Tradição dos farricocos, de origem espanhola, é considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco 

Conhecidos como farricocos, devotos participam da Procissão do Fogaréu na Cidade de Goiás. A cerimônia simboliza a prisão de Cristo e os fiéis encapuzados representam os soldados romanos | Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Conhecidos como farricocos, devotos participam da Procissão do Fogaréu na Cidade de Goiás. A cerimônia simboliza a prisão de Cristo e os fiéis encapuzados representam os soldados romanos | Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Na virada da quarta-feira de trevas (23) para esta quinta-feira santa (24), o toque da fanfarra deixou todos em alerta na Cidade de Goiás: teve início, à meia-noite, a Procissão do Fogaréu. As luzes da cidade se apagaram e deram lugar às tochas, que iluminaram um verdadeiro espetáculo ao ar livre.

Quarenta farricocos, personagens vestidos de túnicas coloridas e capuzes pontiagudos, representando soldados romanos, concentraram-se em frente à Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, na praça principal da cidade. Acompanhados pela multidão, eles partiram à procura de Jesus Cristo.

Com os pés descalços nas ruas de pedra, os farricocos seguiram para a escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que simboliza o local onde estaria sendo realizada a última ceia, mas Jesus não estava mais lá.

Os fiéis então marcharam em direção à Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras descrito na Bíblia. No local, ao som de um clarim, foi decretada a prisão de Jesus, representada por um estandarte de linho pintado pelo artista plástico Veiga Valle.

A Procissão do Fogaréu é feita desde 1745 na Cidade de Goiás. Para quem assistiu pela primeira vez, como a professora aposentada Leila Faria de Souza, que mora em Goiânia, o evento foi uma grata surpresa. “Eu adorei. Nasci em Minas Gerais, tenho 37 anos de Goiás e por todo esse tempo eu quis participar. Felizmente, consegui vir este ano”, comemorou.

O professor de história José Otávio de Arruda veio de João Pessoa (PB) e ficou impressionado com as encenações. “Fui atraído pela manifestação de fé e de sentimento coletivo que a Procissão do Fogaréu representa, e pretendo voltar outras vezes”.

O funcionário público João Conceição da Silva, que faz o papel de farricoco há 32 anos, disse que sente a mesma emoção a cada vez que participa. “É muita emoção, fico arrepiado quando participo deste momento”, afirmou.

O evento histórico na cidade, de arquitetura colonial e considerada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), atrai pessoas de vários lugares do Brasil.

A tradição, que nasceu na Espanha e em Portugal, foi levada a Cidade de Goiás pelo padre espanhol João Perestelo Espíndola. O ritual representava penitência e condenação pública de pecadores, e depois se transformou em uma festa que lembra a prisão de Cristo.
De acordo com a Secretaria de Cultura, a Procissão do Fogaréu é um dos eventos que mais movimentam a economia e o turismo na cidade, atrás apenas do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental.