniciativas inovadoras para aumentar o desempenho e a participação de seus estudantes.
Bastos dá aulas de Língua Portuguesa e Inglesa para crianças de 9 a 14 anos em uma escola rural 25km distante do centro da cidade, a Escola Municipal de Tempo Integral José Carlos Pimenta.
“Logo em início de carreira já me sentia muito insatisfeito, não via resultados que esperava. Então resolvi criar meus próprios projetos, a princípio tirando do meu próprio bolso e depois fui encontrando parcerias ao longo do caminho”, explicou.
Neste período de férias escolares, Bastos está na Índia, onde participa de workshop para professores do mundo todo na The Riverside School, escola da cidade de Ahmedabad. O diferencial desta escola, que atrai educadores do mundo todo, é a metodologia inspirada no Design Thinking, que promove a resolução de problemas de forma colaborativa e criativa.
Durante 30 dias, ele está vivenciando o cotidiano dos alunos que estão acostumados a aulas no pátio da escola, muitas vezes com professores de mais de uma disciplina simultaneamente, trabalhando em atividades que tenham impacto real na comunidade em que vivem. As principais partes dessa experiência ele compartilha em posts no blog que mantem atualizado e nas redes sociais do projeto.
“Essa não é a proposta institucional da escola onde leciono, mas o professor tem autonomia para desenvolver os próprios projetos e, de certa maneira já o faço com meus alunos”, explica Bastos, que pretende expandir as experiências extra-classe com os alunos.
“A abordagem que tento trabalhar é uma pedagogia voltada para desenvolver a pessoa integralmente, estimulando outras habilidades além das disciplinas tradicionais, como ter foco, ser persistente, tem concentração, ser um bom cidadão, cuidar das outras pessoas, do meio ambiente, etc”, explicou.
Cotidiano e resultados
Segundo o professor, os alunos da José Carlos Pimenta já estão acostumados com os projetos diferentes que ele traz para a sala de aula.
Entre as ações já promovidas com sucesso estão a venda de rifas para arrecadação de dinheiro para Campanha “A cada um dólar uma criança na escola” da jovem paquistanesa Malala.
Eles também colaboraram para a divulgação de financiamento coletivo pela internet para a compra de livros e ainda realizaram campanha para compra de kits escolares para crianças em Luanda, na Angola.
“Com todas essas iniciativas, comecei a dar palestras e participar de eventos e tudo que ganho com isso reinvisto no projeto. Hoje já não preciso mais tirar do meu salário”, explica o professor. Bastos também é adepto da tecnologia na hora das aulas de inglês. Ao menos uma vez por semana os alunos participam de videoconferência com alguém de alguma parte do mundo.
“Hoje os alunos entendem que a aula não é só quadro. No início, não tinham muito interesse, mas a internet é imprescindível para que eles percebam a diferença que estão fazendo. Quando veem a repercussão dos projetos, eles se sentem motivados e hoje a adesão é de 100%, além do envolvimento cada vez maior dos pais e da comunidade” relatou.
Para Bastos, o resultado de tudo isso vai além das notas no boletim. “Temos resposta substancial, resultados concretos em casos de alunos que não liam nem escreviam, ou que não argumentavam oralmente e hoje já o fazem. Mas creio que a principal mudança é na postura em sala de aula. Antes, tínhamos alunos que queriam simplesmente copiar. Hoje são estudantes que se interessam, são mais críticos, questionam e participam de maneira ativa, e claro que tudo isso se reflete nas notas”, arrematou.